Agricultura sintrópica

Agricultura sintrópica é o termo designado a um sistema agroflorestal (SAF) baseado no conceito de sintropia - principio contrário ao de entropia - caracterizado pela organização, integração, equilíbrio e preservação de energia no ambiente.[1]

Esta vertente agrícola busca inspiração na dinâmica natural dos ecossistemas virgens – que não sofreram interferência humana – para um manejo sustentável e foi idealizada e difundida por Ernst Götsch, agricultor e pesquisador suíço, nascido em Raperwilsen, em 1948. Enquanto trabalhava com pesquisa em melhoramento genético na instituição Zurique-Reckenholz, Ernst começou a se questionar se não era mais sensato melhorar as condições de vida das plantas, ao invés de alterá-las geneticamente de modo que estas sobrevivam à escassez de nutrientes e boas condições climáticas aos quais são submetidas nas monoculturas. Assim começou a redirecionar o seu trabalho para o desenvolvimento de uma agricultura sustentável. Chegou ao Brasil em 1982 e em 1984 adquiriu a então Fazenda “Fugidos da Terra Seca”, localizada em Piraí do Norte/BA, hoje conhecida como Fazenda Olhos d’Água, devido à quantidade de nascentes que foram recuperadas graças ao trabalho sintrópico desenvolvido.[2][3]

Neste modelo de SAF, as plantas são cultivadas em consórcio e dispostas em linhas paralelas, intercalando sempre espécies de portes e características diferentes, visando o aproveitamento máximo do terreno, e levando em consideração a manutenção e reintrodução das espécies nativas. O ciclo temporal dos consórcios provou-se também fator fundamental para o bom funcionamento deste SAF, assim como a compreensão do mecanismo de sucessão ecológica em uma floresta não manipulada.[4]

A ideia geral deste manejo é justamente acelerar o processo de sucessão natural, e para tal usam-se principalmente duas técnicas: a capina seletiva, removendo plantas pioneiras nativas (gramíneas, herbáceas e trepadeiras) quando maduras, e a poda de árvores e arbustos, distribuindo em seguida sobre o solo como mulch, proporcionando maior disponibilidade de nutrientes ao solo. As partes removidas das plantas que não são comercializáveis, retornam ao solo com o intuito de adubá-lo e funcionam como uma injeção de NPK natural. Faz-se, portanto, imprescindível o conhecimento e uso adequado dos instrumentos de poda para um bom desenvolvimento da vegetação.[5][6]

O uso de controladores químicos como inseticidas e herbicidas não é praticado, assim como o uso contínuo de fertilizantes químicos ou mesmo orgânicos que não sejam originários da própria área cultivada. Os insetos e organismos vivos que povoam as áreas sintrópicas não são vistos como inimigos do plantio, mas como sinalizadores de deficiências no sistema, e ajudam o produtor a compreender as necessidades ou falhas daquele cultivo.[7]

Este método permite a recuperação de pastos abandonados, cujos solos sofreram degradação, em um curto período, transformando os mesmos em sistemas altamente produtivos. Em uma cultura tradicional, ou monocultura, à medida que o ciclo de plantação e colheita acontece, o solo vai se degradando e perdendo seus nutrientes. Já no modelo sintrópico acontece o contrário, à medida que os ciclos de plantio ocorrem, há um enriquecimento do solo, devido à disponibilidade de matéria orgânica remanescente das colheitas.[8]

Todos estes processos tendem a gerar modificações positivas no ecossistema, como o aumento da biodiversidade, melhoria da estrutura edáfica, maior retenção de nutrientes no solo, modificações no microclima, como o aumento da umidade relativa, e o favorecimento do ciclo da água.[carece de fontes?]

O modelo também se mostrou economicamente viável. A produção demanda um baixo investimento, já que exige um mínimo de irrigação e não utiliza produtos químicos na sua manutenção. O consórcio de diversos tipos de espécies, entre frutíferas e hortaliças, com diversos tempos de colheita diferentes, beneficia o agricultor que permanece retirando uma fonte de renda da terra constantemente. Além do fato de que, os produtos oriundos são orgânicos, o que valoriza seus preços no mercado.[carece de fontes?]

Referências

  1. MONTE, André Luis Zanela. Sintropia em agroecossistemas: subsídios para uma análise bioeconômica. 2013. 121 f., il. Dissertação (Mestrado Profissional em Desenvolvimento Sustentável)—Universidade de Brasília, Brasília, 2013.
  2. [1]
  3. Reportagem exibida pelo programa Globo Rural, em Agosto, 2017.
  4. PENEIREIRO, Fabiana Mongeli. Sistemas agroflorestais dirigidos pela sucessão natural: Um estudo de caso. Dissertação (Mestrado em Ciências Florestais) para a Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz"/ Universidade de São Paulo. Piracicaba, 1999.
  5. GÖTSCH, E. Homem e Natureza: Cultura na Agricultura. Recife: Centro Sabiá, 1995.
  6. VAZ DA SILVA, Patricia Pereira. Sistemas agroflorestais para recuperação de matas ciliares em Piracicaba, SP. 2002. Dissertação (Mestrado em Ciências Florestais) - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2002. doi:10.11606/D.11.2002.tde-17092002-135029. Acesso em: 2017-08-17.
  7. Reportagem exibida pelo programa Globo Rural, @ª parte, em Agosto, 2017.
  8. IRINEU, Nádia Silvério Oliveira. Dimensões da agroecologia na produção e comercialização de agricultores familiares no Distrito Federal e Entorno. 2016. xi, 96 f., il. Dissertação (Mestrado em Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural)—Universidade de Brasília, Brasília, 2016.
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