Auto de fé de Barcelona

Parte da série sobre
Espiritismo
Cepa de vinha, símbolo do Espiritismo
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Auto de de Barcelona foi uma expressão notabilizada por Allan Kardec para se referir à queima, em praça pública, de trezentos livros espíritas, realizada no dia 9 de outubro de 1861 em Barcelona, Espanha.[1] Foi utilizada pela primeira vez no subtítulo do artigo "O resto da Idade Média", publicado em novembro daquele ano na "Revue Spirite".

História

Maurice Lachâtre, editor francês, achava-se estabelecido em Barcelona com uma livraria, quando solicitou a Kardec, seu compatriota, em Paris, uma partida de livros espíritas, para vendê-los na Espanha.

Quando os livros chegaram ao país, foram apreendidos na alfândega, por ordem do Bispo de Barcelona, Antonio Palau Termes (1857–1862), sob a alegação de que "A Igreja católica é universal, e os livros, sendo contrários à católica, o governo não pode consentir que eles vão perverter a moral e a religião de outros países".[2] O mesmo eclesiástico recusou-se a reexportar as obras apreendidas, condenando-as à destruição pelo fogo.

O "auto de fé" ocorreu na esplanada de Barcelona[1], às 10h30 da manhã. Conforme lista oficial transcrita na "Revue Spirite", foram queimados os seguintes títulos:

  • "Revue Spirite", dirigida por Allan Kardec;
  • "A Revista Espiritualista", dirigida por Piérard;
  • "O Livro dos Espíritos", por Allan Kardec;
  • "O Livro dos Médiuns", por Allan Kardec;
  • "O que é o Espiritismo?", por Allan Kardec;
  • "Fragmento de sonata", atribuído ao Espírito de Mozart;
  • "Carta de um católico sobre o Espiritismo", pelo doutor Grand;
  • "A História de Jeanne d'Arc", atribuído a Joana d'Arc pela médium Ermance Dufaux;
  • "A realidade dos Espíritos demonstrada pela escrita direta", pelo barão de Guldenstubbé.

A mesma fonte informa terem assistido ao evento:

  • um padre, com as roupas sacerdotais, trazendo a cruz numa mão e a tocha na outra;
  • um notário encarregado de redigir a ata do auto de fé;
  • o escrevente do notário;
  • um funcionário superior da administração da alfândega;
  • três serventes da alfândega, encarregados de manter o fogo;
  • um agente da alfândega representando o proprietário das obras condenadas pelo bispo; e
  • uma multidão, que vaiava o religioso e seus auxiliares aos gritos de "Abaixo a inquisição!"

O evento causou viva impressão por meio da imprensa de todo o mundo à época, evocando as antigas fogueiras do Santo Ofício, chamando a atenção para as obras espíritas.

Kardec, em decorrência deste episódio, comentou:

"Graças a esse zelo imprudente, todo o mundo, em Espanha, vai ouvir falar do Espiritismo e quererá saber o que é; é tudo o que desejamos. Podem-se queimar os livros, mas não se queimam as ideias; as chamas das fogueiras as super-excitam em lugar de abafá-las. As ideias, aliás, estão no ar, e não há Pirenéus bastante altos para detê-las; e quando uma ideia é grande e generosa, ela encontra milhares de peitos prontos para aspirá-la."[2]

Ver também

Referências

  1. a b DENIS, Léon (2022) [1903]. No Invisível: espiritismo e mediunidade 26ª ed. ed. Brasília: FEB. p. 357. ISBN 978-85-7328-859-9  !CS1 manut: Texto extra (link)
  2. a b KARDEC, Allan. "O resto da Idade Média", in "Revue Spirite", novembro de 1861.(Disponível em Espírito.org)