Caso Cláudia

 Nota: Este artigo é sobre a ocorrência policial. Para o filme, veja O Caso Cláudia.

O Caso Cláudia refere-se a um crime ocorrido em 1977, no Rio de Janeiro - o assassinato da jovem Cláudia Lessin Rodrigues, de 21 anos, na casa de Michel Frank, milionário suíço-brasileiro supostamente envolvido com o tráfico de drogas. Acusado do crime, Michel fugiu para a Suíça, onde foi morto a tiros em 1989, sem nunca ter sido julgado.[1][2]

O caso

Uma dor de dente horrível não deixava o operário Luiz Gonzaga de Oliveira dormir direito na noite de 24 para 25 de julho de 1977. Instalado num barraco da Tecnosolo, firma para a qual trabalhava, na Avenida Niemeyer, na altura de um local conhecido por Chapéu dos Pescadores, Rio de Janeiro, ao lado de três colegas, ele foi o único a escutar barulho estranho nas proximidades, fora do barraco, por volta de meia-noite.

Por uma fresta na parede do barraco, vislumbrou uma Brasília estacionada quase em frente, com um homem em seu interior, e outro do lado de fora.

Satisfeito com o que vira, voltou à cama. Mas foi novamente despertado, agora por vozes masculinas. As vozes o atraíram de novo para a fresta. Observou, então, o homem que estava sentado no banco da frente pular para o banco de trás, enquanto o outro parecia tirar alguma coisa de dentro do porta-malas.

Números na pedra

Depois de algum tempo, período no qual o carro mudou de posição algumas vezes, indo adiante ou para trás, Luiz Gonzaga de Oliveira percebeu os dois homens se afastarem da Brasilia, carregando uma grande mala, até um ponto mais baixo da encosta.

Ele saiu, então, do barraco e se aproximou do carro. Anotou, num muro de pedras, em grandes caracteres, o número da placa da Brasília avermelhada: 5964. As letras ele só memorizou: SX. Voltou ao barraco. Somente duas horas depois, sempre meio acordado, meio adormecido, ouviu a ignição do carro. Os estranhos haviam partido e a cena insólita não saiu de sua cabeça.

Quando acordou definitivamente, às quatro e meia da manhã, como de hábito, contou o episódio aos colegas. Propôs que fossem todos até as pedras verificar o que tinha havido. Os colegas não se empolgaram com sua proposta. "Deve ser macumba", alegaram. Luiz Gonzaga resolveu fazer uma inspeção por conta própria. Não encontrou, porém, nada de anormal.

Na hora do almoço, um colega de serviço comentou com Luiz Gonzaga: "Acharam um corpo no Chapéu dos Pescadores."

Ele trabalhou a tarde toda. Ao voltar para casa, no final da tarde, pediu a uma vizinha o telefone da polícia. Ela não tinha. Luiz Gonzaga dirigiu-se ao orelhão e telefonou para a Rádio Globo.

Da cintura para cima

Conseguiu falar com duas pessoas da rádio, mas com o redator-chefe somente na terça-feira, a quem revelou o segredo dos números anotados nas pedras. Disse-lhe também que poderia reconhecer ao menos um dos homens da Brasília, pois o vira da cintura para cima.

"Um motorista da rádio" informou o redator-chefe "alertou a polícia sobre aqueles números, mas não foi ouvido. "Com a placa revelada, a polícia descobriu que a Brasília estava registrada em nome da Imobiliária Suíça. O dono da imobiliária era Michel Frank.

Na segunda-feira, Michel pediu que seu amigo Georges Khour o levasse a dois lugares: ao médico, para tratar das feridas em suas mãos, e ao apartamento dos amigos Carlo e Bernadete Simonelli. Na visita, Michel contou aos amigos o que tinha ocorrido em seu apartamento no fim de semana e pediu-lhes ajuda. Estava transtornado. Acabou ficando até mais tarde. Dormiu no apartamento. Khour foi embora.

Encontro com o pai

Terça-feira, logo de manhã, Carlo Simonelli começou a atender ao pedido de socorro do amigo. Levou-o ao escritório do industrial Egon Frank, pai de Michel. Ao pai, dono da fábrica de relógios Mondaine, Michel contou a seguinte história. No sábado à noite, ele estava em seu apartamento, jogando cartas com Georges Khour, quando tocou o telefone. Era Claudia Lessin. Ele a tinha visto, até então, duas vezes, se tanto. A primeira, em maio, num dos salões do Hotel Meridien, onde se festejava o lançamento do filme Gente Fina É Outra Coisa, produzido pelo pai, Egon. Claudia era namorada do diretor do filme, Pedro Carlos Rovai. E irmã da estrela, Marcia Rodrigues, conhecida como a Garota de Ipanema depois de fazer o papel principal do filme baseado no samba de Tom Jobim e Vinicius de Moraes.

"Nesse dia sequer nos falamos" contou Michel. "Somente três semanas depois fui apresentado a ela, quando veio ao meu apartamento, com Pedro Rovai." Era outro sábado, muito movimento na casa, e muito pó, como de hábito. No sábado, 23 de julho, de acordo com o relato de Michel ao pai, testemunhado por Carlo Simonelli, Claudia lhe telefonara perguntando se seu namorado estava por lá. Não estava. Ainda assim, Michel a convidou para vir e " combinado com Georges Khour " sugeriu que ela trouxesse uma amiga.

Claudia tocou a campainha minutos depois, sem a amiga. Linda como sempre, aos 20 anos. Michel e Georges estavam em companhia de Danielle Labelle, na mesa de carteado. O casal Simonelli também estava entre os convivas.

O embalo

Depois de fazer muitas perguntas sobre o jogo, sem participar dele, Claudia alegou que estava se sentindo mal, pois tinha bebido cerveja e vinho em excesso. Michel a acompanhou ao banheiro, onde foi amparada por Bernadete Simonelli. Recuperada do mal estar, Claudia voltou à sala. "Quero puxar fumo" pediu a Michel. Ele respondeu que não haveria problema, desde que ela fumasse num dos quartos, bem longe dele, que não tolerava o cheiro de fumaça. "Depois ela voltou à sala pedindo "outras coisas" Michel contou ao pai. "Entra no primeiro quarto, que é o meu, e sirva-se à vontade" respondeu Michel.

O jogo na sala, a essa altura, não era mais de cartas, mas de gamão. "Khour resolveu ir ao banheiro" contou Michel ao pai "e, voltando, ao passar pelo meu quarto viu Claudia deitada de lado, totalmente nua."

SEXO A TRÊS

Assim que Daniel Labelle se retirou para o quarto de hóspedes, alegando não ter condições de continuar o jogo, Michel e Georges decidiram fazer uma visita a Claudia. "Fomos lá com a intenção de fazer sexo" contou Michel, "mas como tínhamos consumido muito pó, não conseguimos ereção."

De repente, continuou Michel, eis que Claudia desaba na cama, com evidentes sinais de overdose: o corpo tremendo, os dentes trincados, a boca totalmente fechada. "Fizemos de tudo para salvá-la, pois ela provavelmente havia enrolado a língua. En quanto Georges tentava reanimá-la aplicando choques elétricos com o fio desencapado da luminária, eu coloquei as mãos dentro da sua boca, para desenrolar sua língua."

O barulho produzido pela operação salvamento acordou Labelle. Atônito, ele deparou-se, da porta do quarto, com uma cena que parecia ser de um ménage à trois. Foi Georges quem o trouxe de volta à realidade: "Elle est morte" disse ele, em francês. Georges e Michel pediram ajuda a Labelle, mas ele se apavorou com a situação, vestiu-se e saiu. O pai de Michel acompanhava o relato com evidente tensão e ansiedade. Mas ainda faltava a parte mais escabrosa.

PENTE-FINO

"Preocupados em nos envolver num processo por drogas, decidimos nos livrar do corpo" contou Michel. A seguir, passaram um pente-fino no apartamento, tirando todas as drogas possíveis de vista. E, antes que pudessem iniciar o processo de ocultação do cadáver de Claudia, Michel caiu em sono profundo, segundo ele devido à ingestão de comprimidos de mandrix.

Por volta de 1 da tarde de domingo Michel acordou, disposto a resolver o problema imediatamente. Georges, que era pescador nas horas vagas alegou conhecer vários bons locais de onde jogar o corpo ao mar. Michel propôs fazer primeiro uma incursão sem o corpo para descobrir o melhor local.

Georges avisou que seu carro estava com pouca gasolina. O carro de Michel também. Aos domingos os postos não abriam, era a política de racionamento de combustíveis, inaugurada em 1973, quando os produtores árabes triplicaram o preço do barril, para se vingarem da Guerra do Yom Kipur, vencida por Israel.

MALA DE PEDRAS

Foi convocado Moisés, gerente da Imobiliária Suíça. Ele transferiu gasolina de seu carro para a Brasília de Michel. Antes de saírem para dar um rolê, Michel e Georges ligaram o ar condicionado do quarto onde Claudia jazia inerte.

Somente por volta de 10 e meia da noite eles envolveram o corpo de Claudia num lençol e o socaram dentro de uma mala. Não conseguiram, no entanto, levantá-la, razão pela qual chamaram a moça que trabalhava na casa para ajudá-los a carregar, do terceiro andar até o térreo, pela escada e daí até o carro.

O Chapéu dos Pescadores não era seu primeiro objetivo. Acabaram optando por ele depois de se perderem na Rio-Santos, preocupados com a gasolina.

Para terem certeza de que o corpo jogado iria afundar no mar, amarraram-no a uma bolsa de couro marrom, marca Favo, cheia de pedras. E o atiraram de uns 80 metros de altura. O paredão de pedras apresenta uma divisão por platôs. No primeiro platô, o corpo parou. Eles desceram, então, e o atiraram de novo. No entanto, nem dessa vez conseguiram afundá-lo nas águas.

VERDADE OU MENTIRA?

Como todo industrial, Egon Frank confiava desconfiando. Depois de ouvir a história do filho pediu ao sócio minoritário da Mondaine, João Batista que checasse com um médico se era possível acontecer o que Michel contara. Foi marcada nova reunião para daí a dois dias, quinta-feira.

O encontro desta vez foi no apartamento do diretor da Mondaine, José Milfont, na Praia do Flamengo. Presentes os advogados Evaristo de Moraes Filho e Georges Tavares, o patologista De Paula (convidado por ser amigo de João Batista) e seu amigo Luiz Antonio Pontual Machado.

Para De Paula, a história de Michel era plausível, Claudia realmente poderia ter tido morte acidental por overdose e o ferimento em suas mãos produto de atrito com seus dentes na tentativa de desenrolar a língua. Prometeu, ainda, preparar um parecer que sustentasse a versão do filho de Egon.

Na sexta-feira, depois de tomar conhecimento do laudo cadavérico, Evaristo de Moraes Filho dispensou o relatório do patologista. Segundo o laudo, transmitido pelo diretor do Instituto Médico Legal, Nilson Santana, Claudia fora morta por contusão na cabeça com hemorragia subdural e asfixia provocada por esganadura. A versão de Michel não se sustentava.

O DEPOIMENTO DE MICHEL

Evaristo começou a discutir com Egon a nova estratégia da defesa. Egon queria, no fundo, que o laudo fosse contestado, mas Evaristo não concordava com isso. Acabou sendo afastado. Egon contratou em seu lugar o advogado Wilson Lopes dos Santos, alguém com coragem suficiente para afirmar que o laudo estava errado. No interrogatório policial, Michel preferiu omitir a cena da overdose: "Eu estava em meu apartamento, quando recebi um telefonema de Claudia, que procurava por seu namorado, Pedro Rovai. Disse a ela que ele não estava em minha casa e Claudia insistiu para ir até lá."

"Consultei meu amigo Georges Khour, que estava ao meu lado na hora, e pedi para ela vir com uma amiga." "Desliguei o telefone. Após algum tempo, chegaram Carlo e Bernardete Simonelli, Daniel Labelle e Enrico Grossi. Eu jogava cartas com Georges e Daniel."

"Claudia tocou a campainha sozinha. Abri a porta, ela entrou e sentou-se na sala. Claudia não parava de fazer perguntas sobre o jogo. Carlos e Bernadete também estavam na sala. Em uma certa altura, Claudia passou a sentir-se muito mal por causa da cerveja e do vinho, eu acho. Acompanhei a moça até o banheiro e depois a Bernadete também foi lá, ampará-la. Voltamos para a sala um pouco depois. 

Claudia já estava melhor e veio com a gente também. Ela me pediu para fumar maconha. Como não gosto desse cheiro, disse para que ela o fizesse bem longe de mim. Ela foi."

"Jogávamos na sala quando Claudia apareceu na porta e me pediu outras coisas. Eu falei a ela que fosse até o meu quarto e se servisse à vontade." "De madrugada, Carlo, Enrico e Bernadete foram embora, ficando apenas eu, Daniel Labelle, Georges Khour e Claudia no meu apartamento. Georges foi até o banheiro e na volta levou Labelle a um dos quartos, porque ele estava com muito sono. Daniel bebeu muito naquele dia também e estava aparentemente acabado. O telefone tocou e era uma amiga de Claudia procurando por ela. Eu a chamei e ela atendeu ao telefonema, marcando de sair com sua amiga. Claudia pegou sua bolsa e disse que precisava ir embora, despediu-se e saiu. Eu e Khour continuamos o jogo e depois fomos dormir."

Quando o Juiz Sumariante do I Tribunal do Júri decretou a prisão preventiva de Michel Frank e de Georges Khour, no dia 6 de setembro, Michel já estava em Zurich.

A ORGIA

Ele fugiu do Brasil de carro, passando pelo Paraguai e depois Buenos Aires, onde embarcou no avião que o levou à Suíça. No dia 9 de setembro, Michel Frank e Georges Khour foram denunciados pelo promotor em exercício do I Tribunal do Júri, José Carlos da Cruz Ribeiro. "Em 24 de julho de 1977, em hora não precisada, no interior do apartamento no. 302, da rua Desembargador Alfredo Russel no. 70, no Leblon, os denunciados, unidos pelo mesmo desígnio, desferiram pancadas na cabeça e estrangularam com as mãos Claudia Lessin Rodrigues, causando-lhe lesões. Ditas lesões e mais asfixia mecânica foram a causa suficiente da morte da vítima, como positiva o auto de exame cadavérico.

"Torpe o motivo, desenfreio da lascívia.O fato punível foi cometido através de meio cruel, ou seja, por asfixia mecânica.

"Os denunciados usaram de recurso que impossibilitou a defesa da vítima, brutalmente seviciada, inclusive com a introdução de objeto em orifício do seu corpo, de tal maneira que não pôde opor resistência aos agressores, que lhe eram superiores física e numericamente.

"Os denunciados, no local supra referido, promoveram, no dia 23 de julho de 1977 uma orgia que se prolongou pela madrugada do outro dia, terminando em hora não precisada, quando serviram aos presentes cocaína e mandrix, sendo o entorpecente, para quem aceitou a oferta, consumido por aspiração nasal, com a utilização de um canudo feito por uma cédula, a qual foi na hora enrolada."

KHOUR DESMENTE MICHEL

No dia 13 de setembro, Georges Khour apresentou-se espontaneamente ao Juiz Sumariante, contestando o depoimento de Michel. Para ele, Claudia não tinha ido embora do apartamento antes de morrer. Ele descreveu assim a cena da sua morte:"que reparou estar Michel com as mãos dentro da boca de Claudia, que havia sangue nas mãos de Michel" que a vítima se contorcia" que tudo ocorreu de forma muito rápida, o depoente começou a fazer massagens no peito da vítima" que quando segurava os braços, o depoente notou que Michel também fazia massagens no peito da vítima" que Daniel a tudo assistiu, da porta do quarto; que o depoente virou-se para Daniel e, em francês, disse-lhe: ela está morta; que Daniel saiu correndo ao mesmo tempo em que Michel caía ao lado da vítima."O corpo de Cláudia foi encontrado nu na manhã do dia 26 de julho de 1977, no rochedo do Chapéu dos Pescadores, na Niemeyer. O rosto completamente desfigurado e o corpo amarrado por arame, preso a uma mala cheia de pedras. Cláudia tinha apenas 21 anos. Não houve mistério mais discutido pela imprensa e pelo Brasil do que a morte de Cláudia Lessin Rodrigues que, numa noite de sábado, se despediu dos pais e foi a uma festa.

Filha de um casal classe média alta, o comandante Hilton e a dona de casa Maria, Cláudia sempre teve tudo: bons princípios e educação esmerada, mas não andava nas melhores fases da vida. Enfrentava uma depressão " não conseguia esquecer um namorado que teve nos Estados Unidos " mas estava sob controle: fazia terapia e tudo mais. Já tinha usado drogas, sim, como a maioria da sua geração, mas não era viciada e, se tinha algum vício, era cultura: adorava música clássica, ler e as sessões de filmes de arte do antigo Cine Veneza. Ela morava com a família, desde criança, na rua Fernando Mendes, esquina com a avenida Atlântica, com uma bela vista para o mar. Criados com amor e em bons colégios.

A ida de Cláudia ao apartamento de Michel Frank até hoje é um mistério, porém, o mais provável é que ela teria sido convidada para uma festa, na qual encontraria Rovai. Ele não foi, e quando Cláudia chegou, a festa era de "função" ou, melhor dizendo, de "cheiração".

Segundo o livro de Valério Meinel, Cláudia teria passado o fim de semana com os dois homens, que jogavam cartas, cheiravam cocaína, vendida por Michel aos amigos que chegavam, sem parar. Muito entra-e-sai entre uma cartada e outra. Cláudia teria ficado lá "de bobeira", como dizem os cariocas quando não estão fazendo nada. Em compensação, Michel "comia como farinha", como dizem no meio os que cheiram muito. Cheirava desde os 16 anos.

Foi o detetive Jamil Warwar que, 48 horas depois do crime, já havia descoberto tudo, e, em uma declaração publicada em 1986, afirma: "Houve um embalo de tóxico na casa de Frank. No dia seguinte, Frank e Kour, cheios de cocaína, caminhavam em cima da mureta da avenida Niemeyer e resolveram então estuprá-la ali mesmo. Ela resistiu, ameaçou denunciar o que vira no apartamento no dia anterior (Michel vendendo bastante pó)". O ex-gordinho, que na adolescência não pegava nem gripe por causa da aparência, agora se firmara como um "grande" homem aspirando pó.

Segundo o que foi presumido pelo detetive Warwar, os dois, após violentá-la na própria Niemeyer, a mataram. Quando tentaram dar sumiço ao corpo, amarrado com uma mala cheia de pedras, foram vistos por um operário chamado Índio, que esclareceu o caso, como consta na revista Manchete, em reportagem publicada em 20 de dezembro de 1986. Os laudos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli, de acordo com a mesma revista, são taxativos: afirmam que Cláudia foi morta no local, pois havia sangue sobre as pedras. Declaram também que ela morreu por asfixia mecânica " viam-se claramente as marcas dos dedos, a olho nu, em seu pescoço. O exame toxicológico mostrava que não havia usado cocaína nem qualquer outra droga. O poder e as relações do pai de Frank falaram mais alto a ponto de Warwar ser afastado das investigações por meio de uma decisão publicada no boletim de Segurança Pública. O detetive ligou para o pai de Cláudia, dizendo: "O negócio envolve gente da alta, com muito dinheiro. O delegado Hélber Murtinho já deu a entender que vou ser substituído, mas não tem problema não. Já sei de tudo, quem matou sua filha e onde ela foi morta".

"Quero viver além dos 90 anos para ver os assassinos da minha filha condenados", declarou o pai. Frank, que tinha nacionalidade suíço-brasileira, foi para Zurique e lá viveu por 12 anos. Porém, levou junto o vício. Cheirava sem parar, chegando ao extremo de alguns familiares cortarem relações com ele. "Foi justamente a falta de relações do meu pai com o poder " ele era apenas um piloto da aviação civil " que impediu que a Justiça fosse feita. Fosse meu pai um militar naquela época de ditadura, teríamos visto certamente a condenação dos assassinos. O que vimos, ao contrário, foi o poder do dinheiro e o regime de exceção facilitando a fuga anunciada de Michel Frank e a posterior absolvição dele num julgamento fraudulento, de fachada", afirma Márcia Rodrigues.

A imprensa não sossegou com o fato e os pais de Cláudia Lessin sempre abriram as portas a ela, pois Cláudia caiu numa grande roubada, que acabou servindo de exemplo para muitos pais desavisados. Na Suíça, Frank acabou inocentado do assassinato de Cláudia por falta de provas consistentes da Justiça brasileira. Em 1989, ele foi encontrado morto, com seis tiros na cabeça, na garagem de seu prédio em Zurique. Seu corpo estava entre uma máquina de lavar e outra de secar. Estava envolvido com drogas até o último fio de cabelo. E por falar em cabelo, a última notícia que se teve de Georges Kour é que ele abriu um salão em Niterói. Ele, que em 1977 era cheio de estilo, envelheceu mais de 30 anos em três atrás das grades. Foi considerado culpado pela tentativa de ocultação de cadáver. Até os descolados da bucólica Niterói desconhecem o seu salão.

Atualmente, os pais de Cláudia moram próximos à filha Márcia, que abandonou a carreira e hoje é uma das mais respeitadas designers de interiores do Rio. Ambos estão com mais de 90 anos. Já o detetive Jamil Warwar, um dos melhores do Rio, se desiludiu com a profissão e a largou. Em 1977, no Rio de Janeiro, Cláudia Lessin Rodrigues, de 21 anos, foi assassinada na casa de Michel Frank, um milionário suíço-brasileiro supostamente envolvido com o tráfico de drogas. [1]

Acusado do crime, Michel fugiu para a Suíça, onde foi morto a tiros em 1989, sem nunca ter sido julgado.

Em 1978, o nome de Claudia apareceu em um outdoor vencedor do primeiro Concurso Nacional de Outdoor, como parte de uma campanha antitóxico. A peça dizia "Cláudia Lessin Rodrigues - Que todos os pais dessa cidade jamais se esqueçam deste nome". O crime gerou o filme "O Caso Cláudia", dirigido por Miguel Borges, em 1979.

Referências

  1. a b 24horasNews, 22/10/2002 Os superfilhos de Brasília, por Maria Luiza Curti.
  2. O caso Claudia Lessin Rodrigues Publicado originalmente pela revista Veja, em 07/09/1977.
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