Dinaelza Coqueiro

Dinaelza Coqueiro
Dinaelza Coqueiro
Nascimento 22 de março de 1949
Vitória da Conquista, Brasil
Morte 8 de abril de 1974 (25 anos)
Araguaia, Brasil
Nacionalidade Brasil brasileira
Ocupação guerrilheira

Dinaelza Soares Santana Coqueiro conhecida também como "Maria Dina", "Dinorá" e "Mariadina", (Vitória da Conquista, 22 de março de 1949 — Araguaia, 8 de abril de 1974) foi uma guerrilheira brasileira, militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e integrante da Guerrilha do Araguaia, movimento guerrilheiro ocorrido entre o final da década de 1960 e o começo da década de 1970 na região amazônica, ao longo do rio Araguaia.[1]

Biografia

Filha de Antonio Pereira de Santana e de Junília Soares Santana, Dinaelza nasceu na cidade baiana de Vitória da Conquista, no dia 22 de março de 1949. Realizou os estudos primários e secundários na escola estadual Régis Pacheco, em Jequié, no interior da Bahia. Durante os estudos naquela instituição, foi responsável pela fundação do grêmio de estudantes.[2]

Em 1969, após obter o ensino completo, mudou-se a Salvador para estudar Geografia na Universidade Católica de Salvador (UCSAL). Na entidade, participou em grupos de discussão política onde conheceu Vandick Coqueiro, estudante de economia com quem se casou, e Luzia Reis, estudante de ciências sociais. Os dois seriam seus companheiros de guerrilha anos depois. Durante a graduação (permaneceu até o segundo ano), foi integrante do comitê executivo do Diretório Central dos Estudantes da universidade.[2]

Em 1970, Dinaelza e Vandick Coqueiro se integram ao comitê estudantil do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Em 1971, após trabalhar na empresa aérea Transbrasil, demitiu-se e foi, junto com o marido, para a região do Araguaia, localidade amazônica cujo rio serviu como base de operações para a guerrilha criada pelo PCdoB em 1967.[1]

Guerrilha do Araguaia

Decidida a participar do movimento guerrilheiro e da luta armada desencadeada pelo PCdoB no interior do país, Dinaelza foi para as localidades paraenses de Xambioá e Marabá no ano de 1971.[3] Os locais foram escolhidos pelo partido para fazer o levante e enfrentamento contra os militares. Nos acampamentos usava o codinome 'Maria Dina' e integrou o destacamento C, baseado na área conhecida como Gameleira.[4] Sua trajetória durante os 3 anos que participou no movimento ainda é desconhecida.

Sua carteira de identidade, de número n° 792454-SSP/BA, foi apreendida pelos militares em um "aparelho" rural do PCdoB na região de Xambioá.[4] De acordo com o relatório do Ângelo Arroyo, um dos poucos guerrilheiros sobreviventes de Araguaia, ela devia ter comparecido a um ponto de encontro que foi pré-estabelecido o deslocamento até o dia 28 de dezembro. Apesar da ordem, ela não apareceu na data. O ponto era um refúgio para os guerrilheiros involucrados num tiroteio no dia 17 de novembro contra o exercito.[5] O tiroteio envolveu Elmo Corrêa, Antonio Teodoro de Castro e Micheás Gomes de Almeida, seus companheiros da guerrilha.

Esse evento foi o último registro de atividades da guerrilheira ainda com vida. Ela teria sido presa e levada para a casa de Arlindo Piauí, camponês paraense que colaborou com o exercito,[6] para ser interrogada pela motivação da proximidade na mata onde tinha acontecido o tiroteio.[7] Tempo depois, foi reconhecida pelos moradores da região ao estar presa na base dos militares em Xambioá onde o Major Curió, agente da inteligência militar, era responsável pela operação contra a guerrilha.[1][2]

Morte

Dinaelza foi vista por outros companheiros de guerrilha pela última vez no dia 30 de dezembro de 1973. Foi abordada próxima a OP-1 e levada a casa de Arlindo Piauí para interrogatório.[8] Em custódia, insultava e cuspia nos oficiais que a interrogavam, incluindo o Major Curió,[9][10] que informou anos depois que se usaram técnicas de tortura.[11] Como era resistente às interrogações e não fornecia informações quando questionada, foi executada por agentes do CIEx no dia 8 de abril de 1974.[8]Esta versão é firmada por alguns documentos, entre eles o relatório - presente no livro Dossiê Ditadura -, emitido pelo MPF em 2002. José Veloso de Andrade, trabalhador contratado da lanchonete da base militar da época, afirma ter visto a militante ainda viva na base militar. Dinaelza foi mantida sob custódia dos militares na Casa Azul, aonde foi torturada.[8]

Em depoimento à comissão da verdade, o posseiro Cícero Pereira Gomes, então colaborador do exercito na região, informou que o corpo da Dinaelza foi enterrado na Serra das Andorinhas, na altura do KM 114 da rodovia que conecta São Geraldo de Araguaia a Marabá.[8] O corpo nunca foi encontrado e, em consequência, é considerada como desaparecida.[12]

Homenagens

O nome de Dinaelza foi dado a uma rua de sua cidade natal Vitória da Conquista, na Bahia. Além disso, no mesmo endereço há uma creche municipal conveniada que leva o nome de Dinaelza Coqueiro, no bairro de Ibirapuera[13].

Ver também

Referências

  1. a b c «MEPR - Movimento Estudantil Popular Revolucionário». web.archive.org. 9 de junho de 2008. Consultado em 6 de outubro de 2019 
  2. a b c «Secretaria de Direitos Humanos | Morto ou desaparecido político». webcache.googleusercontent.com. Consultado em 6 de outubro de 2019 
  3. Schumaher, Schuma. Brazil, Erico Vital. (2001). Dicionário mulheres do Brasil : de 1500 até a atualidade. [S.l.]: J. Zahar Editor. ISBN 8571105731. OCLC 808596504  !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
  4. a b Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos (Brazil) Instituto de Estudos sobre a Violência do Estado. (2009). Dossiê ditadura : mortos e desaparecidos políticos no Brasil (1964-1985). [S.l.]: IEVE, Instituto de Estudos sobre a Violência do Estado. ISBN 9788562450099. OCLC 428453029 
  5. «Grabois :: Relatório Arroyo (1974)(Principais Documentos)». web.archive.org. 14 de julho de 2014. Consultado em 6 de outubro de 2019 
  6. «Folha de S.Paulo - Herança militar: Guia do Exército, camponês quer indenização - 02/05/2005». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 6 de outubro de 2019 
  7. «Dinaelza Soares Santana Coqueiro». Memórias da ditadura. Consultado em 5 de outubro de 2019 
  8. a b c d «Dinaelza Soares Santana Coqueiro». Memórias da ditadura. Consultado em 6 de outubro de 2019 
  9. «TorturaNuncaMais/RJ». Consultado em 4 de agosto de 2009. Arquivado do original em 10 de novembro de 2005 
  10. STUDART, Hugo - A Lei da Selva — Estratégias, Imaginário e Discurso dos Militares Sobre a Guerrilha do Araguaia, Geração Editorial, ISBN 8575091395
  11. «Curió abre arquivo e revela que Exército executou 41 no Araguaia - Política». Estadão. Consultado em 6 de outubro de 2019 
  12. «Mortos e Desaparecidos Políticos». www.desaparecidospoliticos.org.br. Consultado em 6 de outubro de 2019 
  13. «Escola - Creche Dinaelza Coqueiro - Vitória da Conquista - BA - Matrículas e Infraestrutura - QEdu». QEdu: Aprendizado em foco. Consultado em 17 de outubro de 2019 

Bibliografia

  • MIRANDA, Nilmário e TIBÚRCIO, Carlos - Dos filhos deste solo - Fundação Perseu Abramo, 1999 - ISBN 978-85-7643-066-7
  • MORAIS, Tais de. SILVA, Eumano. Operação Araguaia: os arquivos secretos da guerrilha - ISBN 8575091190.
  • v
  • d
  • e
Integrantes da luta armada contra a ditadura militar no Brasil (1964–1985)
Aderval CoqueiroAdriano Fonseca FilhoAlex de Paula Xavier PereiraAlexandre Vannucchi LemeAlfredo SirkisAloysio NunesAluísio PalhanoAna KucinskiAna Maria Nacinovic CorreaAndré GraboisÂngelo ArroyoAntonio BenetazzoAntônio Carlos Bicalho LanaAntônio Marcos Pinto de OliveiraAntônio Raymundo LucenaAntonio Roberto EspinosaArnaldo Cardoso RochaArno PreisAurora Maria Nascimento FurtadoBergson Gurjão FariasBoanerges de Souza MassaCarlos Alberto Soares de FreitasCarlos Eduardo Pires FleuryCarlos Eugênio PazCarlos AraújoCarlos LamarcaCarlos MarighellaCarlos MincCarlos Nicolau DanielliCarlos Roberto ZaniratoCésar BenjaminChael Charles SchreierCid BenjaminCiro Flávio de OliveiraCláudio TorresCrimeia Schmidt de AlmeidaDaniel Aarão ReisDaniel José de CarvalhoDarcy RodriguesDênis CasemiroDevanir José de CarvalhoDilma Rousseff • Dinaelza Coqueiro • Dinalva Oliveira TeixeiraDulce MaiaÉdson Neves QuaresmaEduardo Collen LeiteEleonora MenicucciElza MonneratEnrique Ernesto RuggiaFernando GabeiraFernando PimentelFlávio MolinaFlávio TavaresFrancisco Emanuel PenteadoFrancisco OkamaFranklin MartinsFrederico MayrGelson ReicherGilberto Olímpio MariaGlênio SáHelenira ResendeHeleny GuaribaHerbert DanielHiroaki TorigoeIara IavelbergInês Etienne RomeuIshiro NagamiÍsis Dias de OliveiraIssami OkanoJaime Petit da SilvaJames Allen da LuzJana Moroni BarrosoJane VaniniJefferson Cardim OsórioJeová Assis GomesJoão AmazonasJoão Antônio Abi-EçabJoão Carlos Haas SobrinhoJoão Leonardo RochaJoaquim Câmara FerreiraJoel José de CarvalhoJoelson CrispimJosé GenoinoJosé LavecchiaJosé Milton BarbosaJosé Roberto SpignerJosé Wilson SabbagJuarez Guimarães de BritoLadislau DowborLíbero CastigliaLígia Maria Salgado NóbregaLiszt VieiraLúcia Maria de SouzaLúcia MuratLúcio Petit da SilvaLuiz Almeida AraújoLuiza GarlippeLuzia ReisMassafumi YoshinagaManoel CyrilloManoel NurchisManuel LisboaMárcio BeckMarco Antônio Brás de CarvalhoMarcos Nonato da FonsecaMaria Amélia de Almeida TelesMaria Augusta ThomazMaria Auxiliadora Lara BarcelosMaria do Carmo BritoMaria Lúcia PetitMaria Regina Lobo Leite FigueiredoMaurício GraboisMicheas Gomes de AlmeidaOnofre PintoOrlando MomenteOsvaldãoPaulo de Tarso CelestinoPaulo de Tarso VenceslauPedro Alexandrino de Oliveira FilhoRaimundo Gonçalves FigueiredoRenata Ferraz GuerraRoberto CiettoSoledad ViedmaSônia LafozSônia de Moraes AngelStuart Angel JonesSuely KanayamaVera Sílvia MagalhãesVirgílio Gomes da SilvaVitor Carlos RamosWânio José de MattosYoshitane FujimoriZoé Lucas de Brito Filho
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