Evasão escolar

Evasão escolar é o que ocorre quando um aluno deixa de frequentar a escola e fica caracterizado o abandono escolar, e historicamente é um dos tópicos que faz parte dos debates e análises sobre a educação pública.[1]

É comum a confusão quanto ao entendimento das palavras abandono escolar e evasão escolar, apesar de serem usadas em muitos momentos como sinônimos, particularizam situações diferentes para o afastamento estudantil. [1] Em uma entrevista concedida ao Observatório de Educação - Ensino Médio e Gestão, a educadora e gestora da educação Macaé Evaristo explica com mais detalhes as diferenças entre estas duas situações de infrequência escolar. A entrevista foi concedida quando a especialista era Secretaria de Educação do estado de Minas Gerais, cargo que ocupou de 2015 a 2018. Partindo do princípio de que os conceitos são diferentes, ela explica que o abandono escolar seria passar a não frequentar as aulas durante o ano letivo interrompendo os estudos, enquanto a evasão escolar seria o aluno ter sido aprovado ou reprovado no fim do ano e no entanto, não formaliza a sua matrícula para o ano seguinte, podendo ser visualizado pelo Censo Escolar.

De acordo com Riffel e Malacarne (2010), Evasão é o ato de evadir-se, fugir, abandonar; sair, desistir; não permanecer em algum lugar. Quando se trata de evasão escolar, entende-se a saída ou abandono da escola para realização de outra tarefa. A diferença entre evasão e abandono escolar foi utilizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira/Inep (1998). Nesse caso, “abandono” significa a situação em que o aluno desliga-se da escola, mas retorna no ano seguinte, enquanto na “evasão” o aluno sai da escola e não volta mais para o sistema escolar.

Vários fatores podem ocasionar a evasão escolar. Dentre eles se encontram uma gravidez indesejada, o ensino sucateado, metodologias inadequadas, professores despreparados, problemas sociais, descaso por parte do governo, da família e etc. A discussão sobre a origem do problema varia conforme o ponto de vista dos debatedores. Pode partir tanto do papel que a família ocupa, quanto do Estado e da escola em relação à vida escolar da criança, ou também das elites dominantes, sejam elas econômicas, religiosas, ou de outra espécie.

Segundo o autor Lindgren (1984, p. 84), a família é a base para a criação de uma estrutura educacional de um país.

A família, e não a escola, proporciona as primeiras experiências educacionais à criança. Estas experiências começam na infância, com as primeiras tentativas de orientar e dirigir a criança_ de treiná-la, como dizemos num nível consciente, mas, na maior parte das vezes, os pais não têm absolutamente consciência de que estão tentando influenciar o comportamento dos filhos.

Dessa forma, a família ocupa um papel importante quando se trata de omissão e desestimulo das crianças frente aos estudos, além disso, as desigualdades socioeconômicas e a negligência do Estado prejudicam, sobretudo, aqueles que se encontram em situação de extrema pobreza e, portanto, é necessário refletir acerca de alternativas que possibilite a efetivação dos direitos básicos para as populações que carecem dessas garantias. E compreender a razão para a evasão e abandono escolar tem um importante papel no diagnóstico e no encontro de possíveis soluções para o cenário. O IBGE divulgou em julho de 2020 uma pesquisa em que consta que na passagem do ensino fundamental para o ensino médio são acentuados o abandono e a evasão escolar. De 50 milhões de pessoas com idades entre 14 e 29 anos, dez milhões, ou seja, 20% delas, não finalizaram alguma das etapas da educação básica, sendo que 71,7% são pretos e pardos e os principais motivos estavam entre a necessidade de trabalhar, a falta de interesse e a gravidez.

Outro estudo realizado pelo Ipec para o UNICEF em agosto de 2022, revela que 2 milhões de meninas e meninos de 11 a 19 anos que ainda não haviam terminado a educação básica deixaram a escola no Brasil. Eles representam 11% do total da amostra pesquisada. Na classe AB, o percentual é de 4%, enquanto, na classe DE, chega a 17% – ou seja, é quatro vezes maior.

A evasão escolar causa diversos problemas ao indivíduo, entre eles encontra-se a dificuldade de inserir-se no mercado de trabalho, sem uma formação e qualificação profissional, torna-se quase que impossível para alguém que evadiu apropriar-se de um meio de trabalho e produção. Isso causa danos tanto para esse indivíduo quanto para o crescimento econômico do país, além de agravar a desigualdade social. [2]

Há vários fatores que causam a evasão escolar, como já dito, mas nesses últimos anos ouve um maior aumento devido à pandemia do COVID-19. Esse novo cenário trouxe mudanças para a educação, fechando escolas por tempo indeterminado e recorrendo as plataformas digitais e as Tecnologias da informação e comunicação (TICs) para continuar o ano letivo e não prejudicar os alunos. Mas os professores nem os alunos tinham um letramento digital adequado para esse cenário, já que os professores por diversas vezes não têm uma formação inicial e continuada que promova esses conhecimentos, o que influência na aprendizagem dos alunos. Outro fator é a falta de acesso a aparelhos tecnológicos para classes sociais menos privilegiadas, devido aos custos e dificuldade de acesso. Esses pontos refletem na evasão escolar como consequência, já que os alunos mais pobres não tinham acesso às ferramentas necessárias para continuar na escola, não possuíam o conhecimento para manusear essas tecnologias, viviam em um ambiente inadequado para aulas remotas, e por muitas vezes se sentiam inferiores, incapazes, resultando no abandono da escola por despreparo, desincentivo, desânimo, medo. [3]

No primeiro semestre de 2021, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) elaborou um documento com dados sobre os efeitos da pandemia nos índices de abandono e evasão escolar no Brasil. De acordo com o último censo escolar, no final de 2020 mais de 5 milhões de crianças e adolescentes entre 6 e 17 anos estavam fora da escola. Desses, mais de 40% se encontravam na faixa dos 6 aos 10 anos, grupo etário no qual o acesso à educação era praticamente universal antes da covid-19.

Diante do cenário narrado, concluímos que a pandemia trouxe consequências avassaladoras para a educação e que infelizmente aprofundou o quadro das desigualdades socioeconômicas e enfraqueceu o aluno e a escola. No entanto, na união dos esforços das escolas, famílias, governo e a sociedade, torna-se viável o combate à evasão escolar e a superação dos desafios impostos neste cenário desastroso.

Referências

  1. Karinny Shintani, Leonardo Armond, Vassily Rolim. «Dificuldades Escolares». Consultado em 21 de maio de 2014  !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
  2. Silva, Denise Bianca Maduro (2016). «Evasão escolar e educação profissional». Linhas Crí­ticas (49): 619–622. ISSN 1981-0431. doi:10.26512/lc.v22i49.4952. Consultado em 10 de janeiro de 2023  soft hyphen character character in |periódico= at position 11 (ajuda)
  3. AVELINO, W. F. .; MENDES, J. G. . A REALIDADE DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA A PARTIR DA COVID-19. Boletim de Conjuntura (BOCA), Boa Vista, v. 2, n. 5, p. 56–62, 2020. DOI: 10.5281/zenodo.3759679. Disponível em: https://revista.ioles.com.br/boca/index.php/revista/article/view/137. Acesso em: 23 nov. 2022.
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Ligações externas

  • Pesquisa - Evasão escolar | SciELO
  • Portal da educação