Função periódica

O seno e o cosseno são funções periódicas.

Em matemática, uma função diz-se periódica se esta repete ao longo da variável independente com um determinado período constante.[1] Exemplos de funções periódicas bem conhecidas são as funções trigonométricas seno, co-seno, secante e co-secante que possuem período igual a 2π, e tangente e co-tangente, com período igual a π.[1]

Definição de função real periódica

Um função f : R R {\displaystyle f:\mathbb {R} \to \mathbb {R} } é dita periódica de período T (ou apenas T-periódica) se existe um número real T tal que f ( x + T ) = f ( x ) {\displaystyle f(x+T)=f(x)} para todo x real.[1]

Observe que se uma função tem período T então f ( x + n T ) = f ( x ) {\displaystyle f(x+nT)=f(x)} para todo n inteiro, ou seja, é também periódica de período nT, pois:


f ( x ) = f ( t + T ) = f ( t + 2 T ) = f ( t + 3 T ) = . . . = f ( t + n T ) {\displaystyle f(x)=f(t+T)=f(t+2T)=f(t+3T)=...=f(t+nT)}


A função constante f ( x ) = c {\displaystyle f(x)=c} é T-periódica para qualquer T > 0 {\displaystyle T>0} .

O conjunto dos períodos de uma função f ( x ) {\displaystyle f(x)} , T := { T R : x R , f ( x + T ) = f ( x ) } {\displaystyle \mathbb {T} :=\{T\in \mathbb {R} :\forall x\in \mathbb {R} ,f(x+T)=f(x)\}} , pode ser vazio, discreto ou denso em R {\displaystyle \mathbb {R} } . Se esse conjunto for vazio, a função é aperiódica, se for discreto então pode ser escrito na forma { n T f , n Z } {\displaystyle \{nT_{f},n\in \mathbb {Z} \}} onde T f {\displaystyle T_{f}} é um real positivo, chamado de período fundamental.

Um exemplo de função periódica não constante com períodos densos em R {\displaystyle \mathbb {R} } é a função indicadora de Q {\displaystyle \mathbb {Q} } em R {\displaystyle \mathbb {R} } , definida como:

  • X Q ( x ) = { 1 , x Q 0 , c . c . {\displaystyle \mathrm {X} _{\mathbb {Q} }(x)=\left\{{\begin{array}{ll}1,&x\in \mathbb {Q} \\0,&c.c.\end{array}}\right.}

Para tanto, temos o seguinte teorema: Se f ( t ) {\displaystyle f(t)} é uma função integrável T-periódica, então o valor da integral definida dentro de um período não depende do ponto inicial, ou seja:

x x + T f ( t ) d t {\displaystyle \int _{x}^{x+T}f(t)dt} não depende de x.

Portanto, temos a seguinte identidade:

0 T f ( t ) d t = T / 2 T / 2 f ( t ) d t {\displaystyle \int _{0}^{T}f(t)dt=\int _{-T/2}^{T/2}f(t)dt}

Demonstração[2]: Escrevemos x T = n + a {\displaystyle {\tfrac {x}{T}}=n+a} como um número inteiro n {\displaystyle n} mais uma parte fracionária a [ 0 , 1 ) {\displaystyle a\in [0,1)} e concluímos que podemos escrever x = n T + y {\displaystyle x=nT+y} , onde y = a T {\displaystyle y=aT} , isto é, 0 y T {\displaystyle 0\leq y\leq T} .

I = x x + T f ( t ) d t = n T + y ( n + 1 ) T + y f ( t ) d t {\displaystyle I=\int _{x}^{x+T}f(t)dt=\int _{nT+y}^{(n+1)T+y}f(t)dt}

= n T + y ( n + 1 ) T f ( t ) d t + ( n + 1 ) T ( n + 1 ) T + y f ( t ) d t {\displaystyle =\int _{nT+y}^{(n+1)T}f(t)dt+\int _{(n+1)T}^{(n+1)T+y}f(t)dt}

Mudança de variáveis t = n T {\displaystyle t=nT} e t = ( n + 1 ) T + v {\displaystyle t=(n+1)T+v} :

I = y T f ( u + n T ) d u + 0 y f ( v + ( n + 1 ) T ) d v {\displaystyle I=\int _{y}^{T}f(u+nT)du+\int _{0}^{y}f(v+(n+1)T)dv}

Da periodicidade, temos que f ( u ) = f ( u + n T ) {\displaystyle f(u)=f(u+nT)} e f ( v ) = f ( v + ( n + 1 ) T ) : {\displaystyle f(v)=f(v+(n+1)T):}

I = y T f ( u ) d u + 0 y f ( v ) d v {\displaystyle I=\int \limits _{y}^{T}f(u)du+\int _{0}^{y}f(v)dv}

= 0 y f ( v ) d v + y T f ( u ) d u {\displaystyle =\int _{0}^{y}f(v)dv+\int _{y}^{T}f(u)du}

Como u e v são variáveis mudas, as integrais envolvidas podem ser escritas em termos de t da seguinte forma:

I = 0 y f ( t ) d t + y T f ( t ) d t {\displaystyle I=\int _{0}^{y}f(t)dt+\int _{y}^{T}f(t)dt}

= 0 T f ( t ) d t {\displaystyle =\int _{0}^{T}f(t)dt}

Propriedades de funções reais periódicas

O conjunto das funções periódicas de um certo período T {\displaystyle T} formam uma álgebra, ou seja, se f ( x ) {\displaystyle f(x)} e g ( x ) {\displaystyle g(x)} são T-periódicas, então:

I) f ( x ) + g ( x ) {\displaystyle \displaystyle f(x)+g(x)} é T-periódica
II) α f ( x ) {\displaystyle \displaystyle \alpha f(x)} é T-periódica para todo α {\displaystyle \alpha } real
III) f ( x ) g ( x ) {\displaystyle \displaystyle f(x)*g(x)} é T-periódica

possui ainda a propriedade de ser fechado em relação à translação:

Iv) f ( x + h ) {\displaystyle \displaystyle f(x+h)} é T-periódica

O mesmo pode não acontecer quando não tentamos realizar as mesmas operações com função periódicas de períodos diferentes. Exemplo:

sin ( x ) {\displaystyle \displaystyle \sin(x)} e sin ( π x ) {\displaystyle \displaystyle \sin(\pi x)} são periódicas com período 2 π {\displaystyle \displaystyle 2\pi } e 2 {\displaystyle \displaystyle 2} , respectivamente. No entanto sin ( x ) + sin ( π x ) {\displaystyle \displaystyle \sin(x)+\sin(\pi x)} é aperiódica.

Se uma função f ( x ) {\displaystyle f(x)} é T-periódica e integrável, podemos definir sua média como:

μ = 1 T 0 T f ( x ) d x {\displaystyle \mu ={\frac {1}{T}}\int _{0}^{T}f(x)dx}

Para toda função real periódica com período fundamental T f > 0 {\displaystyle \displaystyle T_{f}>0} , definimos a sua frequência f {\displaystyle f} e sua velocidade angular ω {\displaystyle \omega } como:

  • f = 1 T {\displaystyle f={\frac {1}{T}}} e
  • ω = 2 π T = 2 π f {\displaystyle \omega ={\frac {2\pi }{T}}=2\pi f}

Por consequência[2],

A soma de funções periódicas é uma não é uma função periódica;

Seja f ( x ) {\displaystyle f(x)} uma função real par diferenciável, então f ( x ) = 0. {\displaystyle f'(x)=0.}

A única função real par e ímpar é a função f ( x ) = 0. {\displaystyle f(x)=0.}

Toda função real pode ser escrita de forma única como a soma de uma função ímpar e outra par.

Funções Complexas Duplamente Periódicas

Em análise complexa, existem funções meromorfas que são duplamente periódicas, ou seja:

f ( x + T 1 ) = f ( x + T 2 ) = f ( x )  sendo  T 1  e  T 2 {\displaystyle f(x+T_{1})=f(x+T_{2})=f(x){\mbox{ sendo }}T_{1}{\mbox{ e }}T_{2}} números complexos cuja razão não é um número real.

As funções elípticas são exemplos de funções duplamente periódicas.

funções inteiras não constantes, no entanto, não podem ser duplo periódicas com períodos T 1 {\displaystyle T_{1}} e T 2 {\displaystyle T_{2}} linearmente independentes nos reais. Pois tais funções seriam inevitavelmente limitadas.

Referências

  1. a b c Gabriel Alessandro de Oliveira. «Funções periódicas». R7. Brasil Escola. Consultado em 28 de abril de 2013  A referência emprega parâmetros obsoletos |língua2= (ajuda)
  2. a b Azevedo, Fábio. Análise de Fourier. [S.l.: s.n.] pp. p13 – 14  !CS1 manut: Texto extra (link)
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