Gender Trouble

Gender Trouble: Feminism and the Subversion of Identity ou Problemas de Gênero: Feminismo e Subversão da Identidade, no Brasil e em Portugal, é um livro de teoria feminista 1990 da filósofa estadunidense Judith Butler. Esta obra teve grande impacto nos estudos e nos movimentos feministas e LGBTQIA+ e teve grande popularidade fora dos círculos acadêmicos tradicionais. As ideias de Butler sobre gênero passaram a ser vistas como fundamentais para esses ramos de estudo, inclusive sendo considerado o livro que fundou a teoria queer. [1][2]

Conteúdo

Problemas de Gênero é centrado em uma teoria crítica que questionava a hipótese básica principal das teorias feministas da época: a de que existe uma identidade pré-definida de mulher e essa identidade é o sujeito principal do feminismo. Butler provocou os conceitos de gênero em perguntas como: o que é ser homem e o que é ser mulher?; o que faz um homem ser homem e o que faz de uma mulher uma mulher?. Ela também desmonta a distinção entre gênero/sexo na qual as teorias vigentes se baseavam, onde o gênero era visto como construção social, mas o sexo como um dado naturalmente adquirido, para desmontar a naturalização do feminino como algo frágil ou submisso. Butler argumentou que não é a biologia, mas a cultura determina a identidade de um sujeito, de maneira que o sexo não determina o gênero de uma pessoa mas sim a sociedade quando atribui uma relação entre um e outro. [3][4]

Gênero portanto é trabalhado por Butler ao longo do livro sob o conceito de performatividade, que relaciona a maneira como experenciamos gênero semelhante a uma performance. [1]

A obra dialoga com filósofos como Simone de Beauvoir, Michel Foucault, Jaques Derrida.

História de publicação

Gender Trouble foi publicado pela primeira vez nos Estados Unidos pela Routledge em 1990, tendo segunda edição no mesmo ano, e reedição em 2006 pela Routledge Classics. [5]

No Brasil, ele foi o primeiro livro de Butler publicado no país, em 2003 pela editora Civilização Brasileira. Sua publicação foi iniciativa do psicanalista Joel Birman, coordenador da coleção “Sujeito e História” em que o livro foi editado, impulsionando um significativo diálogo com a teoria psicanalítica. [6][4]

Em Portugal, foi publicado pela primeira vez em 2017 pela editora Orfeu Negro.[7]

Recepção

Gender Trouble foi objeto de recensão por Shane Phelan em Women & Politics.[8] O trabalho gozou de ampla popularidade fora dos círculos académicos tradicionais, inspirando até um fanzine intelectual, Judy! [9] Judith Butler, no prefácio à segunda edição do livro, escreve que ficou surpreendida com a audiência do seu livro e com o prestígio que ganhou como texto fundador da teoria queer.[1] Anthony Elliott escreve que, com a publicação de Gender Trouble, Butler colocou-se na vanguarda do feminismo, dos estudos femininos, dos estudos lésbicos e gays e da teoria queer. De acordo com Elliott, a ideia central exposta em Gender Trouble, de que o "género é uma espécie de performance improvisada, uma forma de teatralidade que constitui um sentido de identidade", passou a ser vista como "fundacional para o projeto da teoria queer e para o avanço das práticas sexuais dissidentes durante os anos 1990." [10]

Em 23 de novembro de 2018, o dramaturgo Jordan Tannahill leu Gender Trouble na íntegra no exterior do Parlamento Húngaro, em protesto contra a decisão do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, de revogar o credenciamento e o financiamento de programas de estudos de género no país. [11] [12]

Crítica

Veja a página de Judith Butler para as críticas a Gender Trouble de Susan Bordo (gênero como linguagem; evasão do corpo); Martha Nussbaum (elitismo; agência pré-cultural; justiça social); Nancy Fraser (idioma de auto-distanciamento); Alice Schwarzer (jogos intelectuais).

Ver também

Referências

  1. a b c Butler, Judith (2007). Gender Trouble: Feminism and the Subversion of Identity. [S.l.]: Routledge. ISBN 978-0-415-38955-6 
  2. «Mulheres na Filosofia - Judith Butler». Site da UNICAMP. Consultado em 30 de novembro de 2021 
  3. Rodrigues, Carla (abril de 2005). «Butler e a desconstrução do gênero». Revista Estudos Feministas: 179–183. ISSN 0104-026X. doi:10.1590/S0104-026X2005000100012. Consultado em 30 de novembro de 2021 
  4. a b «Problemas de gênero». Grupo Editorial Record. Consultado em 30 de novembro de 2021 
  5. Butler, Judth (2007). Gender Trouble. [S.l.]: Routledge. ISBN 978-0-415-38955-6 
  6. «Duas vezes Judith Butler no Brasil, por Carla Rodrigues / Blog do IMS». Blog do IMS. 30 de outubro de 2017. Consultado em 29 de novembro de 2021 
  7. Orfeu Negro. «Problemas de Género: Feminismo e Subversão da Identidade». Consultado em 16 de abril de 2021 
  8. Phelan, Shane (1992). «Forms of Desire: Sexual Orientation and the Social Constructionist Controversy/Gender Trouble: Feminism and she Subversion of Identity/The Social Construction of Lesbianism». Journal of Women, Politics & Policy. 12: 73–78 
  9. MacFarquhar, Larissa, "Putting the Camp Back into Campus," Lingua Franca (September/October 1993); see also Judith Butler, "Decamping," Lingua Franca (November–December 1993).
  10. Elliott, Anthony (2002). Psychoanalytic Theory: An Introduction. [S.l.]: Palgrave. ISBN 0-333-91912-2 
  11. "No problem: a Canadian writer protested against the abolition of gender studies at Parliament". Merce, November 24, 2018.
  12. "On a Friday for seven hours, a Canadian writer in Parliament was reading one of the most well-known books of gender studies". 444, November 24, 2018.