Genocídio circassiano

Genocídio circassiano
Genocídio circassiano
Pintura que descreve circassianos tentando evacuar sua cidade para evitar a agressão russa
Local: Circássia
Contexto: Guerra russo-circassiana
Período: 1864-1867
Vítimas: Circassianos
Tipo de agressão: Assassinato em massa, Deportação, genocídio e limpeza étnica, Marcha da morte e Tortura
Número de vítimas: 800.000-1.500.000
Motivo: Imperialismo, Racismo, Islamofobia, Russificação, Guerra russo-circassiana, Mar Negro
Responsáveis: Império Russo

O Genocídio Circassiano foi um massacre étnico que aconteceu[1][2][3] em 21 de maio de 1864, completou 150 anos em 2014. De acordo com o Instituto Cultural Circassiano, de 1 milhão a 1,5 milhão de circassianos foram mortos e outro milhão foi deportado. A diáspora circassiana é a maior do mundo, com 86% de toda a população vivendo no exílio, em vários países. O território original da Circassia foi dividido em três partes (Carachai-Circássia, República Adigueia e Cabardino-Balcária).

Apesar de ser considerado o primeiro genocídio da Idade contemporânea, por ter acontecido na segunda metade do século XIX, só recebeu reconhecimento formal de um único governo em todo o mundo até hoje; o governo da Geórgia.[4][5] O evento foi resultado da Guerra Russo-Circassiana[6] e ocorreu em Sochi, local escolhido para as Olimpíadas de Inverno de 2014, na Rússia; provocando vários protestos[7] ao redor do mundo contra o evento esportivo.

2014 não só é o aniversário de 150 anos do Genocídio Circassiano, como também a véspera do centenário do Genocídio armênio/ Genocídio assírio/ Genocídio grego que ocorreu em 1915 no Império Otomano.

Sendo a Rússia e a Turquia, inimigos históricos,[8] os supostos aliados de um país são as vítimas do outro país. Assírios e armênios massacrados pelos turcos buscaram refúgio na Rússia; enquanto muçulmanos do Cáucaso (sobretudo Chechenos e circassianos) constituíram uma vasta comunidade na Turquia.

Em 2014, comunidades de armênios e circassianos nos Estados Unidos deixaram essas diferenças de lado e se comprometeram a trabalhar juntos pelo reconhecimento de ambos genocídios.[9]

Outra interessante coincidência que entrelaça os circassianos a outro povo é o aniversário de 700 da independência escocesa que ocorreu na época de William Wallace, em 1314, depois da vitória na Batalha de Bannockburn; celebrado com um referendo pela independência da Escócia.[10]

A ligação entre os dois países vai além da bandeira circassiana ter sido desenvolvida por um diplomata escocês, e envolve algumas semelhanças culturais,[11] inclusive de danças como a dança escocesa curiosamente chamada de círculo circassiano.[12]

Dança circassiana

Um trecho traduzido da segunda página do único livro inteiramente dedicado a essa tragédia[13]: O oficial russo Ivan Drozdov descreveu a cena ao redor de Sochi enquanto os russos estavam celebrando: “Na estrada nossos olhos encontraram uma imagem atordoante: corpos de mulheres, crianças e idosos, esquartejados e parcialmente devorados por cães. Deportados abatidos por fome e doenças, quase fracos demais para movimentar as pernas, colapsando de exaustão e se tornando presas para cães enquanto ainda vivos.”

Em 1869 Qbaada foi estabelecida por imigrantes russos e renomeada Krasnaya Polyana (Campina Vermelha), uma referência a todo o sangue derramado no campo durante a batalha final.

Outra cena grotesca é descrita no livro do historiador galês Oliver Bullough Let Our Fame Be Great: Journeys Among the Defiant People of the Caucasus e outros jornalistas: cabeças de circassianos derrotados na guerra sendo coletadas como troféus.[14]<

A Circássia e o Povo Circassiano

Walter Richmond especulou em seu livro The Circassian Genocide que os circassianos sejam descendentes dos hatitas, que habitaram uma área próxima (Anatólia, atual Turquia) e falavam uma língua com semelhanças em relação às línguas caucasianas da costa Noroeste (Circássia e Abcázia).

No século XIII o Norte do Cáucaso, inclusive a Circássia, sofreu ataques e invasões do Império Mongol. Um fato que muitos ignoram é o passado cristão[15] dos circassianos. Estes teriam se convertido ao islamismo apenas na época da guerra e consequente genocídio. Provavelmente por influência disso, circassianos tendem a ser bem mais tolerantes e brandos em relação aos dogmas do islã; algo que poderia ser comparado ao povo libanês.

Antes do cristianismo, havia os mitos próprios dos povos do Cáucaso.[16] Um grande corpus de mitos, as Sagas Narth, entesoura tradições e crenças extremamente antigas, com muitos paralelos com os contos da Índia Védica, a Escandinávia pagã e a Antiga Grécia.

Os mamelucos do Oriente Médio eram essencialmente georgianos e circassianos, embora alguns tivessem outras origens. Apesar de ter sido a nação nobre do Cáucaso, exercendo influência sobre os outros países, em determinadas épocas as pessoas vendiam os filhos como escravos como único meio de manter a autonomia financeira. Isso originou tanto os mamelucos quanto as concubinas dos haréns. Isso também é, parcialmente, a razão do termo “caucasiano” ter sido usado como sinônimo de etnicamente branco. Quando a Circássia era conhecida e enaltecida pelos países do Ocidente, os circassianos foram considerados um ideal de beleza.

A língua circassiana está ameaçada, com aproximadamente 1,5 milhão de falantes. De acordo com os 4 níveis de risco da Unesco, a língua circassiana se encontra no primeiro nível (vulnerável): A maioria das crianças fala a língua, mas apenas em poucos locais (em casa). Se a estimativa de que existem 3,7 milhões de circassianos no total, ao redor do mundo, estiver correta, menos da metade da população circassiana domina a língua; a maior parte dos que são fluentes são os que permaneceram na pátria.

O circassiano se destaca por ser uma língua ergativa, pelo complexo sistema fonético e sua formação de palavras.

Carachai-Circássia

A família de línguas do Noroeste caucasiano divide-se desta maneira[17]: Ubykh, circassiano, abcás-abaza.

Circassiano - Leste: besleney e cabardiano. Oeste - natukhay, shapsegh, hakuchi, bzhedukh, chemgwi, hatukhay, yegerukay.

Cabardino-Balcária.

Abcás-abaza - abaza (tapanta).

Abcás - bzyb (gudaut), sadzwa, abhzwi, samurzakan, ashkarwa (abaza).

O alfabeto circassiano foi desenvolvido por volta de 1918. Antes disso ninguém (com exceção de escrivães e clérigos) fazia uso da escrita. Poucos livros sobre o Norte do Cáucaso e sobre a Circássia foram escritos em inglês ou traduzidos para o inglês, com exceção de livros sobre as guerras na Chechênia.

Depois do genocídio aconteceram a deportação e consequente diáspora, e a fragmentação do território nacional. Hoje a diáspora circassiana é a maior do mundo, com 86% de todos circassianos vivendo fora da terra de origem de suas famílias. Os países com comunidades significativas são: Estados Unidos, Turquia, Egito, Israel, Palestina, Jordânia, Líbia, Síria, Iraque e Albânia (perto da fronteira com Kosovo, por terem fugido do conflito).

A Circássia hoje se encontra lamentavelmente dividida em 3 partes: República Adigueia (que usa a bandeira nacional da Circássia), Cabardino-Balcária e Caracai-Circássia. Os nomes compostos denotam a diluição da população circassiana feita pelo governo russo, favorecendo outras etnias; sejam os povos túrquicos Carachais, bálcaros ou os próprios russos. Apenas no estado Cabardino-Balcária os circassianos são a maioria.

Recentemente dois eventos foram um gatilho para a retomada do ímpeto nacionalista circassiano: A Guerra Civil na Síria e os Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, na antiga capital circassiana Sochi.

No primeiro caso uma parte da população circassiana se envolveu no conflito e a necessidade de repatriação se tornou emergencial, sendo sensível, mais do que nunca, o direito de retorno a pátria ser negado.

No segundo caso houve uma indignação e revolta generalizada pela diáspora circassiana contra os jogos no exato local do genocídio, depois de 150, sem qualquer menção por parte dos russos ao povo circassiano e ao fato ocorrido. circassianos compararam Sochi a Auschwitz, sendo um local de luto onde, de maneira alguma, deveriam ocorrer jogos olímpicos.

Referências

  1. Did the Age of Genocide Begin in Sochi?
  2. Continual Genocide on Circassians
  3. Richmond, Walter. The Circassian Genocide, Rutgers University Press, 2013.
  4. http://www.eurasianet.org/node/63530
  5. http://www.circassian-genocide.info/page.php?id=26
  6. http://www.ncas.rutgers.edu/center-study-genocide-conflict-resolution-and-human-rights/mid-nineteenth-century-genocidal-pacifica
  7. http://www.nbcnews.com/storyline/sochi-olympics/who-are-circassians-why-are-they-outraged-sochi-n23716
  8. http://www.historiadomundo.com.br/turca/guerras-turco-russas.htm
  9. http://hyeforum.com/index.php?showtopic=58538
  10. http://www.scotreferendum.com/
  11. http://thecircassianheritage2011.webklik.nl/page/scotland-circassia
  12. http://www.scottish-country-dancing-dictionary.com/dance-crib/circassian-circle.html
  13. http://books.google.com.br/books?id=LHlwZwpA70cC&printsec=frontcover&dq=circassian+genocide&hl=pt-BR&sa=X&ei=7Y9NU7rJDsK_sQTOqIHoBQ&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false
  14. http://www.balcanicaucaso.org/eng/Regions-and-countries/Russia/Sochi-the-Circassian-factor-146582
  15. http://www.kafkas.org.tr/english/kultur/din.html
  16. http://press.princeton.edu/titles/7375.html
  17. http://books.google.com.br/books?id=5FsLlweDug8C&pg=PA1&hl=pt-BR&source=gbs_toc_r&cad=4#v=onepage&q&f=false
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