Lista de monarcas soberanos durante as Guerras Napoleônicas

Quando do estopim das Guerras Napoleônicas, em 1803, Jorge III reinava sobre a Grã-Bretanha há 42 anos e permaneceu no trono mais 5 anos após o conflito.[1]

Este artigo lista os monarcas soberanos durante as Guerras Napoleônicas (1803-1815). O conflito foi decorrente das disputas de soberania e influência regional das principais nações europeias de então, a maioria das quais possuíam um sistema monárquico - absolutista ou constitucional - de governo.[2] No cerne do conflito estava a contínua expansão territorial do Império Francês sob o reinado de Napoleão I, da Casa de Bonaparte, e a consequente tentativa dos demais reinos europeus em conter seus avanços através de acordos diplomáticos e coalizações bélicas.

Neste período, a maioria dos Estados monárquicos eram governados pelo sistema de monarquia parlamentarista, no qual o monarca encabeça o poder executivo em concordância com um parlamento.[3] A exceção era a França que, desde o fim da Revolução Francesa, vinha sendo governada por Bonaparte de forma absolutista mesmo com a existência de jure de um órgão legislativo.[4]

Ao longo do conflito, diversas monarquias e casas reais foram depostas ou dissolvidas, como a Casa de Bourbon na Espanha e na própria França.[5] Em contrapartida, o desenrolar do cenário político no continente europeu também desencadeou transformações políticas abruptas como a transferência da corte portuguesa para o Brasil, que levaria uma década mais tarde à Independência do país e a instauração do Império do Brasil que perduraria até o fim do século XIX.[6] Entretanto, ao fim do conflito, grande parte dos Estados beligerantes mantiveram o sistema monárquico apesar das mudanças territoriais e econômicas.

Lista de monarcas

Reino Monarca Coroação Casa real Notas

Áustria

Imperador
Francisco I
(1768–1835)
11 de agosto de 1804 Habsburgo-Lorena Um dos monarcas mais influentes do período, Francisco I assumiu em 1792 o título de Imperador Romano-Germânico, do qual foi forçado a abdicar em 1804 em função de sua derrota na Batalha de Austerlitz. Ocupou paralelamente os tronos de Hungria, Boémia e Croácia. A partir de 1804, reorganizou o Arquiducado da Áustria e assumiu o título de Imperador Austríaco.

China

Imperador
Jiaqing
(1760–1820)
9 de fevereiro de 1796 Qing Jiaqing assumiu o trono chinês em 1796, sendo o sexto Imperador da Dinastia Qing. Seu reinado foi marcado pelo controle de rebeliões internas, tensões diplomáticas com o Império Birmanês e pelo crescente contato comercial com o Ocidente sem, no entanto, ter havido o envolvimento direto com as Guerras Napoleônicas.

Dinamarca e Noruega

Rei
Frederico VI
(1768–1839)
31 de julho de 1815 Oldemburgo Frederico atuava como Príncipe-Herdeiro Regente do Reino da Dinamarca desde 1784 em função da incapacidade mental de seu pai, Cristiano VII. Com a morte deste em 1804, durante a guerra, Frederico ascendeu ao trono herdando um Estado neutro no conflito e envolvido em questões paralelas contra os ingleses. Esteve aliado indiretamente à França e buscou enfraquecer a influência britânica no Mar do Norte através de uma série de conflitos.

Espanha

Rei
Carlos IV
(1748–1819)
14 de dezembro de 1788 Bourbon Carlos IV herdou o trono espanhol em 1788 após a morte de seu pai, Carlos III, e seu reinado foi marcado por variações significativas no alinhamento com as demais nações europeias. Em geral, seu reinado manteve a oposição aos ingleses sob influência de seus ministros de Estado, especialmente de Manuel de Godoy. Diante de uma crise política, Carlos IV foi levado a abdicar em 1808 após o motim de Aranjuez.

Rei
Fernando VII
(1784–1833)
19 de março de 1808 Fernando VII herdou o trono espanhol imediatamente após a abdicação de seu pai, Carlos IV, com quem mantinha uma série de rivalidades pessoais. No entanto, assumiu o país em meio ao iminente avanço de Napoleão I sobre o território espanhol. Uma tentativa frustrada de uma aliança com a França culminou nas Abdicações de Baiona em 1808, regressando ao trono somente em 1815 com a derrota definitiva das forças napoleônicas.

Estados Pontifícios

Papa
Pio VII
(1742–1823)
21 de março de 1800 Cardeal Chiaramonti foi eleito Papa no Conclave de 1799-1800 e buscou inicialmente uma relativa conciliação com o Império Francês, formalizada pela assinatura da Concordata de 1801. Diante de sua recusa em apoiar as políticas posteriores de Napoleão I, Pio VII foi detido pelos franceses em Savona, Piemonte e Fontainebleau, respectivamente, a partir de 1806. Tal situação se encerrou somente em 1814 diante da abdicação de Napoleão.

França

Imperador
Napoleão I
(1769–1821)
18 de maio de 1804 Bonaparte Napoleão Bonaparte ascendeu à política como um proeminente comandante militar durante as Guerras Revolucionárias. Em 1799, assumiu o cargo de Primeiro Cônsul e, posteriormente, foi coroado Imperador dos Franceses em 1804 com a constituição do Império Francês. Sua política expansionista e postura diplomática agressiva culminaram na eclosão de diversos conflitos com outros monarcas europeus por mais de uma década. Napoleão foi derrotado na Batalha de Paris em 1814, mas reassumiu o poder brevemente em 1815 antes de sua derrota definitiva na Batalha de Waterloo.

Hanôver

Rei-Eleitor
Jorge III
(1738–1820)
[nota 1]
12 de outubro de 1814 Hanôver Jorge III assumiu o trono britânico em 1760, sendo neto de seu antecessor Jorge II. Seu reinado relativamente estável internamente foi profundamente marcado pela independência das colônias americanas e pelo teatro de operações que resultou no conflito no continente europeu. Jorge III, no entanto, figura como uma relevante liderança na coalização de forças de várias nações europeias e outros monarcas contra o expansionismo napoleônico neste período.

Reino Unido

Rei
Jorge III
(1738–1820)
22 de setembro de 1761

Japão

Imperador
Kōkaku
(1771–1840)
29 de dezembro de 1780 Casa Imperial

Liechtenstein

Príncipe
João I José
(1760–1836)
24 de março de 1805 Liechtenstein

Mónaco

Príncipe
Honorato IV
(1758–1819)
12 de março de 1795 Grimaldi

Nápoles

Rei
Joaquim I
(1767–1815)
1 de agosto de 1808 Murat Inicialmente um Marechal de França das Guerras Revolucionárias, Joaquim Murat foi entronizado como Rei de Nápoles pelo próprio Napoleão I em 1806 após a conquista daquele território pelos franceses na Batalha de Austerlitz. Buscou manter seu conturbado direito ao trono mesmo após a derrota de Napoleão em 1814, quando deu início à eclipsada Guerra Napolitana. Em 1815, Murat foi capturado e deposto por tropas leais a Fernando I.

Império Otomano

Sultão
Selim III
(1761–1808)
7 de abril de 1789 Otomana

Sultão
Mamude II
(1785–1839)
28 de julho de 1808

Países Baixos

Rei
Guilherme I
(1772–1843)
30 de março de 1814 Orange-Nassau Guilherme tornou-se Príncipe de Orange em 1806 após a morte de seu pai, Guilherme V, mas perdeu suas possessões territoriais com a dissolução do Sacro Império Romano-Germânico e a subsequente criação da Confederação do Reno. Após a derrota de Napoleão I na Batalha de Leipzig em 1813 e a subsequente devolução dos territórios de Orange-Nassau, Guilherme assumiu o título de Príncipe Soberano dos Países Baixos.

Pérsia


Fate Ali Xá Cajar
(1772–1834)
17 de junho de 1797 Cajar

Portugal

Rainha
Maria I
(1734–1816)
13 de maio de 1777 Bragança

Prússia

Rei
Frederico Guilherme III
(1770–1840)
16 de novembro de 1797 Hohenzollern

Rússia

Imperador
Alexandre I
(1777–1825)
15 de setembro de 1801 Holsácia-Gottorp-Romanov

Sardenha

Rei
Vítor Emanuel I
(1759–1824)
4 de junho de 1802 Saboia

Saxônia

Rei
Frederico Augusto I
(1750–1827)
20 de dezembro de 1806 Wettin

Sicília

Rei
Fernando I
(1751–1825)
6 de outubro de 1759 Bourbon-Duas Sicílias

Suécia

Rei
Gustavo IV Adolfo
(1778–1837)
3 de abril de 1800 Holsácia-Gottorp

Rei
Carlos XIII
(1748–1818)
6 de junho de 1809

Toscana

Grã-Duquesa
Elisa
(1777–1820)
3 de março de 1809 Bonaparte

Vestfália

Rei
Jerônimo Napoleão I
(1784–1860)
8 de julho de 1807 Bonaparte

Württemberg

Rei
Frederico I
(1754–1816)
1 de janeiro de 1806 Württemberg

Linha do tempo

Reino Guerras Napoleônicas
(18 de maio de 1803 – 20 de novembro de 1815)
1803 1804 1805 1806 1807 1808 1809 1810 1811 1812 1813 1814 1815
Áustria Francisco I
China Jiaqing
Dinamarca e Noruega Cristiano VII Frederico VI
Espanha Carlos IV Fernando VII José I Fernando VII
Estados Papais Papa Pio VII
França [nota 2] Napoleão I Luís XVIII
Hanôver Jorge III
Japão Kōkaku
Nápoles Fernando IV José I Joaquim I
Império Otomano Selim III Mamude II
Países Baixos [nota 3] Guilherme I
Portugal Maria I
Prússia Frederico Guilherme III
Reino Unido Jorge III
Rússia Alexandre I
Suécia Gustavo IV Adolfo Carlos XIII

Ver também

Notas

  1. O Reino de Hanôver e o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda foram governados em união pessoal pelos monarcas da Casa de Hanôver de 1714 a 1837, quando as coroas de ambas as nações foram assumidas por Vitória do Reino Unido e Ernesto Augusto I, respectivamente.
  2. De 21 de setembro de 1792 até 18 de maio de 1804, a França foi regida sob a entidade política da Primeira República Francesa que contemplava um regime político republicano liderado pela Convenção Nacional.
  3. A região histórica da Holanda esteve organizada como República Batava de 1795 a 1806 e, sequencialmente, como Reino da Holanda de 1806 a 1810. Durante os eventos relativos às Guerras Napoleônicas, o Estado foi governo por Luís I.

Referências

  1. «George III (r. 1760-1820)». Royal.uk 
  2. Mikaberidze 2020, p. 18.
  3. Mikaberidze 2020, p. 22-25.
  4. Mikaberidze 2020, p. 72.
  5. Oliveira Lima 1908, p. 18-22.
  6. Oliveira Lima 1908, p. 55-56.

Bibliografia

  • v
  • d
  • e
Tipos
Coroa de São Eduardo
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Notas
(C) Nos 15 membros da Commonwealth, o monarca, à excepção do Reino Unido, é representado por um Governador Geral. * (J) Monarca discutível como sendo o verdadeiro Chefe de Estado.* (Q) Tecnicamente uma monarquia constitucional mas mostra eficazes propriedades de uma monarquia absoluta. (U) O monarca utiliza o título não-monárquico de "Presidente".