Minas da Caveira

Escombreira das Minas da Caveira

As Minas da Caveira são um local perto de Canal Caveira onde existiu actividade mineira, que data de há mais de 2000 anos. São minas abandonadas na 'Serra da Caveira' que faz parte da Serra de Grândola no Município de Grândola, Alentejo / Portugal. A actividade mineira foi iniciada oficialmente em 1863 tendo sido terminada em 1966. As Minas da Caveira pertencem a uma das 4 minas portuguesas desativadas na faixa pirítica do sul da Península Ibérica. Prata, Pirita, Cobre e Ouro foram os materiais extraídos nessas minas, mas outros também foram obtidos: copiapit, calcopirita, goethita, vitríolo de ferro, quartzo, galena e esfalerita.[1]

As coordenadas do 'Lugar Minas da Caveira' são: 38°07'19.7"N 8°29'59.3"W

História

Villa Mastim - Casa do engenheiro das Minas da Caveira

As Minas da Caveira já eram exploradas durante o Império Romano,[2][3] quando extraíam principalmente prata,[4] obtendo-se também cobre e ouro: “Os romanos não deixaram intactos estes jazigos, o que é provado por uma quantidade inumerável de poços e por imensos escoriais avaliados em 300.000 toneladas… À prova do domínio romano nestas paragens dada pelos escoriais e galerias da mina deve juntar-se a dos objectos arqueológicos que aí aparecem com frequência.[5]

A actividade de tipo familiar ou comunitário caracterizou a vida destas minas no período moderno. A exploração, mais ou menos continuada, durante o século XVII por Francisco Varão, que «descobriu certos tesouros no lugar do canal, termo de Grândola» (Alvará de 22 de Maio de 1624), foi continuada pelos seus descendentes.[6] Em 1855, Nicolau Biava, um mineiro espanhol, registou a mina da Serra da Caveira, identificada «a partir de vestigios superficiais de pirite de ferro cobriço»; ele encontrou «poços antigos e silos e muitas escórias nos vales que fazem supor que antigamente o jazigo foi grandemente explorado». Os direitos do registo foram posteriormente transferidos para Deligny que obteria a concessão da mina em 1863[7] continuando com a sua exploração. Em 1880, um incêndio foi iniciado pela combustão espontânea do filão principal das piritas tendo uma duração de 3 anos.[8] Em 1890, a empresa inglesa A. White Crookston adquiriu a concessão e reiniciou a actividade mineira. Com esta reactivação foi construída a barragem de Pêro Cuco nos montes circundantes a Norte com a finalidade de abastecimento de água, o que também era necessário para a preservação da vida natural, fauna e flora. Entre 1905 e 1921, a actividade mineira continuou de forma irregular; estando a mina sob a direcção de Arthur C. Harris foram exportados concentrados de cobre, prata, ouro, chumbo e zinco. Esta actividade terminou numa altura em que era explorada pela empresa Caveira Limited.[9]

Açude das Minas da Caveira

As Minas da Caveira consistem em três depósitos separados por massas de material estéril, o que levou a concentrar os esforços na exploração subterrânea. Em 1936 surge a Empresa Exploradora de Minas, ligada ao grupo SAPEC, a propor-se reactivar a mina mediante concessões por parte do governo no domínio dos transportes. Deu-se então início à exploração destas minas para a produção de enxofre e ácido sulfúrico,[10] a qual viria a cessar na década de 1960.

Vida e Cultura

Aos mineiros poucas oportunidades eram oferecidas, que lhes permitissem uma vivência após finalizado o seu trabalho quotidiano. Para além dos edifícios das oficinas, dos armazéns de equipamentos, comestíveis e de administração, eram de igual forma imprescindíveis as casas da malta e os quartéis, estas as designações para o conjunto habitacional destinado aos trabalhadores. Nas Minas da Caveira existem também várias ruínas que demonstram a existência no passado de uma capela, uma prisão, uma casa de explosivos, uma escola e uma cantina / sala de convívio. Parte dos edifícios descritos foram reconstruídos após a aquisição das Minas da Caveira pela empresa portuguesa Alcaxua no ano de 2013.

A actividade mineira criou uma identidade comunitária que se exprimia nas festividades locais. Em 1909, o administrador de Grândola informava o Governador Civil:

«Nos dias 18 e 19 do corrente [mês de Maio] realizaram-se na mina da Serra da Caveira, deste concelho, os importantes festejos anuais. Tem a mina uma população de duas mil almas e a festa chama ali enorme concorrência deste concelho e dos vizinhos, bem como da próxima mina do Lousal. [...] Têm os aludidos festejos excepcional importância já pela grande aglomeração de gente, já porque neles predomina o elemento mineiro. [...] as minas acolhem grande número de indivíduos de mau comportamento [...]. Por ligeiros motivos originam-se rixas sangrentas a que não posso pôr termo, tanto mais que muitos dos mineiros estão armados».[11][12]

O Lugar Minas da Caveira foi enriquecido com vários edifícios actualmente de valor cultural não qualificado, incluindo o 'Palácio' datado de 1890 (a mansão de estilo inglês-colonial que albergava os proprietários das Minas da Caveira; registo predial 1936), a residência do director (completamente em ruínas após o grande incêndio no ano de 2003) e a casa do engenheiro, que passou a chamar-se Villa Mastim e cuja concepção é atribuída ao célebre arquitecto Raul Lino da Silva (1879-1974) devido às particularidades da sua arquitectura.

Meio Ambiente

Desenvolvimento agrário e florestal das Minas da Caveira

Os operadores das Minas da Caveira em declínio na década de 1950 deixaram este espaço sem realizar a sua recuperação. A situação da poluição era desconhecida e preocupante. Os resíduos depositados na escombreira principal podem ser vistos de uma grande distância e são estimados em vários milhares de toneladas.[13] Eles contêm um elevado teor em enxofre, mas também quantidades consideráveis ​​de cobre, prata e ouro. Cristais de enxofre ainda são visíveis em alguns lugares hoje. Quando chove muito, o enxofre chega ao rio Sado através da Ribeira de Grândola, mas os restantes montantes não têm hoje significado ambiental:

A configuração local não dispersiva da rede de drenagem em torno de Caveira não parece constituir uma das principais razões limitadoras da dispersão dos metais. Com efeito, o transporte fluvial de sedimentos metalíferos deveria originar uma anomalia com pico na mina e uma cauda relativamente extensa para a Ribeira de Grândola, que não se observa.[9]

Com o início de novas actividades no Lugar Minas da Caveira no ano de 2013, pode ser observada uma recuperação significativa do meio ambiente, em parte devido à criação de novos recursos hídricos (o Açude das Minas da Caveira com 18000 m2 de superfície e 55.000 m3 de capacidade) e de zonas húmidas, por outro lado através de reflorestação com espécies diversas (canforeiras, dragoeiros, robinias e fruteiras).

  1. Oliveira, Maria Da Luz. «Copper Ores and Settlements in the South of Portugal» (em inglês). Consultado em 9 de março de 2021 
  2. Carvalho, J. Silva (1954). ALGUMAS LAVRAS AURÍFERAS ROMANAS. Estudos, Notas e Trabalhos, Vol. IX (fasc.1/4). Lisboa: LNEG. p. 4 
  3. Macías, Juan Aurelio Pérez (2015). La Bética en tiempos de Augusto : aspectos históricos y arqueológicos. C. Márquez, Enrique Melchor Gil. Córdoba [Spain]: UCOPress, Editorial Universidad de Córdoba. p. 296. OCLC 934436988 
  4. Macías, Juan Aurelio Pérez; Rego, Miguel (24 de outubro de 2018). «LA PRODUCCIÓN METÁLICA DE ÉPOCA ROMANA EN MINA DE SÃO DOMINGOS (MÉRTOLA, PORTUGAL)». Conimbriga. LVII (em espanhol): 9. ISSN 1647-8657. doi:10.14195/1647-8657_57_1. Consultado em 18 de março de 2021 
  5. Vasconcelos, J. L. (1914). «Excursão arqueológica à Extremadura Transtagana: II - Grândola». Lisboa: Museu Nacional de Arqueologia. O Arqueólogo Português. XIX: 310 
  6. Guimarães, Paulo Eduardo (2001). Indústria e conflito no meio rural. Évora: Publicações do Cidehus. pp. 77–111. OCLC 982183081 
  7. Diário do Governo (DG) de 15 de Outubro de 1862
  8. Monteiro, Severiano (1889). Catálogo Descritivo da Secção de Minas in “Exposição Industrial Portuguesa de 1888”. Lisboa: Imprensa Nacional. p. 105 
  9. a b Mateus, António; Figueiras, Jorge; Matos, João Xavier; Gonçalves, Mário Abel; Lopes, Rui; Labaredas, José; Beleque, Andreia (2008). «Condicionantes impostas à dispersão de metais acumulados em escombreiras mineiras : o exemplo de Caveira, Faixa Piritosa Ibérica». A Terra: conflitos e ordem. Consultado em 16 de março de 2021 
  10. Matos, João (2006). «Reabilitação ambiental de áreas mineiras do sector português da Faixa Piritosa Ibérica: estado da arte e prespectivas futuras.» (PDF). Boletín Geológico y Minero 
  11. Arq. Mun. Grândola, Administração do Concelho, Livro de registo da correspondencia expedida para o Govemo Civil de Lisboa, 1909-1911, fl. 18 e 18 v., of. de 1/06/1909
  12. Guimarães, Paulo Eduardo (2001). Indústria e conflito no meio rural: Os mineiros alentejanos (1858-1938). A construção da vida social. Évora: Publicações do Cidehus. pp. 177–222 
  13. Oliveira, J. T.; Quesada, C.; Pereira, Z.; Matos, J. X.; Solá, A. R.; Rosa, D.; Albardeiro, L.; Díez-Montes, A.; Morais, I. (2019). «South Portuguese Terrane: A Continental Affinity Exotic Unit». The Geology of Iberia: A Geodynamic Approach (em inglês): 173–206. doi:10.1007/978-3-030-10519-8_6. Consultado em 9 de março de 2021