Raio clássico do elétron

O raio clássico do elétron é uma combinação de quantidades físicas fundamentais que definem um comprimento de escala para os problemas que envolvem os elétrons que interagem com a radiação eletromagnética. De acordo com a compreensão moderna, o elétron é uma partícula elementar com carga puntual, sem extensão espacial. Tentativas de modelar o elétron como uma partícula não-puntual são consideradas mal-concebidas e contra-pedagógicas.[1] No entanto, é útil para definir um comprimento que surge nas interações do elétron em problemas de escalas atômicas. O raio clássico do elétron é dado como (em unidades SI):

r e = 1 4 π ε 0 e 2 m e c 2 = 2 , 8179403227 ( 19 ) × 10 15  m , {\displaystyle r_{\text{e}}={\frac {1}{4\pi \varepsilon _{0}}}{\frac {e^{2}}{m_{\text{e}}c^{2}}}=2,8179403227(19)\times 10^{-15}{\text{ m}},}

onde e {\displaystyle e} e m e {\displaystyle m_{\text{e}}} são a carga elétrica e a massa do elétron, c {\displaystyle c} é a velocidade da luz, e ε 0 {\displaystyle \varepsilon _{0}} é a permissividade do vácuo.[2] Este valor numérico é várias vezes maior do que o raio do próton.

Em unidades CGS, o fator permissividade não é considerado, mas o raio clássico do elétron mantém o mesmo valor.

O raio clássico do elétron é às vezes conhecido como raio de Lorentz ou comprimento do espalhamento de Thomson. É uma das três escalas relacionadas de comprimento, sendo as outras duas o raio de Bohr e o comprimento de onda Compton do elétron. O raio clássico do elétron é obtido a partir da massa do elétron  m e {\displaystyle m_{\text{e}}} , da velocidade da luz  c {\displaystyle c}  e da carga do elétron  e {\displaystyle e} . O raio de Bohr é obtido a partir de m e {\displaystyle m_{\text{e}}} , e {\displaystyle e}  e da constante de Planck  h {\displaystyle h} . O comprimento de onda Compton é obtido a partir de  m e {\displaystyle m_{\text{e}}} , h {\displaystyle h} e c {\displaystyle c} . Qualquer uma dessas três escalas de comprimento pode ser escrita em termos de qualquer outra usando a constante de estrutura  α {\displaystyle \alpha } :

r e = α c m e c 2 = α λ e 2 π = α 2 a 0 . {\displaystyle r_{\text{e}}={\alpha {{\hbar c} \over {m_{\text{e}}c^{2}}}}={\alpha {\lambda _{\text{e}} \over 2\pi }}=\alpha ^{2}a_{0}.}

Derivação

A motivação para a obtenção do raio clássico do elétron pode estar no cálculo da energia necessária para manter uma quantidade de carga q {\displaystyle q} em uma esfera de um determinado raio r {\displaystyle r} .[3] O potencial eletrostático a uma distância r de uma carga q {\displaystyle q} é

V ( r ) = 1 4 π ε 0 q r {\displaystyle V(r)={\frac {1}{4\pi \varepsilon _{0}}}{\frac {q}{r}}} .

Para trazer uma quantidade adicional de carga  d q {\displaystyle dq} desde o infinito, necessita-se colocar energia no sistema, d U {\displaystyle dU}

d U = V ( r ) d q {\displaystyle dU=V(r)dq} .

Ao assumir que a esfera tem uma densidade de carga constante, ρ {\displaystyle \rho } , temos

q = ρ 4 3 π r 3 {\displaystyle q=\rho {\frac {4}{3}}\pi r^{3}} e d q = ρ 4 π r 2 d r {\displaystyle dq=\rho 4\pi r^{2}dr} .

Fazendo a integração de  r {\displaystyle r} começando em zero até um raio final r {\displaystyle r} leva-nos à expressão da energia total, U {\displaystyle U} , necessária para manter a carga total q {\displaystyle q} em uma esfera uniforme de raio r {\displaystyle r} :

U = 1 4 π ε 0 3 5 q 2 r {\displaystyle U={\frac {1}{4\pi \varepsilon _{0}}}{\frac {3}{5}}{\frac {q^{2}}{r}}} .

Esta é a chamada auto-energia eletrostática do objeto. A carga q {\displaystyle q} é agora interpretada como um elétron de carga  e {\displaystyle e} e energia U {\displaystyle U} definida igual à massa-energia relativística do elétron, m c 2 {\displaystyle mc^{2}} e o fator numérico 3/5 é ignorado como sendo específico para o caso especial de uma densidade de carga uniforme. O raio r {\displaystyle r} é, então, definido como sendo o raio clássico do elétron, r e {\displaystyle r_{\text{e}}} e chega-se à expressão dada acima.

Note que esta derivação não dizer que r e {\displaystyle r_{\text{e}}} é o raio de um elétron. Ela apenas estabelece uma ligação dimensional entre a energia eletrostática e a massa-energia do elétron.

Discussão

O raio do elétron ocorre no limite clássico das teorias modernas, tais como o espalhamento Thomson não-relativístico e a fórmula relativística Klein–Nishina. Além disso, r e {\displaystyle r_{\text{e}}} é mais ou menos o comprimento de escala em que a renormalização se torna importante na eletrodinâmica quântica. Isto é, em distâncias pequenas, flutuações quânticas no vácuo ao redor de um elétron começam a ter efeitos calculáveis, que tem consequências mensuráveis na física atômica e de partículas.

Referências

  1. Curtis, L.J. Atomic Structure and Lifetimes: A Conceptual Approach. [S.l.: s.n.] ISBN 0-521-53635-9 
  2. David J. Griffiths, Introdução à Mecânica Quântica, Prentice-Hall, 1995, p. 155. ISBN 0-13-124405-1
  3. Young, Hugh. University Physics, 11th Ed. [S.l.: s.n.] ISBN 0-8053-8684-X 

Ligações externas

  • Escalas de comprimento em Física: o raio clássico do elétron