San Pellegrino in Vaticano

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Igrejas no Vaticano em 1748 no Mapa de Nolli
1
Basílica de São Pedro
2
San Pellegrino
3
Sant'Anna
4
Santo Stefano degli Abissini
5
Santa Maria della Pietà
6
Santi Martino e Sebastiano degli Svizzeri
7
San Salvatore in Ossibus
Igrejas demolidas
9
Santo Stefano degli Ungheresi
10
Santa Marta
Igreja de São Peregrino no Vaticano
San Pellegrino in Vaticano
San Pellegrino in Vaticano
Fachada da igreja pintada por Achille Pinelli em 1834
Estilo dominante Barroco
Fim da construção século XVI
Religião Igreja Católica
Diocese Diocese de Roma
Ano de consagração século VIII[1]
Área 180 m2 (20 x 9)
Geografia
País Itália
Região Roma
Coordenadas 41° 54' 18" N 12° 27' 25" E

San Pellegrino in Vaticano ou Igreja de São Peregrino no Vaticano é um antigo oratório na Via dei Pellegrini, no Vaticano, e dedicada a São Peregrino de Auxerre, um padre romano nomeado pelo papa Sisto II (r. 257–258) e martirizado na Gália no século III.[2] É uma das igrejas mais antigas do Vaticano.[3]

A igreja foi construída pelo papa Leão III por volta de 800 e recebeu o nome de "San Pellegrino in Naumachia", uma referência à naumaquia construída a noroeste do Castel Sant'Angelo e dedicada pelo imperador romano Trajano em 109. No século XVII, o papa Clemente X (r. 1670–1676) cedeu a igreja para a Pontifícia Guarda Suíça, que a utilizou para seus serviços religiosos, juntamente com Santi Martino e Sebastiano degli Svizzeri, até 1977. Depois da cessão, a igreja caiu em desuso e começou a se arruinar, mas foi restaurada no século XIX quando evidências de afrescos do século IX foram descobertos. Com o nome de San Pellegrino degli Svizzeri, foi transformada na igreja nacional da Suíça.[4]

A igreja atualmente serve como capela para a Pontifícia Gendarmaria e o corpo de bombeiros do Vaticano, sob o comando do capelão da corporação – atualmente o monsenhor Giulio Viviani.[3]

História

As origens da igreja são antigas, remontando ao século VIII,[1] um fato atestado em diversas passagens do Liber Pontificalis[5][6] e também em escavações arqueológicas conduzidas pelo monsenhor Anton de Waal em 1888.[7] De Waal descobriu antigas pinturas do século IX e outras dos séculos XIII e XIV.[8] Há uma tradição que conta que Carlos Magno, em sua coroação em 800, deu as relíquias de São Peregrino de Auxerre para esta igreja, a razão de seu nome.[3] Outra razão pode ter sido o serviço prestado pela igreja aos peregrinos (em latim: peregrini), uma vez que vizinho à igreja estava o Hospitale Francorum, um hospital para peregrinos franceses , e um cemitério.[2][9]

A igreja originalmente chamava-se San Pellegrino in Naumachia.[3][1][10] Uma naumaquia, literalmente "combate naval", é um lago artificial onde batalhas navais eram apresentadas para uma audiência. A "Paixão de Pedro e Paulo", do século V, reconta a crucificação de São Pedro e acrescenta: "Santos homens...levaram seu corpo em segredo e o depositaram sob um terebinto perto da naumaquia, no local chamado o Vaticano".[11] As ruínas da estrutura foram escavadas em 1743, entre a via Alberico et via Cola di Rienzo[12]. Hülsen sugeriu que esta estrutura, construída perto do Circo de Nero, à noroeste do Mausoléu de Adriano (atual Castel Sant'Angelo), que é posterior, é a naumaquia referida no nome da igreja[13] e chamou-a de "Naumachia Vaticana". Escavações posteriores ajudaram a identificar seu formato, tamanho e orientação. Era uma estrutura retangular com cantos internos e externos arredondados, com 120 metros de largura e, pelas estimativas dos arqueólogos, pelo menos 300 metros de comprimento na direção norte-sul. Esther Boise van Deman identificou o estilo das paredes de tijolo da fachada da naumaquia como sendo da época de Trajano.[14] Em 1932, Jérôme Carcopino relatou a descoberta, entre os Fasti Ostiensi, da dedicação pelo imperador Trajano, em 11 de novembro de 109, de uma naumaquia.[15] Desde então, esta "Naumachia Traiani" tem sido identificada como sendo a mesma "Naumachia Vaticana".[16][17]

O papa Pascoal I (r. 817–824) cedeu a igreja ao mosteiro de Santa Cecilia in Trastevere e o papa Leão IX (r.1049 1054) passou para o mosteiro de Santo Stefano degli Abissini. Um documento nos arquivos de Santa Maria in Via Lata, datado de 1030, registra que igreja estava localizada "fora do portão de São Pedro, o Apóstolo, não muito longe da Muralha Leonina da cidade" (em latim: ...foris portam b. Petri apostoli non longe a muris civitatis Leonianae). Do século XIII em diante, a igreja ficou sob o controle dos cônegos da Antiga Basílica de São Pedro, que promoveram uma reforma em 1590.

Como resultado da Paz de Vestfália (1648), a Pontifícia Guarda Suíça perdeu o direito de enterrar seus membros no Campo Santo Teutônico, no Vaticano, que ficou restrito aos alemães. Eles também perderam o direito de utilizar sua pequena capela em Santa Maria della Pietà in Camposanto dei Teutonici. Em 1653, Johann Rudolf Pfyffer von Altishofen, comandante da Guarda Suíça, obteve do papa Inocêncio X o direito de utilizar a igreja de San Pellegrino e seu cemitério. Ele próprio está sepultado na igreja.[18]

Em 1671, o papa Clemente X cedeu-a definitivamente para a Guarda Suíça, que a utilizou para seus serviços religiosos até 1977 em conjunto com Santi Martino e Sebastiano degli Svizzeri.[2] O cemitério suíço está atrás da igreja. Por séculos, membros da Guarda Suíça foram enterrados na cripta da igreja.[19]

Arquitetura

As partes mais antigas do edifício atual datam do século XV. A igreja recebeu muitos elementos decorativos novos entre os séculos XII e XVIII. Entre os séculos XIII e XV, diversos papas, como Inocêncio III, Gregório IX, Bonifácio IX e Nicolau V demonstraram um interesse especial pela igreja.

Exterior

A Guarda Suíça encomendou, em 1671, a fachada da igreja, em estilo neoclássico.[2] É uma fachada simples com um par de de colunas duplas dóricas sustentando um entablamento coroado por um frontão triangular. O grande nicho de topo arredondado sobre a entrada abriga uma estátua de São Peregrino.[20]

Interior

Os túmulos dos antigos capitães da Guarda Suíça também ficam na igreja.[3][2] No interior estão restos de alguns antigos afrescos, incluindo um "Cristo Pantocrator".[3][2] Do edifício original, apenas a abside estava decorada com afrescos.

O teto da igreja foi decorado com caixotões de madeira, populares durante o Renascimento e o Barroco, e provavelmente é do século XVII. Entre seus caixotões azuis, verdes e dourados estão inseridos os brasões dos comandantes da Guarda Suíça, como os lírios da família Pfyffer von Altishofen[18] e a flor da família Röist.

Referências

  1. a b c Nibby 1839
  2. a b c d e f Paolucci, Antonio (30 de maio de 2010). «La fede dei viaggiatori e il sangue degli eroi». L'Osservatore Romano (em italiano) 
  3. a b c d e f Gori 2008
  4. Howard & De Montebello 1983
  5. Duchene 1886
  6. Davis 1992
  7. de Waal 1889
  8. Dykmans 1967, pp. 581–584
  9. Molard 1896
  10. Gregorovius 2010, p. 24
  11. Barnes, Arthur (2006), St. Peter in Rome and His Tomb on the Vatican Hill, ISBN 978-1-4286-5075-6, Kessinger Publishing 
  12. Platner 1929, p. 358.
  13. Jordan & Hülsen 1907, pp. 660–662
  14. Boise van Deman 1912, pp. 416–417
  15. Carcopino 1932, p. 375
  16. Bennett 1997, pp. 150–151
  17. Richardson 1992
  18. a b Website of the Papal Swiss Guards. «The Pfyffer von Altischofen» [ligação inativa]
  19. Command of the Swiss guards. «The Lateran pact». Vatican State [ligação inativa]
  20. Patrons of the Arts in the Vatican Museums 2001, p. 145

Bibliografia

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  • Richardson, L. (1992). A New Topographical Dictionary of Ancient Rome. [S.l.]: JHU Press. ISBN 978-0-8018-4300-6 
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  • Cópia arquivada (PDF) (em inglês), Patrons of the Arts in the Vatican Museums, 2010, consultado em 7 de junho de 2015, cópia arquivada (PDF) em |arquivourl= requer |arquivodata= (ajuda) 🔗 

Leitura complementar

  • Webb, Matilda (2001). The Churches and Catacombs of Early Christian Rome (em inglês). Brighton: Sussex Academic Press. p. 34. ISBN 1-902210-57-3 

Ligações externas

  • «Uma das raras fotos da igreja» (em italiano)