Seriema

 Nota: Este artigo é sobre a família Cariamidae, que inclui as seriemas e as seriemas-de-perna-preta. Para a espécie, veja Cariama cristata.
Como ler uma infocaixa de taxonomiaSeriema
Ocorrência: 16–0 Ma
O
S
Pg
N

Mioceno Médio – Holoceno

Seriema (Cariama cristata)
Seriema (Cariama cristata)
Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante (IUCN 3.1)
Classificação científica
Domínio: Eukaryota
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Cariamiformes
Superfamília: Cariamoidea
Família: Cariamidae
Bonaparte, 1853
Distribuição geográfica
Alcances da seriema (em vermelho) e da seriema-de-perna-preta (em preto)
Alcances da seriema (em vermelho) e da seriema-de-perna-preta (em preto)
Gêneros
Cariama
Chunga
Noriegavis

As seriemas são os únicos membros vivos da família de aves Cariamidae, que também é a única linhagem sobrevivente da ordem Cariamiformes. Foram classificadas anteriormente dentro da ordem Gruiformes, mas dados moleculares sugerem uma posição de seriemas dentro de um clado, que também inclui falcões, papagaios e passeriformes,[1] bem como as extintas aves-do-terror (Phorusrhacidae).[2][3]

As seriemas são aves territoriais grandes, de pernas e pescoços longos, que variam de 70 a 90 cm. A família Cariamidae inclui dois gêneros e duas espécies que ocorrem em habitats semi-abertos e secos da América do Sul: a seriema ou seriema-de-perna-vermelha (Cariama cristata) e a seriema-de-perna-preta ou chunga-de-perna-preta (Chunga burmeisteri). A espécie Cariama cristata é encontrada em território brasileiro (onde é conhecida apenas como seriema) e também na Argentina, Bolívia, Uruguai e Paraguai. A espécie Chunga burmeisteri, por sua vez, não ocorre no no Brasil, sendo encontrada apenas na região do Chaco, na Argentina, Bolívia e Paraguai.[4]

A palavra seriema é de origem tupi, correspondente a çariama, derivando das palavras çaria (crista) e am (erguida). O nome é grafado de várias maneiras, como siriema, sariama e çariama.[5]

Descrição

As seriemas são aves médias a grandes, medindo em média 75–90 cm (para Cariama cristata) e 70–85 cm (para Chunga burmeisteri) de comprimento.[6] A plumagem é macia e solta, em tons de cinza com uma leve tonalidade amarela. Suas pernas e pescoços são longos, enquanto suas asas são curtas e arredondadas, refletindo seu estilo de vida. Elas estão entre as maiores aves terrestres endêmicas dos Neotrópicos (atrás apenas das emas).[4]

O bico é curto, profundo e levemente curvado, avermelhado em Cariama. Apenas a seriema C. cristata possui uma crista na testa.[6]

Ambas as espécies de seriema não apresentam dimorfismo sexual marcante.[7]

  • A seriema-de-perna-preta (Chunga burmeisteri) é menor e possui uma distribuição mais restrita.
    A seriema-de-perna-preta (Chunga burmeisteri) é menor e possui uma distribuição mais restrita.
  • A crista frontal da seriema-de-perna-vermelha (Cariama cristata) é única entre aves neotropicais.
    A crista frontal da seriema-de-perna-vermelha (Cariama cristata) é única entre aves neotropicais.
  • As seriemas têm asas curtas e raramente voam.
    As seriemas têm asas curtas e raramente voam.
  • Seriema, siriema ou seriema-de-perna-vermelha (Cariama cristata)
    Seriema, siriema ou seriema-de-perna-vermelha (Cariama cristata)

Distribuição e habitat

No Brasil, a seriema-de-perna-vermelha (Cariama cristata) é encontrada principalmente nas regiões Nordeste, Sudeste, Centro-Oeste e Sul. Também ocorre em países da América do Sul como como Bolívia, Paraguai, Uruguai e Argentina.[8] A seriema-de-perna-preta (Chunga burmeisteri) é encontrada na região do Chaco, no sul e sudeste da Bolívia através do Paraguai até o centro da Argentina.[9] Não há registros da espécie em território brasileiro.

Seriemas vivem em hábitats abertos na América do Sul, de florestas abertas a cerrados e pastagens. Os habitats típicos são a Caatinga, Cerrado e Chaco. No Chaco paraguaio, as duas espécies são parcialmente simpátricas, mas Chunga burmeisteri tipicamente habita áreas florestais mais secas.[10] A espécie Chunga burmeisteri é aparentemente restrita a altitudes mais baixas que Cariama cristata, podendo favorecer temperaturas mais altas.

Comportamento e ecologia

Ecologicamente, a seriema é a contraparte sul-americana da ave secretário. São onívoras, alimentando-se de insetos, serpentes, lagartos, anuros, aves jovens e pequenos roedores, com pequenas quantidades de alimento vegetal (incluindo milho e feijão). Na natureza e em cativeiro, a seriema agarra pequenos vertebrados com o bico e os golpeia contra o solo antes de desmembrá-los com o bico.[11]

Elas podem ser encontradas próximas a pastagens, e são comumente vistas forrageando em áreas com esterco de gado e cavalo, provavelmente beneficiando-se dos insetos que são atraídos pelas fezes dos animais.[11]

Reprodução

Seriemas são aves monogâmicas com cuidado biparental.[6] Elas normalmente nidificam em árvores pequenas,[11] apesar de passarem a maior parte de suas vidas correndo e caminhando no chão. Geralmente constroem seus ninhos utilizando gravetos forrando-o com estrume de gado, barro ou folhas secas. O tamanho típico da ninhada é geralmente de 1 a 3 ovos.[6] Ambos os pais auxiliam na construção do ninho, e os ovos são incubados por cerca de um mês antes da eclosão. Os filhotes nascem com penugem marrom-clara e ambos os pais fornecem aos filhotes alimentos que variam de minhocas a cobras. Os filhotes saltam para o chão para acompanhar os pais com algumas semanas de idade. Lá eles continuam a crescer até a independência, o que pode ocorrer um mês após a eclosão, embora só atinjam o tamanho adulto completo depois de cerca de quatro ou cinco meses de idade.[6]

Sistemática e evolução

Fóssil de Idiornis tuberculata

Acredita-se que estas aves sejam os parentes mais próximos do grupo de aves carnívoras gigantes (mais de 3 m de altura) chamadas "aves do terror" (Phorusrhacidae), que são conhecidas a partir de fósseis da América do Sul e do Norte.[12][2]

Várias outras famílias relacionadas, como Idiornithidae[13] e Bathornithidae,[14] faziam parte das faunas paleógenas na América do Norte e na Europa, e possivelmente em outros lugares também. No entanto, o registro fóssil das próprias seriemas é pobre, com duas espécies pré-históricas, ambas do Mioceno: Cariama santacrucensis e Noriegavis santacrucensis da Formação Santa Cruz da Argentina. Alguns dos fósseis da fauna do Eoceno do Sítio fossilífero de Messel (isto é, Salimia e Idiornis) também foram sugeridos como seriemas,[15] assim como o maciço predador Paracrax do Oligoceno da América do Norte,[14] embora seu status permaneça incerto.

Existem dois gêneros vivos na família Cariamidae, cada um com uma espécie:

  • Cariama (Brisson, 1760)
  • Chunga (Hartlaub, 1860)

Referências

  1. Mayr, Gerald (2009). «Cariamae (seriemas and allies)». Paleogene Fossil Birds. Berlin, Heidelberg: Springer. pp. 139–152. ISBN 978-3-540-89627-2 
  2. a b Hackett, S. J.; et al. (27 de junho de 2008). «A phylogenomic study of birds reveals their evolutionary history». Nova Iorque. Science. 320 (5884): 1763–1768. ISSN 1095-9203. PMID 18583609. doi:10.1126/science.1157704 
  3. Jarvis, E. D.; et al. (12 de dezembro de 2014). «Whole-genome analyses resolve early branches in the tree of life of modern birds». Nova Iorque. Science. 346 (6215): 1320–1331. ISSN 1095-9203. PMID 25504713. doi:10.1126/science.1253451 
  4. a b del Hoyo, J. Elliott; A. & Sargatal, J (1996). Handbook of the Birds of the world. 3. Hoatzin to Auks: Lynx Edicions 
  5. Costa, Lucimara Alves da Conceição (2011). «Estudo lexical dos nomes indígenas das regiões de Aquidauana, Corumbá e Miranda no estado de Mato Grosso do Sul: a toponímia rural» 
  6. a b c d e Winkler, David W.; Billerman, Shawn M.; Lovette, Irby J. (4 de março de 2020). «Seriemas (Cariamidae)». In: Billerman, Shawn M.; Keeney, Brooke K.; Rodewald, Paul G.; Schulenberg, Thomas S. Birds of the World. [S.l.]: Cornell Lab of Ornithology. Consultado em 15 de novembro de 2020 
  7. Blake, Emmet Reid (1977). Manual of Neotropical Birds. [S.l.]: University of Chicago Press. p. 529. ISBN 978-0-226-05641-8 
  8. ZOO - Governo do Distrito Federal (12 de fevereiro de 2020). «Seriema». Fundação Jardim Zoológico de Brasília. Consultado em 15 de novembro de 2020 
  9. Gonzaga, Luiz P.; Kirwan, Guy M.; de Juana, Eduardo (4 de março de 2020). «Black-legged Seriema (Chunga burmeisteri)». In: Shawn M. Billerman, Brooke K. Keeney, Paul G. Rodewald, Thomas S. Schulenberg. Birds of the World. [S.l.]: Cornell Lab of Ornithology. Consultado em 15 de novembro de 2020  !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de editores (link)
  10. Brook, D.M. (2014). «Ecological notes on seriema species in the Paraguayan Chaco, with observations on Chunga biology». Rev. Bras. Orn. 22 (2): 234–237 
  11. a b c Redford, Kent H.; Peters, Gustav (1986). «Notes on the Biology and Song of the Red-Legged Seriema (Cariama cristata)» (PDF). Journal of Field Ornithology. 57 (4): 261–269. ISSN 0273-8570. Consultado em 14 de novembro de 2020 
  12. Alvarenga, Herculano M.F.; Höfling, Elizabeth (2003). «Systematic revision of the Phorusrhacidae (Aves: Ralliformes)». Papéis Avulsos de Zoologia (São Paulo). 43 (4). ISSN 0031-1049. doi:10.1590/S0031-10492003000400001 
  13. Noriega, Jorge I.; Vizcaíno, Sergio F.; Bargo, M. Susana (2009). «First Record and a New Species of Seriema (Aves: Ralliformes: Cariamidae) from Santacrucian (Early-Middle Miocene) Beds of Patagonia». Journal of Vertebrate Paleontology. 29 (2): 620–626. ISSN 0272-4634. JSTOR 20627072. Consultado em 15 de novembro de 2020 
  14. a b Mayr, Gerald; Noriega, Jorge (2013). «A well-preserved partial skeleton of the poorly known early Miocene seriema Noriegavis santacrucensis (Aves, Cariamidae)». Acta Palaeontologica Polonica. ISSN 0567-7920. doi:10.4202/app.00011.2013. Consultado em 15 de novembro de 2020 
  15. Morlo, Michael; Schaal, Stephan; Mayr, Gerald; Seiffert, Christina (9 de dezembro de 2004). «An annotated taxonomic list of the Middle Eocene (MP 11) Vertebrata of Messel». CFS Courier Forschungsinstitut Senckenberg. 252: 95–108 

Ligações externas

  • «Seriema em PhotoAves» 
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