Universo de von Neumann

Na matemática, particularmente na teoria de conjuntos de Zermelo-Fraenkel, o universo de von Neumann, hierarquia de von Neumann dos conjuntos, ou hierarquia cumulativa, abreviado V, é uma classe definida por recursão transfinita: a classe dos conjuntos hereditariamente bem fundados. V é o modelo mais aceito da teoria de conjuntos de Zermelo-Fraenkel, pelo qual pode ser entendido intuitivamente como a classe de todos os conjuntos.

Definição de V

V é definida por recursão transfinita.

  • O primeiro nível é o conjunto vazio:
V 0 := {\displaystyle V_{0}:=\emptyset \!} .
  • Para um ordinal α, sendo P ( x ) {\displaystyle {\mathcal {P}}(x)} o conjunto das partes de x {\displaystyle x} :
V α + 1 := P ( V α ) {\displaystyle V_{\alpha +1}:={\mathcal {P}}(V_{\alpha })\!}
V β := α < β V α {\displaystyle V_{\beta }:=\bigcup _{\alpha <\beta }V_{\alpha }\!} .

É importante ressaltar que existe uma fórmula ϕ ( x , α ) {\displaystyle \phi (x,\alpha )} da linguagem da teoria de conjuntos de Zermelo-Fraenkel que representa " x V α {\displaystyle x\in V_{\alpha }} ".


Uma definição alternativa às três últimas, está dada pela fórmula:

V β := α < β P ( V α ) {\displaystyle V_{\beta }:=\bigcup _{\alpha <\beta }{\mathcal {P}}\left(V_{\alpha }\right)\!} .


  • Finalmente, sendo V a união de todos os Vα:
V := α O n V α {\displaystyle \mathbf {\mathsf {V}} :=\bigcup _{\alpha \in \mathbf {O} n}V_{\alpha }\!} .


O uso do símbolo de união na última linha constitui um abuso da linguagem, de modo que x V {\displaystyle x\in \mathbf {\mathsf {V}} } deve ser interpretado como "existe um ordinal α {\displaystyle \alpha } tal que x V α {\displaystyle x\in V_{\alpha }} ".

Note-se que para cada ordinal α, Vα é um conjunto; porém V não é um conjunto.

A denominação hierarquia cumulativa é usada pois V está definida sobre os ordinais, de modo que:

Se  α < β  então  V α V β  e  V α V β {\displaystyle {\mbox{Se }}\alpha <\beta {\mbox{ então }}V_{\alpha }\in V_{\beta }{\mbox{ e }}V_{\alpha }\subseteq V_{\beta }\!}

V e Zermelo-Fraenkel

Na presença dos demais axiomas de ZF, o enunciado x ( x V ) {\displaystyle \forall x\left(x\in \mathbf {\mathsf {V}} \right)} é equivalente ao Axioma da Fundação. Dessa maneira, conjuntos mal fundados, como x = { x } {\displaystyle x=\left\{x\right\}} . não pertencem a V e sua não existência pode ser provada em ZF. Além disso, todos os elementos de V são conjuntos, de modo que os denominados átomos, elementos primitivos ou Urelemente (elementos que não são conjuntos) não pertencem a V.
Se omitirmos o Axioma da Fundação de ZF, denominada ZF, então V é um modelo interno. Como para a construção de V não é necessário o Axioma da Fundação, dessa maneira é demonstrada a consistência relativa do Axioma da Fundação com relação aos demais axiomas de ZF, se eles são consistentes. Ainda podemos acrescentar a ZF axiomas contraditórios com o Axioma da Fundação, p.ex. o Axioma de anti-fundação de Aczel, mas então V não é mais um modelo dessa teoria.

Sendo ω {\displaystyle \omega } o conjunto dos números naturais e primeiro ordinal transfinito, V ω {\displaystyle V_{\omega }} é a classe dos conjuntos hereditariamente finitos. V ω {\displaystyle V_{\omega }} é um modelo de ZF menos o Axioma do infinito. Em V ω {\displaystyle V_{\omega }} temos todos os números naturais, mas não ω {\displaystyle \omega } . Os conjuntos em V ω + ω {\displaystyle V_{\omega +\omega }} são suficientes para fazer a maior parte da teoria de números, análise matemática, etc., ou seja a "matemática habitual". V ω + ω {\displaystyle V_{\omega +\omega }} é um modelo da Teoria de conjuntos de Zermelo, denominada Z mas como a definição de V ω + ω {\displaystyle V_{\omega +\omega }} precisa do Axioma da substituição, esse método não pode ser usado para definir um modelo interno de Z. Se κ {\displaystyle \kappa } é um cardinal inacessível, então V κ {\displaystyle V_{\kappa }} é um modelo de ZF e, portanto, a existência de cardinais inacessíveis não pode ser provada em ZF, se ZF é consistente.

Ver também

O universo construível de Gödel

O Axioma da Fundação