EMDR

Dessensibilização e reprocessamento por movimentos oculares, também conhecido pelo acrônimo de origem anglófona EMDR (Eye Movement Desensitization and Reprocessing), é um contestado método de psicoterapia desenvolvido por Francine Shapiro na década de 1990, na qual o paciente é solicitado a recordar imagens angustiantes; o terapeuta então direciona o paciente para um tipo de estímulo sensorial bilateral, como movimentos oculares de um lado para o outro ou toques manuais.[1] Está incluído em várias diretrizes baseadas em evidências para o tratamento do transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).[2][3][4]

Tem sido controverso; críticos argumentaram que os movimentos oculares não aumentam sua eficácia e carecem de uma teoria falsificável.[5] Embora várias metanálises tenham considerado tão eficaz quanto a terapia cognitivo-comportamental focada no trauma para o tratamento do TEPT, essas mesmas são preliminares, dados os baixos números nos estudos, as altas taxas de risco de viés do pesquisador e as altas taxas de abandono.[6][7]

Usos médicos

A pessoa que está sendo tratada é solicitada a relembrar imagens angustiantes enquanto gera um dos vários tipos de estímulos sensoriais bilaterais, como movimentos oculares de um lado para o outro ou toques manuais.[1][2] Segundo a diretriz de prática da Organização Mundial da Saúde de 2013: "Assim como a terapia comportamental cognitiva (TCC) com foco no trauma, o EMDR visa reduzir o sofrimento subjetivo e fortalecer as crenças adaptativas relacionadas ao evento traumático. Contudo, o método não envolve descrições detalhadas do evento, contestação direta de crenças, exposição prolongada ou terapias caseiras."[3]

Evidência

O número de evidências trazem resultados conflitantes, assim como recomendação de cautela na interpretação dos resultados devido ao baixo número de estudos incluídos, risco de viés do pesquisador, altas taxas de abandono e qualidade geral "muito baixa" de evidência em comparações com outras psicoterapias.[7]

Uma metanálise de 1998 descobriu que o método era tão eficaz quanto a terapia de exposição e os ISRS.[8] Quatro anos depois, os resultados concluíram que o EMDR não é tão eficaz nem duradouro como a terapia de exposição tradicional.[5] Já outras duas metanálises datadas de 2005 e 2006 sugeriram que o método possuí efeitos equivalentes com a terapia de exposição tradicional após o tratamento e no acompanhamento.[9][10]

Em 2006, duas metanálises descobriram que o EMDR é pelo menos equivalente em tamanho de efeito a terapias de exposição específicas.[6][10] Três anos depois, um estudo do tratamento de estupro concluiu que o método teve alguma eficácia.[11] Outro estudo de 2009 concluiu que o EMDR é de eficácia semelhante a outras terapias de exposição e mais eficaz que os ISRSs, a terapia centrada no problema ou o "tratamento usual".[12] No ano seguinte, uma metanálise concluiu que todos os tratamentos "de boa-fé" eram igualmente eficazes, mas houve algum debate sobre a seleção do estudo de quais tratamentos eram "de boa-fé".[13]

Uma revisão sistemática da Cochrane comparou o EMDR com outras psicoterapias no tratamento do TEPT crônico e constatou que o método é tão eficaz quanto a Terapia Comportamental Cognitiva Focada em Trauma (TFCBT) e mais eficaz que as outras psicoterapias não-TFCBT.[7][14] Outra revisão sistemática examinou quinze ensaios clínicos de EMDR com e sem os movimentos dos olhos, descobrindo que o efeito era maior quando os movimentos dos olhos eram usados.[6][15] Novamente, a interpretação foi experimental e os autores alegaram que a qualidade dos estudos não era boa e, consequentemente, pode ter distorcido os resultados. "Além de garantir verificações adequadas da qualidade do tratamento, havia outros problemas metodológicos sérios com estudos no contexto da terapia", afirmaram.[6]

Posicionamento de instituições

As diretrizes de 2009 da Sociedade Internacional para Estudos de Estresse Traumático classificaram o EMDR como um tratamento de nível A baseado em evidências para TEPT em adultos.[16] Outras diretrizes que recomendam a terapia com EMDR - assim como a TCC e a terapia de exposição - para o tratamento de traumas incluem o Instituto Nacional de Excelência em Saúde e Cuidados (2005),[17][4] Centro Australiano de Saúde Mental Pós-Traumática (2007),[18] as diretrizes do Comitê Diretivo Nacional neerlandês de Saúde Mental e Cuidados (2003),[19] a Associação Americana de Psiquiatria (2004),[20] os Departamentos de Assuntos de Veteranos e de Defesa (2010),[21] a Administração de Serviços de Saúde Mental e Abuso de Substâncias (2011),[22] e Organização Mundial de Saúde (2013), apenas para TEPT, não para tratamento de estresse agudo.[3]

Referências

  1. a b Feske 1998, pp. 171-181.
  2. a b Schnyder; Cloitre 2015.
  3. a b c World Health Organization 2013, p. 1.
  4. a b Instituto Nacional de Excelência em Saúde e Cuidados 2016.
  5. a b Devilly 2002.
  6. a b c d Lee; Cuijpers 2013.
  7. a b c Bisson, et al. 2013.
  8. Van Etten; Taylor 1998.
  9. Bradley, et al. 2005.
  10. a b Seidler; Wagner 2006.
  11. Vickerman; Margolin 2009.
  12. Cloitre 2009.
  13. Ehlers, et al. 2010.
  14. Watts, et al. 2013.
  15. Erro de citação: Etiqueta <ref> inválida; não foi fornecido texto para as refs de nome apatraumadivision.org
  16. Foa; Keane; Friedman 2009.
  17. Instituto Nacional de Excelência em Saúde e Cuidados 2005.
  18. Centro Australiano de Saúde Mental Pós-Traumática 2007.
  19. Comitê Diretivo Nacional neerlandês de Saúde Mental e Cuidados 2003.
  20. Associação Americana de Psiquiatria 2004.
  21. Department of Veterans Affairs & Department of Defense 2010.
  22. Administração de Serviços de Saúde Mental e Abuso de Substâncias 2011.

Bibliografia

Fontes online
  • Devilly GJ (2002). «Eye movement desensitization and reprocessing: a chronology of its development and scientific standing» (PDF). The Scientific Review of Mental Health Practice. 1 (2). 132 páginas 
  • Instituto Nacional de Excelência em Saúde e Cuidados (2016). «Post-traumatic stress disorder - NICE Pathways» (em inglês). Cópia arquivada em 16 de julho de 2019 
  • Instituto Nacional de Excelência em Saúde e Cuidados (2005). «Post traumatic stress disorder (PTSD): The management of adults and children in primary and secondary care». Londres: NICE Guidelines (em inglês). Cópia arquivada em 19 de dezembro de 2007 
  • «Guidelines for the management of conditions that are specifically related to stress». Geneva: World Health Organization. 2013. PMID 24049868 
Fontes impressas
  • Administração de Serviços de Saúde Mental e Abuso de Substâncias (2011). «National Registry of Evidence-based Programs and Practices» 
  • Associação Americana de Psiquiatria (2004). «Practice Guideline for the Treatment of Patients with Acute Stress Disorder and Posttraumatic Stress Disorder.». Arlington 
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  • Bradley, R.; Greene, J.; Russ, E.; Dutra, L.; Westen, D. (2005). «A multidimensional meta-analysis of psychotherapy for PTSD». The American Journal of Psychiatry. 162 (2): 214–227. PMID 15677582. doi:10.1176/appi.ajp.162.2.214 
  • Centro Australiano de Saúde Mental Pós-Traumática (2007). Australian guidelines for the treatment of adults with acute stress disorder and post traumatic stress disorder. Melbourne: [s.n.] ISBN 978-0-9752246-6-3 
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  • Comitê Diretivo Nacional neerlandês de Saúde Mental e Cuidados (2003). «Guidelines for the diagnosis treatment and management of adult clients with an anxiety disorder». Utrecht: The Dutch Institute for Healthcare Improvement (CBO) 
  • Department of Veterans Affairs & Department of Defense (2010). «VA/DoD Clinical Practice Guideline for the Management of Post-Traumatic Stress». Washington: Veterans Health Administration, Department of Veterans Affairs and Health Affairs, Department of Defense 
  • Ehlers, A.; Bisson, J.; Clark, D.; Creamer, M.; Pilling, S.; Richards, D.; Schnurr, P.; Turner, S.; Yule, W. (2010). «Do all psychological treatments really work the same in posttraumatic stress disorder?». Clinical Psychology Review. 30 (2): 269–276. PMC 2852651Acessível livremente. PMID 20051310. doi:10.1016/j.cpr.2009.12.001 
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  • Vickerman, K. A.; Margolin, G. (2009). «Rape treatment outcome research: Empirical findings and state of the literature». Clinical Psychology Review. 29 (5): 431–448. PMC 2773678Acessível livremente. PMID 19442425. doi:10.1016/j.cpr.2009.04.004 
  • Watts BV, Schnurr PP, Mayo L, Young-Xu Y, Weeks WB, Friedman MJ (2013). «Meta-analysis of the efficacy of treatments for posttraumatic stress disorder». Journal of Clinical Psychiatry. 74 (6): e541–550. PMID 23842024. doi:10.4088/JCP.12r08225 

Ligações externas

  • EMDR Institute, Inc.
  • v
  • d
  • e
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