Energia mecânica

Mecânica clássica
Diagramas de movimento orbital de um satélite ao redor da Terra, mostrando a velocidade e aceleração.
Cinemática
  • v
  • d
  • e
Energia mecânica da bola de basquete sendo transformada, ora em energia potencial gravitacional, energia cinética ou energia potencial elástica. A cada ressalto, parte da energia é dissipada sob a forma de energia térmica e energia sonora

Energia mecânica é, resumidamente, a capacidade de um corpo produzir trabalho.[1] Também podemos interpretá-la como a energia que pode ser transferida por meio de uma força. A energia mecânica total de um sistema é a soma da energia cinética, relacionada ao movimento de um corpo, com a energia potencial, relacionada ao armazenamento, podendo ser gravitacional ou elástica.[1]

  E m = E c + E p {\displaystyle \ E_{m}=E_{c}+E_{p}}

Se o sistema for conservativo, ou seja, apenas forças conservativas atuarem nele, a energia mecânica total conserva-se e é uma constante de movimento[1]. A energia mecânica E m {\displaystyle E_{m}} que um corpo possui é a soma da sua energia cinética E c {\displaystyle E_{c}} com sua energia potencial E p {\displaystyle E_{p}} .

Uma força é classificada como sendo conservativa quando o trabalho realizado por ela para mover um corpo de um lugar a outro é independente do percurso, isto é, do caminho escolhido. Esclarecendo: para carregar um saco de batatas e o transportar morro acima, o caminho escolhido pode ser mais longo, caminhando-se circularmente ou seguindo um caminho mais curto e reto, mas através de uma ladeira íngreme. A força gravítica é conservativa. Um exemplo de força não conservativa é a força de atrito, que também é chamada de força dissipativa.

Pela lei da conservação da energia, se um corpo está apenas sob a ação de forças conservativas, a sua energia mecânica ( E m = E c + E p {\displaystyle E_{m}=E_{c}+E_{p}} ) conservar-se-á. Isso equivale a dizer, neste caso, que se a energia cinética de um corpo aumentar, a energia potencial deve diminuir e vice-versa, de modo a manter E {\displaystyle E} constante.

Considere que uma bola de massa m = 0 , 6   k g {\displaystyle m=0,6\ kg} na mão de uma pessoa está a uma altura h = 4   m {\displaystyle h=4\ m} do chão. A sua energia potencial é U = m g h = 24 {\displaystyle U=mgh=24} joules, sendo g = 10   m s 2 {\displaystyle g=10\ {\frac {m}{s^{2}}}} , a aceleração da gravidade. Nesse lugar, como a bola está parada, a sua velocidade é igual a 0 {\displaystyle 0} , e portanto a sua energia cinética também é igual a zero, ou seja K = 1 2 m v 2 = 0 {\displaystyle K={\frac {1}{2}}mv^{2}=0} . Assim, a sua energia mecânica total é E = 24   J {\displaystyle E=24\ J} . Ao ser lançada, essa bola atinge o solo e a sua altura ficará igual a 0 {\displaystyle 0} , e consequentemente a sua U = 0 {\displaystyle U=0} . Como há conservação da energia mecânica, a energia cinética da bola no solo é K = 24   J {\displaystyle K=24\ J} . Deste valor podemos obter a componente escalar da velocidade instantes antes de a bola atingir o solo, ou seja v = 8 , 94   m s {\displaystyle v=8,94\ {\frac {m}{s}}} . Quanto maior a altura de onde é lançada a bola, maior a velocidade atingida ao chegar ao solo. Vale também o contrário, isto é, quanto maior a velocidade, maior a altura atingida. Assim, se um atleta quiser saltar uma boa altura h {\displaystyle h} , é preciso correr muito para atingir uma velocidade alta. É isso que fazem os atletas que praticam salto em altura, salto tríplice e saltos com evoluções em ginástica olímpica.

Equações

A energia mecânica de um sistema conservativo é dada por:

  E m = E c + E p {\displaystyle \ E_{m}=E_{c}+E_{p}}
sendo:

  E c {\displaystyle \ E_{c}} , a energia cinética;
  E p {\displaystyle \ E_{p}} , a energia potencial.

Energia cinética

O trabalho feito por uma força F {\displaystyle \mathbf {F} } ao longo de um caminho C é calculado pela seguinte integral:

W c = c F d r {\displaystyle \operatorname {W} _{c}=\int _{c}\mathbf {F} \cdot d\mathbf {r} }

Segundo o teorema do trabalho e da energia cinética:

W c = Δ E c {\displaystyle \operatorname {W} _{c}=\Delta E_{c}}

Energia cinética de translação

A definição da energia cinética de translação é obtida mediante a resolução

da integral que define o trabalho:

W c = c F d r {\displaystyle \operatorname {W} _{c}=\int _{c}\mathbf {F} \cdot d\mathbf {r} } .

Usando a definição de força e a regra da cadeia, modifica-se o integrando e a variável de integração de modo a resolver a integral:

c F d r = c d p d t d r = c d p d r d t = c d p v {\displaystyle \int _{c}\mathbf {F} \cdot d\mathbf {r} =\int _{c}{\frac {d\mathbf {p} }{dt}}\cdot d\mathbf {r} =\int _{c}d\mathbf {p} \cdot {\frac {d\mathbf {r} }{dt}}=\int _{c}d\mathbf {p} \cdot \mathbf {v} } ,

em que p {\displaystyle \mathbf {p} } é o momento linear do objeto e v {\displaystyle \mathbf {v} } é sua velocidade. Tomemos a definição de momento linear:

p = m v {\displaystyle \mathbf {p} =m\mathbf {v} }

Diferenciando a expressão e a substituindo na integral:

d p = m d v {\displaystyle d\mathbf {p} =md\mathbf {v} }
c v d p = c v m d v {\displaystyle \int _{c}\mathbf {v} \cdot d\mathbf {p} =\int _{c}\mathbf {v} \cdot md\mathbf {v} }

Finalmente, resolve-se a integral:

W c = v 0 v m v d v = m v 2 2 | v 0 v = m v 2 2 m v 0 2 2 {\displaystyle \operatorname {W} _{c}=\int _{v_{0}}^{v}m{v'}d{v'}={\frac {mv'^{2}}{2}}|_{v_{0}}^{v}={\frac {mv^{2}}{2}}-{\frac {m{v_{0}}^{2}}{2}}}

Define-se a energia cinética, portanto, como:

E c = m v 2 2 {\displaystyle E_{c}={\frac {mv^{2}}{2}}}

O resultado da integração acima leva-nos à igualdade entre o trabalho e a variação da energia cinética:

W c = Δ E c {\displaystyle \operatorname {W} _{c}=\Delta E_{c}}

Energia cinética de rotação

E c r = 1 2 I ω 2 {\displaystyle E_{cr}={\frac {1}{2}}I\omega ^{2}}

Energia potencial

Energia Potencial Gravitacional:   E p g = m g h {\displaystyle \ E_{pg}=mgh}

Energia Potencial Elástica:   E p e l a s t i c a = k x 2 2 {\displaystyle \ E_{pelastica}={\frac {kx^{2}}{2}}}

Energia Potencial Elétrica:   E p e l e t r i c a = U q {\displaystyle \ E_{peletrica}={\frac {U}{q}}}

Energia Potencial: Soma de todas as energias potenciais

Equações diferenciais

No formalismo que descreve a Mecânica, existem algumas equações diferenciais:

d W = d T {\displaystyle dW=dT}

d W = d V {\displaystyle dW=-dV}

onde W {\displaystyle W} é o trabalho, T {\displaystyle T} a energia cinética e V {\displaystyle V} a energia potencial. No caso de a diferencial dW não ser exata, pode-se dizer que o trabalho W não depende do percurso.

Se a força é conservativa, resulta:

d T + d V = 0 {\displaystyle dT+dV=0}

T + V = c o n s t a n t e {\displaystyle T+V=constante}

Dessa maneira, percebe-se que a energia mecânica não varia ao longo do "caminho".

Mecânica quântica

Tratando-se de física quântica, o formalismo dado à mecânica muda um pouco. As leis da física são vistas de maneira diferente no caso de uma escala próxima ao núcleo atómico. As equações que regem a dinâmica dos corpos (formalismo Hamiltoniano e Lagrangiano), são substituídas pela equação de Schrödinger:

H ^ ψ = E ψ {\displaystyle {\hat {H}}\psi =E\psi }

onde H {\displaystyle H} é o operador Hamiltoniano, ψ {\displaystyle \psi } a função de onda e E {\displaystyle E} a energia do estado ψ {\displaystyle \psi } . É importante ressalvar que a equação de Schrödinger pode tomar a forma dependente e independente do tempo. Para isso, deve lembrar-se que:

Operador Hamiltoniana: H ^ = E c ^ + E p ^ = p ^ 2 2 m + V ^ ( r ) {\displaystyle {\hat {H}}={\hat {E_{c}}}+{\hat {E_{p}}}={\frac {{\hat {p}}^{2}}{2m}}+{\hat {V}}(r)}

Operador momento: p ^ = i {\displaystyle {\hat {p}}={\frac {\hbar }{i}}\nabla }

Operador Potencial: V ^ ( r ) = V ( r ) {\displaystyle {\hat {V}}(r)=V(r)}

Energia: E = i t {\displaystyle E=i\hbar {\frac {\partial }{\partial t}}} (no caso dependente do tempo)

Assim, no caso da equação independente do tempo, tem-se:

2 m 2 ψ ( r ) + V ( r ) ψ ( r ) = E ψ ( r ) {\displaystyle {\frac {-\hbar }{2m}}\nabla ^{2}\psi (r)+V(r)\psi (r)=E\psi (r)} (equação independente do tempo)

Já no caso da dependente do tempo tem-se:

2 m 2 ψ ( r , t ) + V ( r ) ψ ( r , t ) = i t ψ ( r , t ) {\displaystyle {\frac {-\hbar }{2m}}\nabla ^{2}\psi (r,t)+V(r)\psi (r,t)=i\hbar {\frac {\partial }{\partial t}}\psi (r,t)} (equação dependente do tempo)

Exemplos

Nesta seção serão dados alguns exemplos do cálculo da energia mecânica.

Partícula livre

No caso de uma partícula livre, sabe-se que a energia potencial E p {\displaystyle E_{p}} é nula. Assim, a energia mecânica é escrita como:   E m = E c = p 2 2 m {\displaystyle \ E_{m}=E_{c}={\frac {p^{2}}{2m}}}

onde p {\displaystyle p} é o momento linear da partícula e m {\displaystyle m} sua massa.

Oscilador harmônico

No caso de uma partícula em um oscilador harmônico, a energia potencial pode ser escrita como:

E p = 1 2 m ω 2 x 2 {\displaystyle E_{p}={\frac {1}{2}}m\omega ^{2}x^{2}}

com ω {\displaystyle \omega } sendo a velocidade angular e x {\displaystyle x} a posição da partícula. Assim, a energia mecânica do sistema é dada por:

  E m = p 2 2 m + 1 2 m ω 2 x 2 {\displaystyle \ E_{m}={\frac {p^{2}}{2m}}+{\frac {1}{2}}m\omega ^{2}x^{2}}

Atração gravitacional

No caso de uma partícula de massa m 1 {\displaystyle m_{1}} em um potencial gravitacional gerado por outra partícula de massa m 2 {\displaystyle m_{2}} , pode-se escrever a energia mecânica do sistema como

  E m = p 2 2 m + G . m 1 . m 2 d {\displaystyle \ E_{m}={\frac {p^{2}}{2m}}+{\frac {G.m_{1}.m_{2}}{d}}}

onde G {\displaystyle G} é a constante da gravitação universal e d {\displaystyle d} a distância entre os corpos.

Pêndulo simples

Animação de um pêndulo simples mostrando seu movimento, assim como os vetores velocidade (verde) e aceleração (azul). Note como a altura máxima atingida não muda, pois a energia mecânica no sistema se conserva, alternando-se entre a forma potencial (pontos mais altos) e a cinética (ponto mais baixo).

Em um pêndulo simples, a energia mecânica do sistema será igual à energia potencial gravitacional inicial, que é proporcional à altura da qual ele será solto. Durante o movimento de descida, a energia potencial converte-se continuamente em energia cinética devido ao trabalho realizado pela força gravitacional (peso). Quanto o corpo atinge o ponto mais baixo, toda a energia potencial foi transformada em cinética, correspondendo ao ponto de velocidade máxima do pêndulo. Uma vez passado esse ponto, o corpo começa sua subida e o processo inverso se inicia: a energia cinética se transformando em potencial gravitacional até que o corpo pare totalmente, na mesma altura em que foi solto do outro lado.

A energia mecânica do sistema de um pêndulo simples é dada pela expressão a seguir:

  E m e c = m g h + 1 2 m v 2 {\displaystyle \ E_{mec}=mgh+{\frac {1}{2}}mv^{2}}

Em que m g h {\displaystyle mgh} é a energia potencial gravitacional e 1 2 m v 2 {\displaystyle {\frac {1}{2}}mv^{2}} é a energia cinética associadas à massa do pêndulo. Pelo princípio da Conservação da Energia Mecânica, essa soma permanece constante ao longo do tempo, ou seja, quando a energia cinética aumenta, a potencial tem que diminuir e vice-versa.

Legenda

  • k {\displaystyle k} =constante elástica
  • g {\displaystyle g} =aceleração da gravidade (~9,81 m/s²) (constante)
  • E c {\displaystyle E_{c}} =energia cinética
  • m {\displaystyle m} =massa (kg)
  • I {\displaystyle I} =Momento de Inércia (kg*m²)
  • ω {\displaystyle \omega } (letra grega ômega) = velocidade angular (rad/s)
  • w {\displaystyle w} =trabalho (J)
  • E p g {\displaystyle E_{pg}} =energia potencial gravitacional
  • E p e l e t r i c a {\displaystyle E_{peletrica}} =energia potencial elétrica
  • E p e l a s t i c a {\displaystyle E_{pelastica}} =energia potencial elástica
  • h {\displaystyle h} =altura (m)
  • v {\displaystyle v} =velocidade (m/s)
  • x {\displaystyle x} =elongação ou deformação da mola

Referências

  1. a b c RESNICK, Robert; HALLIDAY, David; KRANE, Kenneth S (2011). Física 1 5ª ed. Rio de Janeiro: LTC. p. 390  A referência emprega parâmetros obsoletos |Editora= (ajuda)
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