Forma canônica de Jordan

A forma canônica de Jordan (português brasileiro) ou forma canónica de Jordan (português europeu) é uma forma de representar uma matriz ou operador linear através de uma outra matriz semelhante à original que é quase uma matriz diagonal. No corpo dos números complexos, esta forma é uma matriz triangular superior, em que os únicos elementos não-nulos são aqueles da diagonal ou imediatamente acima da diagonal.

O nome é uma referência a Camille Jordan.

Definições

Seja T um operador linear de um K-espaço vetorial V de dimensão finita, sendo K o corpo R {\displaystyle \mathbb {R} } ou C {\displaystyle \mathbb {C} } .

Caso Real

Se K = R {\displaystyle K=\mathbb {R} } , escrevamos o polinômio característico de T na forma

p T ( x ) = ( x λ 1 ) m 1 ( x λ n ) m n {\displaystyle p_{T}(x)=(x-\lambda _{1})^{m_{1}}\cdots (x-\lambda _{n})^{m_{n}}} ,

com λ r λ s {\displaystyle \lambda _{r}\neq \lambda _{s}} se r s {\displaystyle r\neq s} .

Chama-se de um bloco de Jordan de ordem r à matriz quadrada de ordem r J ( λ ; r ) {\displaystyle J(\lambda ;r)} dada por [1]

J ( λ ; r ) = [ λ 1 0 0 0 λ 1 0 0 0 λ 0 0 0 0 λ ] r × r {\displaystyle J(\lambda ;r)={\begin{bmatrix}\lambda &1&0&\cdots &0\\0&\lambda &1&\cdots &0\\0&0&\lambda &\cdots &0\\\vdots &\vdots &\vdots &\ddots &\vdots \\0&0&0&\cdots &\lambda \end{bmatrix}}_{r\times r}} ,

que pode ser escrita através da soma de duas matrizes:

J ( λ ; r ) = λ [ 1 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 ] r × r + [ 0 1 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 ] r × r = λ I + N , {\displaystyle J(\lambda ;r)=\lambda {\begin{bmatrix}1&0&0&\cdots &0\\0&1&0&\cdots &0\\0&0&1&\cdots &0\\\vdots &\vdots &\vdots &\ddots &\vdots \\0&0&0&\cdots &1\end{bmatrix}}_{r\times r}+{\begin{bmatrix}0&1&0&\cdots &0\\0&0&1&\cdots &0\\0&0&0&\cdots &0\\\vdots &\vdots &\vdots &\ddots &\vdots \\0&0&0&\cdots &0\end{bmatrix}}_{r\times r}=\lambda I+N,}

onde N é uma matriz nilpotente, pois N r = 0 {\displaystyle N^{r}=0} .

Se B 1 , , B k {\displaystyle B_{1},\ldots ,B_{k}} são matrizes quadradas, não necessariamente de ordens iguais, define-se diag   ( B 1 , , B k ) {\displaystyle \operatorname {diag} \ (B_{1},\ldots ,B_{k})} como sendo a matriz quadrada de ordem igual à soma das ordens de B 1 , , B k {\displaystyle B_{1},\ldots ,B_{k}} dada por

[ B 1 0 0 0 B 2 0 0 0 B k ] {\displaystyle {\begin{bmatrix}B_{1}&0&\cdots &0\\0&B_{2}&\cdots &0\\\vdots &\vdots &\ddots &\vdots \\0&0&\cdots &B_{k}\end{bmatrix}}} .

Caso Complexo

Se K = C {\displaystyle K=\mathbb {C} } , escrevamos o polinômio característico de T na forma

p T ( x ) = ( x λ 1 ) m 1 ( x λ n ) m n ( ( x α 1 ) 2 + β 1 2 ) ) p 1 ( ( x α k ) 2 + β k 2 ) ) p k {\displaystyle p_{T}(x)=(x-\lambda _{1})^{m_{1}}\cdots (x-\lambda _{n})^{m_{n}}((x-\alpha _{1})^{2}+\beta _{1}^{2}))^{p_{1}}\cdots ((x-\alpha _{k})^{2}+\beta _{k}^{2}))^{p_{k}}} ,

onde α r + i β r {\displaystyle \alpha _{r}+i\beta _{r}} é uma raiz complexa de pT, com λ r λ s {\displaystyle \lambda _{r}\neq \lambda _{s}} e ( α r , | β r | ) ( α s , | β s | ) {\displaystyle (\alpha _{r},|\beta _{r}|)\neq (\alpha _{s},|\beta _{s}|)} se r s {\displaystyle r\neq s} .

Se α + i β {\displaystyle \alpha +i\beta } é uma raiz complexa de p T ( λ ) {\displaystyle p_{T}(\lambda )} , define-se, analogamente à matriz J ( λ ; r ) {\displaystyle J(\lambda ;r)} ,

R ( α , β ; r ) = [ A 1 ¯ 0 0 0 A 1 ¯ 0 0 0 A 0 0 0 0 A ] n × n {\displaystyle R(\alpha ,\beta ;r)={\begin{bmatrix}A&{\bar {1}}&0&\cdots &0\\0&A&{\bar {1}}&\cdots &0\\0&0&A&\cdots &0\\\vdots &\vdots &\vdots &\ddots &\vdots \\0&0&0&\cdots &A\end{bmatrix}}_{n\times n}} ,

onde

A = [ α β β α ] {\displaystyle A={\begin{bmatrix}\alpha &\beta \\-\beta &\alpha \end{bmatrix}}} e 1 ¯ = [ 1 0 0 1 ] {\displaystyle {\bar {1}}={\begin{bmatrix}1&0\\0&1\end{bmatrix}}}

Teorema (de Jordan)

Sejam V um K-espaço vetorial de dimensão finita e T um operador linear de V. Se K = C {\displaystyle K=\mathbb {C} } e

p T ( x ) = ( x λ 1 ) m 1 ( x λ n ) m n {\displaystyle p_{T}(x)=(x-\lambda _{1})^{m_{1}}\cdots (x-\lambda _{n})^{m_{n}}} ,

com λ r λ s {\displaystyle \lambda _{r}\neq \lambda _{s}} se r s {\displaystyle r\neq s} , λ r C {\displaystyle \lambda _{r}\in \mathbb {C} } , então existe uma base na qual a matriz de T é da forma

J = diag   ( J 1 , , J n ) {\displaystyle J=\operatorname {diag} \ (J_{1},\ldots ,J_{n})} ,

onde J 1 , , J p {\displaystyle J_{1},\ldots ,J_{p}} são da forma J ( λ ; r ) , r N {\displaystyle J(\lambda ;r),\,r\in \mathbb {N} } e λ { λ 1 , , λ n } {\displaystyle \lambda \in \{\lambda _{1},\ldots ,\lambda _{n}\}} .

Se K = R {\displaystyle K=\mathbb {R} } e

p T ( x ) = ( x λ 1 ) m 1 ( x λ n ) m n ( ( x α 1 ) 2 + β 1 2 ) p 1 ( ( x α k ) 2 + β k 2 ) p k {\displaystyle p_{T}(x)=(x-\lambda _{1})^{m_{1}}\cdots (x-\lambda _{n})^{m_{n}}((x-\alpha _{1})^{2}+\beta _{1}^{2})^{p_{1}}\cdots ((x-\alpha _{k})^{2}+\beta _{k}^{2})^{p_{k}}} ,

onde α r + i β r {\displaystyle \alpha _{r}+i\beta _{r}} é uma raiz complexa de pT com λ r λ s {\displaystyle \lambda _{r}\neq \lambda _{s}} e ( α r , β r ) ( α s , β s ) {\displaystyle (\alpha _{r},\beta _{r})\neq (\alpha _{s},\beta _{s})} se r s {\displaystyle r\neq s} ( β r > 0 {\displaystyle \beta _{r}>0} ), então existe uma base com relação à qual a matriz de T é da forma

J = diag   ( J 1 , , J n , R 1 , , R k ) , {\displaystyle J=\operatorname {diag} \ (J_{1},\ldots ,J_{n},R_{1},\ldots ,R_{k}),}

onde J 1 , , J p {\displaystyle J_{1},\ldots ,J_{p}} são da forma J ( λ ; r ) , r N {\displaystyle J(\lambda ;r),\,r\in \mathbb {N} } e λ { λ 1 , , λ n } {\displaystyle \lambda \in \{\lambda _{1},\ldots ,\lambda _{n}\}} e R 1 , , R q {\displaystyle R_{1},\ldots ,R_{q}} são da forma R ( α , β ; n ) , n N {\displaystyle R(\alpha ,\beta ;n),\,n\in \mathbb {N} } e ( α , β ) { ( α 1 , β 1 ) , , ( α k , β k ) } {\displaystyle (\alpha ,\beta )\in \{(\alpha _{1},\beta _{1}),\ldots ,(\alpha _{k},\beta _{k})\}} .

Corolário

A matriz de um operador T com relação a uma base qualquer é semelhante a uma matriz da forma J = diag   ( J 1 , , J p ) {\displaystyle J=\operatorname {diag} \ (J_{1},\ldots ,J_{p})} (caso complexo) ou J = diag   ( J 1 , , J p , R 1 , , R q ) {\displaystyle J=\operatorname {diag} \ (J_{1},\ldots ,J_{p},R_{1},\ldots ,R_{q})} (caso real).

Observações

Blocos de Jordan com a mesma raiz

O teorema afirma, no caso complexo, que a matriz equivalente é da forma:

[ J ( λ 1 ; m 1 ) 0 0 0 J ( λ 2 ; m 2 ) 0 0 0 J ( λ n ; m n ) ] {\displaystyle {\begin{bmatrix}J(\lambda _{1};m_{1})&0&\cdots &0\\0&J(\lambda _{2};m_{2})&\cdots &0\\\vdots &\vdots &\ddots &\vdots \\0&0&\cdots &J(\lambda _{n};m_{n})\end{bmatrix}}\,} ,

mas é possivel que λ s = λ r {\displaystyle \lambda _{s}=\lambda _{r}\,} quando s r {\displaystyle s\neq r\,}

Por exemplo[2], a matriz 4x4 abaixo está na forma canônica de Jordan:

[ 42 1 0 0 0 42 0 0 0 0 42 0 0 0 0 42 ] {\displaystyle {\begin{bmatrix}42&1&0&0\\0&42&0&0\\0&0&42&0\\0&0&0&42\end{bmatrix}}\,} ,

em que λ 1 = λ 2 = λ 3 = λ 4 = 42 {\displaystyle \lambda _{1}=\lambda _{2}=\lambda _{3}=\lambda _{4}=42\,} , m 1 = 2 {\displaystyle m_{1}=2\,} e m 2 = m 3 = 1 {\displaystyle m_{2}=m_{3}=1\,} .

Unicidade

A forma canônica de Jordan é única, a menos de permutações entre os blocos de Jordan.

Referências

  1. Triangulação - Forma Canónica de Jordan, site do Departamento de Matemática da Universidade de Aveiro
  2. «Faça exemplos com O Monitor». omonitor.io. Consultado em 22 de março de 2016 

Bibliografia

  • (em inglês) Daniel T. Finkbeiner II, Introduction to Matrices and Linear Transformations, Third Edition, Freeman, 1978.
  • (em inglês) Gene H. Golub and Charles F. Van Loan, Matrix Computations (3rd ed.), Johns Hopkins University Press, Baltimore, 1996.
  • (em inglês) Shafarevich, Igor R., Remizov, Alexey O. Linear Algebra and Geometry, Springer, 2012, ISBN 978-3-642-30993-9


  • v
  • d
  • e
Classes de matriz
Elementos explicitamente restritos
Constante
Condições sobre
autovalores e autovetores
Satisfazendo condições
sobre produtos ou inversas
Com aplicações específicas
Usada em estatística
  • Bernoulli
  • Centro
  • Correlação
  • Covariância
  • Dispersão
  • Duplamente estocástica
  • Informação de Fisher
  • Projeção
  • Precisão
  • Estocástica
  • Transição
Usada em teoria dos grafos
Usada em ciência e engenharia
Termos relacionados
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