Revoluções de 1830

Revoluções de 1830 é a designação dada na historiografia europeia ao conjunto de movimentos revolucionários que abalaram o continente europeu no início da década de 1830. O movimento iniciou-se em 1830 na França, com o levantamento que ficou conhecido como a Revolução dos Três Dias Gloriosos, as Revoluções liberais alastraram-se pela Europa: a Bélgica se libertou da Holanda e houve tentativas (fracassadas) de unificação da Alemanha e da Itália e de libertação da Polónia. O movimento teve também posteriores repercussões em Portugal e Espanha. No Brasil, no dia 7 de Abril de 1831, um forte movimento de oposição popular levou o Imperador Dom Pedro I à abdicação. Em 1829, a Grécia já se libertara da dominação turca.

O pano de fundo foi comum: propagação do liberalismo e nacionalismo como ideologias; a subprodução agrícola (acarretando alta de preços de géneros alimentícios) e o subconsumo industrial (provocando falência de fábricas e o desemprego do proletariado); descontentamento do proletariado urbano, devido ao desemprego, a salários baixos e à alta do custo de vida; descontentamento da burguesia, excluída do poder político e atingida pela crise econômica.

Revolução de 1830 na França

Léon Cogniet, Cenas de Julho de 1830, uma pintura que alude à Revolução de Julho de 1830.

Na França, o Congresso de Viena trouxe de volta os Bourbons. As potências reunidas em Viena impuseram à França o Segundo Tratado de Paris, cujas condições eram mais drásticas que as do Primeiro: ela ficou reduzida às suas fronteiras de 1789, teve de pagar uma indenização de guerra de 700 milhões de francos, foi obrigada a restituir os tesouros artísticos confiscados dos povos conquistados e aceitar a ocupação do norte do país, durante cinco anos, por tropas das potências vencedoras.

Ascensão de Carlos X

Carlos X.

Nos últimos cinco anos do reinado de Luís XVIII (1815-1824) e por todo o reinado de Carlos X, o conde de Artois (1824-1830), sucederam-se perturbações internas graves. Se o governo de Luís XVIII foi marcado pela moderação , a ascensão de Carlos X reviveu o absolutismo de direito divino, o favorecimento à nobreza e a sufocação da burguesia. Este monarca decidiu confiar a chefia do governo ao príncipe de Polignac. Longe de resolver os problemas o novo estadista preocupou-se com uma bem sucedida expedição à Argélia. Dessa maneira, podemos dizer que a principal causa da Revolução de 1830 na França foi o absolutismo exacerbado de Carlos X, indo completamente contra os ideais vistos desde a Revolução Francesa de 1789, que expressava o liberalismo e a tentativa da burguesia de fim da centralização real.

Câmara X Poder Real

No ano de 1827, as oposições, formadas por constitucionalistas e independentes, venceram as eleições legislativas e a nova Câmara dos Deputados, dominada por liberais, entrou em conflito com o rei. Em 1830, o rei dissolveu a Câmara e convocou novas eleições, também vencidas pela oposição. Então, o monarca reagiu em 25 de Julho de 1830, com a publicação das Ordenanças ou Ordenações de Julho: suprimia a liberdade de imprensa (impunha a censura total); anulava as últimas eleições e dissolvia a câmara recém-eleita e de maioria liberal; modificava os critérios para a fixação do censo eleitoral, favorecendo uma minoria (reduzia o eleitorado); e permitia ao rei governar através de decretos. Essas "Ordenações de Julho" coincidiram com grave crise econômica e precipitaram a Revolução.

Revolução de Julho de 1830

Ver artigo principal: Revolução de Julho
A Liberdade Guiando o Povo, quadro no qual Delacroix mostra a revolta da população parisiense, que, mobilizada pelas idéias liberais, em 1830, sai às ruas para pôr fim ao absolutismo.

Nos dias 27, 28 e 29 de julho de 1830, conhecidos como os três dias gloriosos, o povo de Paris e as sociedades secretas republicanas, liderados pela burguesia liberal, fizeram uma série de levantes contra Carlos X. Levantaram-se barricadas na capital francesa e generalizou-se da luta civil. As revoltas populares sucediam-se a tal ponto que a própria Guarda Nacional acabou por as apoiar, aderindo à sedição. Após lutas nas ruas parisienses (as Três Gloriosas), o último Bourbon teve de partir para o exílio no começo de agosto.

Luís Filipe I, o rei burguês.

Temerosa do radicalismo das classes que haviam feito a revolução (pequena burguesia e proletariado urbano), a alta burguesia instalou no poder o primo do rei, Luís Filipe de Orleans, o "Rei Burguês", monarca constitucional e liberal de outro ramo da nobreza francesa. "De agora em diante, os banqueiros reinarão na França", como afirmou Jacques Lafitte,[carece de fontes?] banqueiro e político que participou das manobras para colocar Luís Filipe no trono. Ele tinha razão. Todas as facções da burguesia, como industriais e comerciantes, haviam participado da luta contra o poder real e a velha aristocracia, mas quem assumiu o poder foi apenas uma parcela da burguesia - a do capital financeiro.[carece de fontes?]

Apoiado por banqueiros como Casimire Pérere e contando com ministros como Thiers ou Guizot, a Monarquia de Julho vem assim conseguir impor um clima de paz e prosperidade.[carece de fontes?].

Expansão da Revolução

A Revolução de 1830, na França, teve um caráter apenas liberal, isto é, antiabsolutista. Sua expansão para outras regiões da Europa, porém, assumiu também um caráter nacional, opondo-se às diretrizes do Congresso de Viena, que havia colocado várias nacionalidades sob o domínio de algumas potências europeias.

Revolução de 1830 na Bélgica

Ver artigo principal: Revolução Belga
Mapa mostrando a Bélgica e a Holanda entre 1815 e 1830.

Os acontecimentos parisienses repercutiram na Bélgica que, pelo Congresso de Viena, fora submetida à Holanda no artificial Reino dos Países Baixos. Havia profundas diferenças entre os dois povos: os belgas eram católicos, de idioma valão (próximo ao francês), industriais e partidários do protecionismo alfandegário a fim de favorecer suas nascentes indústrias contra a concorrência estrangeira; os holandeses seguiam o protestantismo, sua língua é semelhante ao alemão, viviam do comércio e eram adeptos do livre-cambismo.

Episódio da revolução de 1830 na Bélgica.
Tropas holandesas na Bélgica.

A monarquia, adotando diretrizes políticas beneficiando os holandeses, como a imposição por Guilherme I de Orange do holandês como língua oficial, provocou a Revolução de matrizes fortemente nacionais: luta pela independência. A Holanda pediu ajuda à Santa Aliança para reprimir os rebeldes.

O sucesso belga foi facilitado pela conjuntura internacional. França e Inglaterra, governos liberais, auxiliaram a causa belga e não permitiram a intervenção da Santa Aliança; Áustria, Prússia e Rússia, de governos conservadores e favoráveis à política de intervenção, viram-se paralisadas por outras revoluções.

A independência belga só foi reconhecida pela Holanda em 1839. A Revolução da Bélgica acarretou dupla alteração no sistema estabelecido em Viena: o surgimento de novo Estado Nacional e a organização de uma monarquia liberal e constitucional.

Revolução de 1830 na Polônia

Ver artigo principal: Levante de Novembro

Na Polônia, a Revolução também assumiu o carácter de movimento pela independência. Após o Congresso de Viena, a maior parte do país ficara submetida à Rússia. Aproveitando-se da organização de um exército para intervir na Bélgica, a Varsóvia, com auxílio de franceses, se rebelou contra a dominação russa. Em pouco tempo, o movimento liberal e nacionalista atingiu todo o país. Tropas do czar da Rússia Nicolau I esmagaram os patriotas poloneses. A derrota, seguida de violenta repressão, decorreu também pela falta de ajuda externa e pela cisão entre revolucionários, divididos em republicanos (burgueses) e monarquistas (pequena nobreza).

Revolução de 1830 nos Estados Italianos

Nos Estados italianos, as agitações tiveram um caráter liberal em regiões aristocráticas, nacional nas áreas sob domínio austríaco (Parma e Módena) e antipapal nos Estados papais. As conquistas foram efêmeras, pois a intervenção austríaca restaurou a ordem absolutista anterior.

Revolução de 1830 nos Estados Alemães

Na atual Alemanha, verificou-se uma série de revoltas (Hanôver, Saxe, etc.), logo abafadas pela intervenção austríaca. Na Prússia, ocorreram movimentos liberais que procuravam submeter o poder real a uma Constituição.

Pretendendo reforçar o sistema repressivo, para o que se impunha contar com a colaboração da Prússia, o governo austríaco admitiu a criação do Zollverein (união aduaneira), concretizada por iniciativa prussiana, e conduzindo à união econômica dos Estados alemães. O Zollverein representava a união econômica, precedendo a unificação política e tornando-a imprescindível para assegurar a continuidade dos progressos econômicos; além do mais, acentuava a projeção da Prússia como núcleo posterior da unificação política, ao mesmo tempo que conduzia à marginalização da Áustria.

Revolução de 1830 em Portugal

Ver artigo principal: Guerra Civil Portuguesa (1828-1834)

Em Portugal, D. Pedro IV (Pedro I do Brasil) derrotou as forças absolutistas de seu irmão D. Miguel, assegurando direitos de D. Maria da Glória e garantindo a vigência de uma Constituição liberal (1834). A Santa aliança não interveio em Portugal devido a objeções do governo inglês.

Revolução de 1830 na Espanha

Ver artigo principal: Guerras Carlistas

Na Espanha, a sucessão de Isabel, herdeira de Fernando VII, foi contestada por D. Carlos, apoiado em forças absolutistas; graças à ação do general Baldomero Espartero, de tendências liberais, os Carlistas foram derrotados e uma Constituição liberal promulgada.

Resultados

Fora da França, portanto, atingiu êxito a revolução liberal na Bélgica, que se tornou independente, e em Espanha e em Portugal, esta última que não foi invadida pela Santa Aliança devido a intervenção inglesa. Todas as demais revoltas que adquiriram carácter nacional foram massacradas por tropas da Santa Aliança. O fermento revolucionário, no entanto, continuou por toda a Europa, tornando a restauração imaginada por Metternich, pelo czar Alexandre I e por outros uma obra falida: o liberalismo e, mais tarde, o nacionalismo triunfariam em quase toda a Europa.

Referências

  • v
  • d
  • e
Pré-história
"A Liberdade guiando o povo", alegoria à Revolução Francesa.
"A Liberdade guiando o povo", alegoria à Revolução Francesa.

Aclamação de D. João IV de Portugal (Revolução de 1640)
Aclamação de D. João IV de Portugal (Revolução de 1640)

Revolução de 1848 na França.
Revolução de 1848 na França.

Batalha de Navarino, Guerra de independência da Grécia.
Batalha de Navarino, Guerra de independência da Grécia.
Século XV
Século XVI
Século XVII
Século XVIII
Século XIX
Século XX
Século XXI
No Brasil
Em Portugal