Hidrostática

Mecânica do contínuo
Leis
Viscosidade
Newtoniano
Não newtoniano
  • v
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  • e

A hidrostática é a parte da física que estuda os fluidos em repouso.[1] Apesar de a palavra "hidrostática" significar "estática da água", este termo é utilizado para designar a estática dos fluidos em geral.[1] Ao contrário dos sólidos, um fluido em equilíbrio não pode estar sob a ação de forças cisalhantes ou tangenciais, por menores que elas possam ser. Por decorrência, todas as forças que agem sobre um fluido em repouso fazem-se atuando perpendicularmente a sua superfície livre.[2]

Característica dos fluidos

Um fluido é uma substância (ou mistura de substâncias) que escoa, porque não resiste as tensões de cisalhamento, isto é, que flui, com maior ou menor facilidade.[1] Isto verifica-se porque as suas partículas, não ocupam posições fixas, deslocando-se com pequeno atrito, como acontece nos líquidos, e de outro modo, porque as partículas estão muito afastadas uma das outras, deslocando-se rápida e aleatoriamente em todo o espaço disponível como nos gases.[1]

Considera-se fluidos os líquidos e gases[1] e caracterizam-se por:

  • Compressibilidade: líquidos assumem-se incompressíveis na maioria das situações e os gases são muito compressíveis;
  • Resistência ao corte: os líquidos e gases deformam-se continuamente para minimizar forças de corte aplicadas;
  • Forma e volume: líquidos e gases tomam as formas do seu local, tendo os líquidos volume relativo ao do seu local e os gases ocupando o volume do seu local;
  • Resistência ao movimento: devido a viscosidade os líquidos sofrem mudanças na velocidade, já os gases tem viscosidade muito baixa;
  • Pressão: a pressão em um ponto do fluido é a mesma em todas as direções, a exercida em uma superfície solida é sempre normal aquela superfície.

Pressão exercida por um fluido

Ver artigo principal: Pressão

A grandeza pressão (P) é definida como a força (F) aplicada perpendicularmente a uma superfície por unidade de área (A) dessa superfície.[3] Se a densidade da força for a mesma para todos os pontos da superfície, então a pressão é denominada uniforme, e assim se pode escrever:

P = F A {\displaystyle P={\frac {F}{A}}}

A unidade de pressão no Sistema Internacional de Unidades (SI) é o Pascal (Pa), definido como a razão entre Newton (N) e metro quadrado ().[3]

Entretanto, a força aplicada a uma dada superfície pode variar de um dado ponto para outro. Neste caso, a pressão será a derivada da força com relação à área perpendicular em que ela é aplicada:

P = d F d A {\displaystyle P={\frac {dF}{dA}}}

Escalas de pressão. Pressão absoluta e Pressão relativa

Experiência de Torricelli: na parte superior do tubo há quase-vácuo.
Ver artigo principal: Pressão atmosférica

A grandeza escalar pressão pode ser expressa em relação a qualquer referencial, sendo que, no caso dos fluidos, normalmente são utilizados dois referenciais, a saber:

• Vácuo absoluto

•Pressão atmosférica local

Em um determinado espaço físico, sempre que a pressão absoluta for menor do que a pressão atmosférica local, que também é denominada de pressão barométrica, ali existe o que se denomina de vácuo. Assim o vácuo absoluto constituiria uma situação limite na qual não existiria nenhuma molécula de ar atmosférico em um determinado espaço físico. Destaca-se , entretanto, que o maior vácuo obtido em laboratório até nosso presente corresponde a uma pressão de 10 7 {\displaystyle 10^{-7}} .[2]

Levando-se em conta os dois referenciais descritos acima, se têm duas situações distintas para a expressão numérica da pressão:

• Quando a pressão é expressa como sendo a diferença entre seu valor medido e o vácuo absoluto, ela é denominada de pressão absoluta.

• Quando a pressão é expressada como sendo a diferença entre eu valor medido e a pressão atmosférica local, ela é chamada de pressão relativa. A pressão relativa também é denominada de pressão manométrica ou de pressão efetiva.

Matematicamente, as pressões relativa e absoluta estão relacionadas pela expressão a seguir:

P a b s o l u t a = P r e l a t i v a + P a t m o s f e r i c a l o c a l {\displaystyle Pabsoluta=Prelativa+Patmosfericalocal} [2]

Princípio de Pascal

Ver artigo principal: Princípio de Pascal
Prensa hidráulica: O aumento da força hidráulica

O Princípio de Pascal enuncia-se da seguinte forma: "A diferença de pressão entre dois pontos de um líquido homogêneo em equilíbrio é constante, dependendo apenas do desnível entre esses pontos. Logo, se produzirmos uma variação de pressão num ponto de um líquido em equilíbrio, essa variação se transmite a todo o líquido", ou seja, todos os pontos do líquido sofrem a mesma variação de pressão.

Uma aplicação prática é a prensa hidráulica. Para um êmbolo de 10 m² e outro de 1 m², uma força equivalente a 70 N será suficiente para levantar um veículo que pese 700 N, no outro êmbolo. Se um recipiente cheio de água, fechado, tem duas aberturas, uma cem vezes maior que a outra: colocando um pistão bem justo em cada uma, um homem empurrando o pistão pequeno igualará a força de cem homens empurrando o pistão cem vezes maior.[4] E qualquer que seja a proporção das aberturas, estarão em equilíbrio.

Assim, se F1 e F2 são as magnitudes das forças sobre os pistões de áreas A1 e A2, respectivamente, temos:

F 1 A 1 = F 2 A 2 {\displaystyle {\frac {F_{1}}{A_{1}}}={\frac {F_{2}}{A_{2}}}}

Como a área do pistão grande é muito maior do que a do pistão pequeno, a força sobre o pistão grande F2 é muito maior do que F1.

F 2 = ( A 2 A 1 ) F 1 {\displaystyle F_{2}=\left({\frac {A_{2}}{A_{1}}}\right)F_{1}}

Pressão hidrostática e lei de Stevin[5]

Ver artigo principal: Teorema de Stevin

A lei de Stevin enuncia-se da seguinte forma: "A diferença de pressões entre dois pontos da massa de um líquido em equilíbrio é igual à diferença de profundidade multiplicada pelo peso específico do líquido".[2]

Todo o mergulhador sabe que a pressão é maior quanto maior for sua profundidade (a coluna de água acima dele é cada vez maior); o seu medidor de profundidade, na verdade, é um sensor de pressão. Da mesma forma, todo alpinista sabe que a pressão é menor quanto maior for a sua altura (a coluna de ar acima dele é cada vez menor). Esses dois exemplos irão ilustrar a definição de pressão hidrostática.

Caixa mergulhada e em equilíbrio estático

Considere inicialmente uma caixa mergulhada, em equilíbrio estático, num tanque de água (ou qualquer outro fluido, como o ar); como ela está em equilíbrio, sabemos que não há força resultante, ou seja:

Onde:

  • F 2 {\displaystyle {\overrightarrow {F_{2}}}} é a força que age sobre a parte inferior da caixa, devido à coluna de água abaixo dela;
  • F 1 {\displaystyle {\overrightarrow {F_{1}}}} é a força que age sobre a parte superior da caixa, devido à coluna de água acima dela;
  • m g {\displaystyle m{\overrightarrow {g}}} é o peso da caixa;
  • y 1 , y 2 {\displaystyle y_{1},y_{2}} são, respectivamente, o teto e a base da caixa.

Sabendo que a soma de forças atuando na caixa mergulhada deve ser igual a zero(pois a mesma está em equilíbrio), temos:

F 2 = F 1 + m g {\displaystyle F_{2}=F_{1}+mg}

F 2 = F 1 + ρ V g {\displaystyle F_{2}=F_{1}+\rho Vg} , cujo V {\displaystyle V} representa o volume da caixa

F 2 = F 1 + ρ g A h {\displaystyle F_{2}=F_{1}+\rho gAh} , em que A {\displaystyle A} é a área da base e h {\displaystyle h} a altura

A partir da relação de que P = F A {\displaystyle P={F \over A}} (a força F é igual à pressão P exercida sobre a área A), segue da figura que:

F 2 A = F 1 A + ρ g A h A {\displaystyle {F_{2} \over A}={F_{1} \over A}+{\rho gAh \over A}} , com isso chegamos na seguinte equação:

  p 2 = p 1 + ρ g ( y 1 y 2 ) {\displaystyle \ p_{2}=p_{1}+\rho g(y_{1}-y_{2})} .

Com a equação acima, podemos determinar a pressão em um certo líquido (em função da profundidade) e também na atmosfera (em função da altitude). Se considerarmos y 1 = h {\displaystyle y_{1}=h} , y 2 = 0 {\displaystyle y_{2}=0} , p 1 = p 0 {\displaystyle p_{1}=p_{0}} e p 2 = p {\displaystyle p_{2}=p} , substituímos e obtemos a fórmula usual da pressão na profundidade ou altura h {\displaystyle h} :

  p = p 0 + ρ g h {\displaystyle \ p=p_{0}+\rho gh} .

A equação acima representa a demonstração do teorema de Stevin.

Onde, em termos do SI:

  • p {\displaystyle p} é a pressão total na profundidade h (em Pascal);
  • p 0 {\displaystyle p_{0}} é pressão acima do líquido (em Pascal);
  • ρ {\displaystyle \rho } é a massa específica (ou densidade) do fluido em questão (em kg/m³);
  • g {\displaystyle g} é a aceleração da gravidade (em m/s²);
  • h {\displaystyle h} é a profundidade ou altura (em metros).

Para compreender melhor, podemos usar um exemplo comum: a pressão p {\displaystyle p} total é a soma das pressões p 0 {\displaystyle p_{0}} (pode ser a pressão atmosférica acima da superfície do líquido) e ρ g h {\displaystyle \rho gh} (pressão na profundidade h {\displaystyle h} de um fluido.

Um outro exemplo pode ser ilustrado de acordo com a figura abaixo, onde a pressão hidrostática se dá pela diferença das pressões aplicadas sobre o sifão:

sendo que p 1 > p 2 {\displaystyle p_{1}>p_{2}} .
As setas representam apenas que existem pressões atuando naquelas seções do sifão, tendo em vista que pressão não é um grandeza vetorial.
p 1 p 2 = ρ g h {\displaystyle p_{1}-p_{2}=\rho gh}

Assim, para calcular apenas a pressão hidrostática usamos a fórmula abaixo:

  p = ρ g h {\displaystyle \ p=\rho gh}

Tópico 3. Vasos Comunicantes

Pode-se perceber ainda, pelo teorema, que:

  1. Para obter a diferença de pressão entre dois pontos não importa a distância entre eles, mas sim a diferença de altura;
  2. Dois pontos num mesmo nível em relação ao mesmo plano horizontal possuem a mesma pressão;
  3. O formato de recipiente não é importante para o cálculo da pressão em qualquer ponto no fluido. Em um recipiente de formato qualquer, dois pontos em um mesmo nível tem a mesma pressão, desde que o fluido seja o mesmo nesses dois pontos;
  4. Se a pressão na superfície livre de um líquido contido em um recipiente for igual a zero, a pressão num ponto à profundidade h dentro do líquido será dada por: p = ρ g h {\displaystyle p=\rho gh} ;
  5. O peso específico dos gases é relativamente baixo, então se a diferença de altura entre dois pontos for pequena, não há necessidade de considerar a diferença de pressão entre eles.


Paradoxo Hidrostático

Paradoxo Hidrostático No fundo de diferentes recipientes, com um mesmo líquido e preenchidos com alturas equivalentes, haverá o mesmo valor de pressão hidrostática.

Princípio de Arquimedes

Ver artigo principal: Princípio de Arquimedes

O princípio de Arquimedes afirma que:[6]

Todo corpo imerso, total ou parcialmente em um fluido, sofre ação de uma força vertical para cima e cuja intensidade é igual ao peso do fluido deslocado pelo corpo.

Esta força resultante de baixo para cima sobre o corpo sólido denomina-se força de empuxo que, de acordo com o princípio de Arquimedes, pode ser definida por:

F E = m f g {\displaystyle F_{E}=m_{f}g}

onde m f {\displaystyle m_{f}} é a massa do fluido deslocado pelo corpo e g {\displaystyle g} a aceleração gravitacional.

Quando um balão flutua em equilíbrio no ar ou quando um submarino está em equilíbrio debaixo d'água, seu peso é igual ao peso da água deslocado por ele, ou seja, a força de empuxo é igual a força gravitacional exercida sobre o corpo. Quando essas forças são iguais, pode-se dizer que o corpo está flutuando no fluido.

Peso aparente[5]

Se colocarmos uma pedra sobre uma balança calibrada, a leitura da balança seria do peso da pedra. Agora, imagine se colocarmos a balança debaixo d'água para medir o peso da mesma pedra. A leitura da balança seria menor devido a força de empuxo sobre a pedra. Esta leitura passa a ser, portanto, o peso aparente.

O peso aparente está relacionado ao peso real de um corpo e à força de empuxo sobre ele, descrito na forma:

p e s o a p a r e n t e = p e s o r e a l F E {\displaystyle peso_{aparente}=peso_{real}-F_{E}}

Determinação do centro de pressão

A posição do centro de pressão pode ser determinada aplicando-se o teorema dos momentos. A equação resultante é:

y p = y ¯ + I 0 A y ¯ {\displaystyle y_{p}={\bar {y}}+{I_{0} \over A\cdot {\bar {y}}}}

onde y p {\displaystyle y_{p}} é a distância entre a linha de interseção com a superfície livre do líquido e o centro de pressão da área, I 0 {\displaystyle I_{0}} o momento de inércia em relação ao eixo-intersecção e, y ¯ {\displaystyle {\bar {y}}} a distância entre a linha de interseção com a superfície livre e o centro de gravidade da área, sendo que o centro de pressão se localiza um pouco abaixo do centro de gravidade.


Ver também

Referências

  1. a b Maciel, Noemia (2012). Física, 12 Classe. Luanda: Porto Editora. p. 246. ISBN 978-972-0-08020-2 
  2. a b c d Peres, José (2006). Hidráulica Agrícola. Araras: EdUFSCAR. p. 49 
  3. a b Santos, Marco Aurélio da Silva. «Hidrostática». Brasil Escola. Consultado em 6 de novembro de 2018 
  4. NUSSENZVEIG, H. Moysés. Curso de Física Básica. [S.l.]: Blucher 
  5. a b Halliday,D.; Resnick, R.; Walker,J.; Fundamentos de Física 2, Livros Técnicos e Científicos Editora, Rio de Janeiro, 2012
  6. Toffoli, Leopoldo. «Princípio de Arquimedes». Infoescola. Consultado em 10 de novembro de 2018 

Ligações externas

  • Hidrostática em www.fisica.net
  • Hidrostática - C.A. Bertulani - Ensino de Física a Distância - www.if.ufrj.br
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