Iri-Hor

Iri-Hor
Iri-Hor
Sereque do tipo IXa.2.
Museu Petrie de Arqueologia Egípcia
Faraó no Alto Egito
Antecessor(a) Falcão Duplo?
Sucessor(a) Cá?
 
Sepultado em B1/B2, Umel Caabe, Abidos
Dinastia 0
Religião Politeísmo egípcio
Titularia
Nome
G5
D21
Título

Iri-Hor ou Ro (como lido por Flinders Petrie[1]) foi um faraó do Antigo Egito, que reinou em data incerta durante Nacada IIIb (3220/3200–3150 a.C.).[2] Sua existência foi debatida com o egiptólogo Toby Wilkinson contestando a leitura e significado de seu nome. Porém, novas escavações em Abidos nos anos 80 e 90[3][4][5] e a descoberta em 2012 de uma inscrição dele no Sinai confirmaram sua existência.

Nome

O nome Iri-Hor é escrito com o hieróglifo do falcão Hórus (sinal G5 de Gardiner) acima de um hieróglifo da boca (Gardiner D21). Enquanto a leitura moderna do nome é "Iri-Hor", Flinders Petrie, que descobriu e escavou o túmulo no final do século XIX, leu-o "Ro", que era a leitura usual do hieróglifo da boca à época.[6][7] Dada a natureza arcaica do nome, a tradução mostrou-se difícil e, na ausência de melhor alternativa, Ludwig D. Morenz propôs que a tradução literal fosse retida dando "Boca de Hórus".[8] Na década de 1990, Werner Kaiser e Günter Dreyer traduzem o nome de Iri-Hor como "Companheiro de Hórus".[3] Toby Wilkinson, que contestou que Iri-Hor era rei, traduziu os sinais como "Propriedade real".[9] Após as escavações em Abidos e a descoberta de uma inscrição de Iri-Hor no Sinai em 2012, a hipótese de Wilkinson é agora rejeitada pela maioria dos egiptólogos e Iri-Hor é amplamente aceita como um rei pré-dinástico.[10][11][12]

Os egiptólogos Jürgen von Beckerath e Peter Kaplony também inicialmente rejeitaram a identificação do rei e propuseram que as inscrições conhecidas se referissem a uma pessoa privada cujo nome é para ser lido Uer-Rá (em egípcio: wr-r3; lit. "Grande Boca"), ou seja, a leitura do pássaro acima do sinal da boca como o hieróglifo da andorinha G36 em vez do falcão Hórus. Eles traduziram o nome como "porta-voz" ou "chefe".[13] Porém, as contínuas escavações da tumba de Iri-Hor em Abidos por Günter Dreyer estabeleceram que ela tinha dimensões e arranjos semelhantes aos de Cá e Narmer e, portanto, deviam pertencer a um rei. Isto foi consequentemente aceito por von Beckerath que o incluiu como primeira entrada na última edição de seu Manual dos Faraós Egípcios.[14]

Identidade

Controvérsia

Selo de barro
Sereque do tipo IXa.1

Até 2012, o nome de Iri-Hor não foi achado em ou perto a um sereque, então sua identificação como rei foi controversa. Os egiptólogos Flinders Petrie, Laurel Bestock[7] e Jochem Kahl,[15] contudo, acreditavam que era de fato um verdadeiro governante. Eles apontaram à grafia distinta do nome dele: o falcão de Hórus segura o hieróglifo da boca em suas garras. Em vários selos de barro, o grupo aparece acompanhado de um segundo hieróglifo independente de boca. Esta notação é uma reminiscência de numerosos sereques anônimos mantidos por um falcão Hórus com hieróglifos individuais colocados próximos a ele e não dentro, como seria de se esperar. Finalmente, o sereque poderia ter sido uma convenção que começou com Cá, cujo nome foi encontrado com e sem um sereque. Assim, concluíram que o argumento de que não era um rei porque seu nome nunca foi encontrado num sereque era insuficiente.[7]

Os defensores da identificação de Iri-Hor como rei, como o egiptólogo Darell Baker, também apontaram para o tamanho e localização de seu túmulo. É uma tumba dupla, tão grande quanto a de Cá e Narmer, localizada dentro de uma ordem sequencial que liga o antigo Cemitério U protodinástico (3200–3100 a.C.) com os túmulos da I dinastia (3100–2890 a.C.).[16] Além disso, o nome dele está inscrito num grande jarro exibindo o falcão real de Hórus e é semelhante aos encontrados nos túmulos de outros reis desse período.

Em contraste, alguns egiptólogos duvidavam que Iri-Hor existisse, precisamente porque seu nome nunca apareceu num sereque, com Hórus sendo simplesmente colocado acima do sinal da boca. Ludwig D. Morenz e Kurt Heinrich Sethe duvidaram da leitura do nome de Iri-Hor e, portanto, que era um rei. Morenz, por exemplo, suspeitava que o sinal bucal pudesse simplesmente ter sido um complemento fonético para Hórus.[8] Sethe entendeu o grupo como indicação de origem (do conteúdo de um jarro e outros bens aos quais os selos de barro eram geralmente presos). Toby Wilkinson descartou a tumba atribuída a ele como um depósito e o nome como uma marca do tesouro. De fato, r-Ḥr pode simplesmente significar propriedade do rei.[9][17] Apoiando sua hipótese, Wilkinson também notou que foi mal atestado e, até 2012, a única inscrição de fora de Abidos estava localizada no Baixo Egito em Zauiate Ariane.[18]

Resolução

As escavações de Dreyer na necrópole de Abidos revelaram que Iri-Hor estava de fato bem atestado com mais de 27 objetos com seu nome e que seu túmulo era de proporções reais.[19] Além disso, em 2012 uma inscrição mencionando-o foi descoberta no Sinai e nela há um sereque arcaico vazio à direita do nome de Iri-Hor. A inscrição menciona a cidade de Mênfis, colocando sua fundação antes de Narmer e estabelecendo que Iri-Hor já estava reinando sobre ela. Com isso, a maioria dos egiptólogos, incluindo Günter Dreyer e os descobridores da inscrição, Pierre Tallet e Damien Laisney, acreditam agora que era de fato um rei.[10]

Reinado e atestações

Seu nome, como aparece em Abidos

Iri-Hor era provavelmente o antecessor imediato de Cá[20] e assim reinaria durante o início do século XXXII a.C.. Ele provavelmente governou de Hieracômpolis sobre Abidos e a região mais tinita mais ampla e controlou o Egito pelo menos até o norte de Mênfis, uma vez que a inscrição em rocha do Sinai relata uma visita de Iri-Hor a esta cidade.[21] Os egiptólogos Tallet e Laisney propõem ainda que também controlasse partes do delta do Nilo.[10]

Foi enterrado no cemitério real de Umel Caabe perto de Cá, Narmer e os reis da I dinastia. Seu nome aparece em vasos de barro de seu túmulo em Abidos e um selo de argila com os hieróglifos para r-Ḥr foi encontrado no túmulo de Narmer e pode se referir a ele. No total, não menos de 22 potes de cerâmica gravados com seu nome estão em Abidos, bem como pelo menos cinco fragmentos com tinta e um selo.[19] Um selo similar também foi encontrado ao norte na tumba Z 401 de Zauiate Ariane no Baixo Egito.[3][16] A incisão num fuso localizado em Hieracômpolis durante as escavações de James Quibell e Petrie em 1900 pode ser sua.[18][22] Finalmente, a descoberta da inscrição do Sinai, constitui seu atestação mais setentrional. A inscrição mostra seu nome num barco, ao lado da palavra Inebe-Hedje que significa "muros brancos", o antigo nome de Mênfis.[10]

Tumba B1/B2

Tumba

O túmulo de Iri-Hor é o mais antigo da necrópole B de Abidos no Umel Caabe.[18] Compreende duas câmaras subterrâneas separadas B1 (6m × 3.5m) e B2 (4.3m × 2.45m) escavadas por Petrie em 1899 e depois por Werner Kaiser.[1][23] Uma nova câmara, "B0", foi achada na reescavação dos anos 90.[16] As câmaras têm tamanho semelhante às de Cá e Narmer. Qualquer superestrutura, se é que existiu alguma, sobreviveu. A câmara B1 produziu fragmentos de jarros com o seu nome.[18] A câmara B2 produziu outro fragmento de jarra incisa, uma impressão de selo, várias inscrições de tinta e fragmentos de recipiente que levam os nomes de Cá e Narmer. Partes de uma cama também foram encontradas no local.[3]

Referências

  1. a b Petrie 1900, p. 29-30.
  2. Raffaele 2002.
  3. a b c d Dreyer 1982, p. 211–246.
  4. Dreyer 1993, p. 56.
  5. Dreyer 1996, p. 48-57 e taf. 9.
  6. Petrie 1902, p. 4-6.
  7. a b c Bestock 2009, p. 16, 17, 21 & 28.
  8. a b Morenz 2004, p. 88.
  9. a b Wilkinson 1993, p. 91–93.
  10. a b c d Tallet 2012, p. 385-386.
  11. van den Brink 1996, p. 140-158, pl.s 24-32.
  12. van den Brink 2001, p. 46-51.
  13. Kaplony 1964, p. 468.
  14. Beckerath 1999, p. 9 e 36-37.
  15. Kahl 1996, p. 96-101.
  16. a b c Baker 2008, p. 156.
  17. Wilkinson 1999, p. 19, 55 & 234.
  18. a b c d Raffaele 2003.
  19. a b van den Brink 2008, p. 655-659.
  20. Barta 1982, p. 11–13.
  21. Jarus 2016.
  22. Quibell 1900, placa 63.1.
  23. Kaiser 1964, p. 86-124.

Bibliografia

  • Baker, Darrell D. (2008). The Encyclopedia of the Pharaohs: Volume I - Predynastic to the Twentieth Dynasty 3300–1069 BC. Londres: Stacey International. ISBN 978-1-905299-37-9 
  • Barta, Winfried (1982). «Zur Namensform und zeitlichen Einordnung des Königs Ro». GM. 53 
  • Beckerath, Jürgen von (1999). Handbuch der ägyptischen Königsnamen, Münchner ägyptologische Studien 49 ed. Mogúncia: P. von Zabern. ISBN 3-8053-2591-6 
  • Bestock, Laurel (2009). The Development of Royal Funerary Cult at Abydos. Two Funerary Enclosures from the Reign of Aha. Viesbade: Harrassowitz 
  • Dreyer, Günter; Kayser, W. (1982). «Umm el-Qaab. Nachuntersuchungen im frühzeitlichen Königsfriedhof. 2. Vorbericht». Instituto Arqueológico Alemão do Cairo. 38  A referência emprega parâmetros obsoletos |coautor= (ajuda)
  • Dreyer, Günter; Kayser, W. (1993). «Umm el-Qaab. Nachuntersuchungen im frühzeitlichen Königsfriedhof 5./6. Vorbericht». Instituto Arqueológico Alemão do Cairo. 49  A referência emprega parâmetros obsoletos |coautor= (ajuda)
  • Dreyer, Günter; Kayser, W. (1996). «Umm el-Qaab. Nachuntersuchungen im frühzeitlichen Königsfriedhof 7./8. Vorbericht». Instituto Arqueológico Alemão do Cairo. 52  A referência emprega parâmetros obsoletos |coautor= (ajuda)
  • Jarus, Owen (2016). «Early Egyptian Queen Revealed in 5,000-Year-Old Hieroglyphs». Live Science 
  • Kahl, Jochem (1996). Das System der ägyptischen Hieroglyphenschrift in der 0.-3. Dynastie. Viesbade: Harrassowitz 
  • Kaiser, Werner (1964). «Einige Bemerkungen zur ägyptischen Frühzeit». Zeitschrift für Ägyptische Sprache und Altertumskunde. 9 
  • Kaplony, Peter (1964). Inschriften der Ägyptischen Frühzeit Vol. I. Viesbade: Harrassowitz 
  • Morenz, Ludwig D. (2004). Bild-Buchstaben und symbolische Zeichen: die Herausbildung der Schrift in der hohen Kultur Altägyptens. Friburgo, Suíça: Academic Press Fribourg 
  • Petrie, Flinders (1900). The Royal tombs of the earliest dynasties. Londres: Fundo de Exploração do Egito 
  • Petrie, Flinders (1902). Abydos: Part I. Londres: Fundo de Exploração do Egito 
  • Quibell, James Edward; Petrie, Flinders (1900). Hierakonpolis. Part I. Plates of discoveries in 1898 by J. E. Quibell, with notes by W. M. F. Petrie. Londres: Sociedade de Exploração do Egito  A referência emprega parâmetros obsoletos |coautor= (ajuda)
  • Raffaele, Francesco (2002). «Dinastia 00» 
  • Raffaele, Francesco (2003). «Dinastia 0» 
  • Tallet, Pierre (2012). «Iry-Hor et Narmer au Sud-Sinai (Ouadi 'Ameyra). Un complément à la chronologie das expéditions minières égyptiennes». Cairo. Boletim do Instituto Francês de Arqueologia Oriental. 112 
  • van den Brink, Edwin (1996). «The incised serekh signs of Dynasties 0-1. Part I: complete vessels». In: Spencer, J. Aspects of Early Egypt. Londres: Imprensa do Museu Britânico. ISBN 978-0714109992 
  • van den Brink, Edwin (2001). «The Pottery-Incised Serekh-Signs of Dynasties 0-1. Part II: Fragments and Additional Complete Vessels». Archeo-Nil (11) 
  • van den Brink, Edwin (2008). «Two Pottery Jars Incised with the Name of Iry-Hor from Tomb B1 at Umm El-Ga'ab, Abydos». In: Dreyer, Günter; Müller, Vera; Hartung, Ulrich. Zeichen aus dem Sand, Streiflichter aus Ägyptens Geschichte zu Ehren. Viebade: Imprensa do Museu Britânico. ISBN 978-3-447-05816-2  !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de editores (link)
  • Wilkinson, Toby (1993). «The identification of Tomb B1 at Abydos: refuting the existence of a king 'Ro/Iry-Hor'». London: Sociedade de Exploração do Egito. Journal of Egyptian Archaeology. 79. ISSN 0307-5133 
  • Wilkinson, Toby A. H. (1999). Early Dynastic Egypt. Londres e Nova Iorque: Routledge. ISBN 0415186331 
  • v
  • d
  • e
Faraós (masculino • feminino ♀) • incerto/regente
Protodinastia até 1.º Período Intermediário (c.–3150 a.C.2040)
Protodinastia
(3500–3150 a.C.)
Baixo Egito
Alto Egito
Época Tinita
(3150–2686 a.C.)
I dinastia
II dinastia
Império Antigo
(2686–2181 a.C.)
III dinastia
IV dinastia
V dinastia
VI dinastia
1.º Período Intermediário
(2181–2040 a.C.)
VII/VIII dinastias
IX dinastia
X dinastia
Império Médio
(2040–1802 a.C.)
XI dinastia
Núbia
  • Seguerseni
  • Cacaré Ini
  • Iibequentré
XII dinastia
2.º Período Intermediário
(1802–1550 a.C.)
XIII dinastia
XIV dinastia
  • Iaquebim
  • Iaamu
  • Caré
  • Amu
  • Xexi
  • Neesi
  • Catiré
  • Nebfauré
  • Seebré
  • Merjefaré
  • Seaudicaré III
  • Nebedejefaré
  • Uebenré
  • Sequedejefaré
  • Jedecuebenré
  • Autibré
  • Heribré
  • Nebsenré
  • Sequeperenré
  • Jequeruré
  • Seanquibré
  • Canefertemeré
  • Sequenré
  • Caquemuré
  • Neferibré
  • Caré
  • Ancaré
  • Semenré
  • Jedecaré
  • Hepu
  • Anati
  • Bebeném
  • Apepi
XV dinastia
XVI dinastia
  • Senebecai
  • Anater
  • Useranate
  • Senquém
  • Uasa
  • Zaquete
  • Car
  • Pepi III
  • Bebanque
  • Nebemaré
  • Nicaré II
  • Aotepré
  • Aneteriré
  • Nubanqueré
  • Nubuserré
  • Causerré
  • Iacube-Baal
  • Iaquebam
  • Ioam
  • Amu
XVII dinastia
  • Intefe V
  • Raotepe
  • Sebequensafe I
  • Mentuotepe VII
  • Nebirau I
  • Nebirau II
  • Semenenra
  • Sebequensafe II
  • Intefe VI
  • Intefe VII
  • Tao I
  • Tao II
  • Camés
Império Novo
(1550–1070 a.C.)
XVIII dinastia
XIX dinastia
XX dinastia
XXI dinastia
XXII dinastia
XXIII dinastia
XXIV dinastia
XXV dinastia
Época Baixa até Período Ptolemaico (664–30 a.C.)
Época Baixa
(664–332 a.C.)
XXVI dinastia
XXVII dinastia (persas)
XXVIII dinastia
XXIX dinastia
XXX dinastia
XXXI dinastia (persas)
Época greco-romana
(332–30 a.C.)
Dinastia macedônica
Dinastia ptolemaica
Na dinastia ptolemaica, as mulheres dos faraós governavam junto com seus maridos.