Movimento harmônico simples

Mecânica clássica
Diagramas de movimento orbital de um satélite ao redor da Terra, mostrando a velocidade e aceleração.
Cinemática
  • v
  • d
  • e

O movimento harmônico simples (MHS) é o movimento oscilatório periódico ocorrido quando a aceleração e a força resultante são proporcionais e opostas ao deslocamento. É um tipo de frequência do movimento, onde oscila a massa.[1] É explicável por um modelo matemático para alguns movimentos vibratórios observáveis em alguns fenômenos (pêndulo ou vibração molecular).[2]

Num modelo físico construído com molas, o movimento harmônico simples é observável em massas presas a uma mola ligada a um suporte rígido, como uma parede. Se o sistema está na posição de repouso, diz-se em equilíbrio estático.[1] No entanto, se a massa é deslocada a partir da posição de equilíbrio, uma reposição da mesma vai ser exercida pela mola, chamada de elasticidade, seguindo assim a lei de Hooke.[3]

Matematicamente, a força resultante F é dada a partir de F = k x , {\displaystyle \mathbf {F} =-k\mathbf {x} ,} onde F é uma força elástica exercida por uma mola (no SI: Newton N, k na Lei de Hooke (N·m−1), e x que é o deslocamento a partir da posição de equilíbrio (em m).[1] Contudo, para qualquer movimento harmônico simples, determina-se que quando o sistema é deslocado de sua posição de equilíbrio, uma força restauradora que obedece à lei de Hooke tende a restaurar o sistema para esse equilíbrio. Uma vez que a massa é deslocada da sua posição de equilíbrio, experimenta uma força resultante de restauração. Como resultado, ela acelera e começa a voltar à posição de equilíbrio.

Quando a massa se ​​aproxima da posição de equilíbrio, a força restauradora diminui. Na posição de equilíbrio, a força resultante restaurada desaparece. No entanto, em x= 0, a força da massa não desaparece devido ao impulso da força restauradora que agiu sobre ele. Portanto, a massa continua além da posição de equilíbrio, comprimindo a mola. Então, a força resultante restaurada tende a desacelerar, até a sua velocidade desaparecer, tentando chegar novamente à posição de equilíbrio.[1]

Dinâmica

O movimento harmônico simples mostra que no espaço real (real space) e no espaço fásico (phase space) a órbita é periódica (aqui a velocidade e a posição dos eixos foi revertida a partir da convenção padrão, a fim de alinhar os dois diagramas).
A posição, a velocidade e a aceleração de uma oscilação harmônica

Para o movimento harmônico simples unidimensional, a equação dos movimentos é aplicada à segunda lei linear com uma equação diferencial ordinária com seus coeficientes constantes, a partir da segunda lei de Newton e da lei de Hooke.

F n e t = m d 2 x d t 2 = k x , {\displaystyle F_{net}=m{\frac {\mathrm {d} ^{2}x}{\mathrm {d} t^{2}}}=-kx,}

onde m é a massa inercial com a oscilação do corpo, x é o vetor de deslocamento para o equilíbrio estático e k é a constante elástica, sendo:

d 2 x d t 2 = ( k m ) x {\displaystyle {\frac {\mathrm {d} ^{2}x}{\mathrm {d} t^{2}}}=-\left({\frac {k}{m}}\right)x}

Abaixo, uma resolução da equação diferencial, obtendo-se um senoide como solução:

A posição, a velocidade e a aceleração do movimento harmônico simples e as suas fases

x ( t ) = c 1 cos ( ω t ) + c 2 sin ( ω t ) = A cos ( ω t φ ) , {\displaystyle x(t)=c_{1}\cos \left(\omega t\right)+c_{2}\sin \left(\omega t\right)=A\cos \left(\omega t-\varphi \right),} onde

ω = k m , {\displaystyle \omega ={\sqrt {\frac {k}{m}}},}
A = c 1 2 + c 2 2 , {\displaystyle A={\sqrt {{c_{1}}^{2}+{c_{2}}^{2}}},}
tan φ = ( c 2 c 1 ) , {\displaystyle \tan \varphi =\left({\frac {c_{2}}{c_{1}}}\right),}

Na solução, c1 e c2 são duas constantes determinadas nas condições iniciais e a sua origem está levando a uma posição de equilíbrio. Cada uma destas constantes leva a um padrão físico ao movimento: A é a amplitude (deslocamento máximo da posição de equilíbrio), ω = 2 π f {\displaystyle \omega =2\pi f} é a sua frequência angular, e φ é uma fase. Usando as técnicas do cálculo diferencial, a velocidade e a aceleração têm uma das seguintes funções de tempo:

v ( t ) = d x d t = A ω sen ( ω t φ ) , {\displaystyle v(t)={\frac {\mathrm {d} x}{\mathrm {d} t}}=-A\omega \operatorname {sen}(\omega t-\varphi ),}
a ( t ) = d 2 x d t 2 = A ω 2 cos ( ω t φ ) . {\displaystyle a(t)={\frac {\mathrm {d} ^{2}x}{\mathrm {d} t^{2}}}=-A\omega ^{2}\cos(\omega t-\varphi ).}

A aceleração pode ser expressado pela função de deslocamento:

a ( x ) = ω 2 x . {\displaystyle a(x)=-\omega ^{2}x.\!}

Já que ω = 2 π f {\displaystyle \omega =2\pi f} ,

f = 1 2 π k m , {\displaystyle f={\frac {1}{2\pi }}{\sqrt {\frac {k}{m}}},}

e que T = 1/f onde T é o período de tempo,

T = 2 π m k . {\displaystyle T=2\pi {\sqrt {\frac {m}{k}}}.}

Estas equações demonstram que o movimento simples harmônico é isócrono (o período e a frequência são independentes da amplitude e da fase inicial do movimento).[1]

Energia

A energia cinética K de um sistema em função do tempo t é:

K ( t ) = 1 2 m v 2 ( t ) = 1 2 m ω 2 A 2 sen 2 ( ω t φ ) = 1 2 k A 2 sen 2 ( ω t φ ) , {\displaystyle K(t)={\frac {1}{2}}mv^{2}(t)={\frac {1}{2}}m\omega ^{2}A^{2}\operatorname {sen} ^{2}(\omega t-\varphi )={\frac {1}{2}}kA^{2}\operatorname {sen} ^{2}(\omega t-\varphi ),}

e a energia potencial é:

U ( t ) = 1 2 k x 2 ( t ) = 1 2 k A 2 cos 2 ( ω t φ ) . {\displaystyle U(t)={\frac {1}{2}}kx^{2}(t)={\frac {1}{2}}kA^{2}\cos ^{2}(\omega t-\varphi ).}

A adição entre a energia cinética e potencial no cálculo da energia mecânica é medida por:

E = K + U = 1 2 k A 2 . {\displaystyle E=K+U={\frac {1}{2}}kA^{2}.} .[4]

Aplicações

Abaixo tem alguns exemplos de sistemas que usam o movimento harmônico simples:

Massa na mola sob ação da gravidade

Um sistema de massa-mola não-amortecida passa por um movimento harmônico simples.

Considere um bloco de massa m equilibrado por uma mola constante k sob ação da gravidade. Na situação de equilíbrio, a força gravitacional e a força elástica se igualam. Matematicamente, k ( y y 0 ) = m g {\displaystyle k(y-y_{0})=-mg} , onde y 0 {\displaystyle y_{0}} é a posição natural da mola e g {\displaystyle g} é a aceleração devido à gravidade. Note que y = y 0 {\displaystyle y=y_{0}} se g = 0 {\displaystyle g=0} conforme se espera. Assim, a posição de equilíbrio se desloca por uma distância m g / k {\displaystyle mg/k} .

O que ocorre quando o sistema é deliberadamente retirado da posição de equilíbrio e depois abandonado? A força exercida pela mola atua no sentindo de restaurar à posição natural: assim o objeto oscila verticalmente. Pela segunda lei de Newton podemos escrever

m y ¨ = m g k ( y y 0 ) {\displaystyle m{\ddot {y}}=-mg-k(y-y_{0})}

onde y ¨ {\displaystyle {\ddot {y}}} é a aceleração (vertical) da mola e y 0 {\displaystyle y_{0}} é a posição natural (onde a força restauradora é nula). A força gravitacional sempre em direção ao solo enquanto a força da mola só aponta para o solo se y > y 0 {\displaystyle y>y_{0}} .

Podemos simplificar através de uma mudança de variável. Seja k Y = m g + k ( y y 0 ) {\displaystyle kY=mg+k(y-y_{0})} , então a segunda derivada (aceleração) é Y ¨ = y ¨ {\displaystyle {\ddot {Y}}={\ddot {y}}} , pois todos os demais termos são constantes. Assim, a equação se transforma na equação do movimento harmônico simples:

m Y ¨ = k Y {\displaystyle m{\ddot {Y}}=-kY} .

Nesta variável o movimento é harmônico simples com período T = 2 π m k {\displaystyle T=2\pi {\sqrt {\frac {m}{k}}}} . Desta maneira, evidencia-se que o período de oscilação é independente tanto da amplitude quanto da aceleração gravitacional. Vamos supor que as condições iniciais sejam tais que

Y ( t ) = Y ( 0 ) cos ( ω t ) {\displaystyle Y(t)=Y(0)\cos(\omega t)} ,

onde Y ( 0 ) {\displaystyle Y(0)} é a amplitude e w = 2 π / T {\displaystyle w=2\pi /T} é a frequência angular da oscilação. Para saber como o bloco se desloca no mundo físico devemos voltar para a variável inicial y ( t ) {\displaystyle y(t)} . Assim

y ( t ) = Y ( t ) + ( y 0 m g k ) = Y ( 0 ) cos ( ω t ) + ( y 0 m g k ) {\displaystyle y(t)=Y(t)+{\biggl (}y_{0}-{\frac {mg}{k}}{\biggr )}=Y(0)\cos(\omega t)+{\biggl (}y_{0}-{\frac {mg}{k}}{\biggr )}}

é a equação de movimento de um bloco oscilando devido à força elástica de uma mola sob ação da gravidade.

A conclusão é que (1) o movimento tem o mesmo período independente da amplitude e da gravidade[1], e (2) o bloco oscila com amplitude Y ( 0 ) {\displaystyle Y(0)} , mas entre os pontos y m a x = ( y 0 m g k ) + Y ( 0 ) {\displaystyle y_{max}={\biggl (}y_{0}-{\frac {mg}{k}}{\biggr )}+Y(0)} e y m i n = ( y 0 m g k ) Y ( 0 ) {\displaystyle y_{min}={\biggl (}y_{0}-{\frac {mg}{k}}{\biggr )}-Y(0)} .

Movimento circular uniforme

O movimento harmônico simples pode ser muitas vezes considerado como uma projeção matemática do movimento circular uniforme. Se um objeto se movimenta com uma velocidade angular ω ao redor de um círculo de um raio r centralizado de uma origem de um plano de x-y, este movimento é em cada coordenada um movimento simples harmônico com uma amplitude r e uma frequência angular ω.[1]

Pêndulo simples em regime de pequenas oscilações

O movimento de um pêndulo não-amortecida aproxima para o movimento simples harmônico se a amplitude é muito pequena relativo do comprimento L da haste.

Considere um objeto preso a uma haste inextensível oscilando sob ação da força gravitacional. A este sistema denominamos Pêndulo Simples. De maneira geral, atuam sob o objeto a força T {\displaystyle T} de tração da haste, que o mantém oscilando em um arco de círculo a uma distância fixa L {\displaystyle L} do ponto fixo que prende a haste ao teto; e também a força gravitacional m g {\displaystyle mg} . Decompomos a força gravitacional de forma que conhecemos a componente na direção da força de tração, que nos fornece T = m g cos ( θ ) {\displaystyle T=mg\cos(\theta )} , e também a componente responsável pelo movimento

F = m g sin ( θ ) {\displaystyle F=-mg\sin(\theta )}

Assim, a força restaura o objeto para a situação de ângulo nulo, θ = 0 {\displaystyle \theta =0} , mas o problema se torna mais difícil por tratar com uma função trigonométrica.

Iremos então tomar um caso especial, a situação de pequenos ângulos. Neste caso, sin ( θ ) θ {\displaystyle \sin(\theta )\approx \theta } e eliminamos a função trigonométrica. Note que a distância horizontal é dada por x = L sin ( θ ) L θ {\displaystyle x=L\sin(\theta )\approx L\theta } de forma que neste regime (e apenas neste regime), podemos escrever:

F = m g θ = ( m g L ) x {\displaystyle F=-mg\theta =-{\biggl (}{\frac {mg}{L}}{\biggr )}x} .

Compare esta expressão à Lei de Hooke. Um pêndulo simples é equivalente a um oscilador linear. A constante k {\displaystyle k} de reconstituição seria igual à m g / L {\displaystyle mg/L} . Substituindo o valor de k {\displaystyle k} na fórmula do período de um movimento harmônio simples se obtém

T = 2 π m k {\displaystyle T=2\pi {\sqrt {\frac {m}{k}}}} ,

T = 2 π m m g / L {\displaystyle T=2\pi {\sqrt {\frac {m}{mg/L}}}} ,

T = 2 π L g {\displaystyle T=2\pi {\sqrt {\frac {L}{g}}}} [1].

Resumidamente, para deduzir a equação do período, estabelece-se que o ângulo θ descrito pelo pêndulo de sua posição de repouso até sua amplitude máxima seja menor que 10°, assim é possível aproximar o valor do ângulo com seu seno.

Reescrevendo as equações do movimento harmônico simples para torná-las mnemônicas

Aplicação Variáveis Fórmula
Massa na mola K , m {\displaystyle K,m} K = m ω 2 {\displaystyle K=m\omega ^{2}}
Aceleração centrípeta a , A {\displaystyle a,A} a = A ω 2 {\displaystyle a=A\omega ^{2}}
Pêndulo g , L {\displaystyle g,L} g = L ω 2 {\displaystyle g=L\omega ^{2}} [1]
Oscilador LC L , C {\displaystyle L,C} 1 = L C ω 2 {\displaystyle 1=LC\omega ^{2}}
Oscilador RLC paralelo R , L , C {\displaystyle R,L,C} 1 = L C ( ω 2 + ( R 2 L ) 2 ) {\displaystyle 1=LC\left(\omega ^{2}+\left({\frac {R}{2L}}\right)^{2}\right)}
R , L , C {\displaystyle R,L,C} ω 2 = 1 L C ( R 2 L ) 2 {\displaystyle \omega ^{2}={\frac {1}{LC}}-\left({\frac {R}{2L}}\right)^{2}}


Ver também

Referências

  1. a b c d e f g h i TIPLER, Paul; MOSCA, Gene (2009). Física para cientistas e engenheiros 6 ed. Rio de Janeiro: LTC. p. 466. ISBN 978-85-216-1710-5  !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
  2. WALKER, Jearl (2011). Principles of physics 9 ed. Hoboken: Wiley. ISBN 0-470-56158-0 
  3. TIPLER, Paul; MOSCA, Gene (2009). Física para cientistas e engenheiros 6 ed. Rio de Janeiro: LTC. p. 114. ISBN 978-85-216-1710-5  !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
  4. Jain 2009, p. 12
  • Portal da física
  • Portal da ciência
Controle de autoridade
  • Wd: Q835975
  • BRE: 2344963
  • EBID: ID
  • JSTOR: simple-harmonic-motion