Teorema de Donsker

Em teoria da probabilidade, o teorema de Donsker (também conhecido como princípio da invariância de Donsker, ou teorema central do limite funcional), em homenagem ao matemático Monroe D. Donsker, é uma extensão funcional do teorema central do limite.[1]

Definição formal

Seja X 1 , X 2 , X 3 , {\displaystyle X_{1},X_{2},X_{3},\ldots }  uma sequência de variáveis aleatórias independentes e identicamente distribuídas (i.i.d.) com média 0 e variância 1. Seja S n := i = 1 n X i {\displaystyle S_{n}:=\sum _{i=1}^{n}X_{i}} . O processo estocástico S := ( S n ) n N {\displaystyle S:=(S_{n})_{n\in \mathbb {N} }} é conhecido como um passeio aleatório. Definindo o passeio aleatório escalado por

W ( n ) ( t ) := S n t n , t [ 0 , 1 ] . {\displaystyle W^{(n)}(t):={\frac {S_{\lfloor nt\rfloor }}{\sqrt {n}}},\qquad t\in [0,1].}

O teorema central do limite afirma que  W ( n ) ( 1 ) {\displaystyle W^{(n)}(1)} converge em distribuição para uma variável aleatória gaussiana padrão  W ( 1 ) {\displaystyle W(1)} conforme  n {\displaystyle n\to \infty } . O princípio da invariância de Donsker[1][2] extende essa convergência para toda a função  W ( n ) := ( W ( n ) ( t ) ) t [ 0 , 1 ] {\displaystyle W^{(n)}:=(W^{(n)}(t))_{t\in [0,1]}} . Mais precisamente, em sua forma moderna, o princípio da invariância de Donsker afirma que: com variáveis aleatórias tomando valores no espaço de Skorokhod  D [ 0 , 1 ] {\displaystyle {\mathcal {D}}[0,1]} , a função aleatória  W ( n ) {\displaystyle W^{(n)}} converge em distribuição para um movimento browniano padrão  W := ( W ( t ) ) t [ 0 , 1 ] {\displaystyle W:=(W(t))_{t\in [0,1]}} conforme n . {\displaystyle n\to \infty .}

Seja  F n {\displaystyle F_{n}}  a função distribuição empírica da sequência das variáveis aleatórias i.i.d.  X 1 , X 2 , X 3 , {\displaystyle X_{1},X_{2},X_{3},\ldots } com função de distribuição F {\displaystyle F} . Definindo a versão centrada e reduzida de F n {\displaystyle F_{n}} por

G n ( x ) = n ( F n ( x ) F ( x ) ) {\displaystyle G_{n}(x)={\sqrt {n}}(F_{n}(x)-F(x))\,}

indexadas por x R {\displaystyle x\in \mathbb {R} } . Pelo teorema central do limite clássico, para x {\displaystyle x} fixo, a variável aleatória G n ( x ) {\displaystyle G_{n}(x)} converge em distribuição para uma variável aleatória gaussiana normal  G ( x ) {\displaystyle G(x)} , com média zero e variância de F ( x ) ( 1 ( F ( x ) ) {\displaystyle F(x)(1-(F(x))} conforme o tamanho da amostra n {\displaystyle n} cresce.

Teorema (Donsker, Skorokhod, Kolmogorov) — A sequência de Gn(x), como elementos aleatórios do espaço de Skorokhod  D ( , ) {\displaystyle {\mathcal {D}}(-\infty ,\infty )} , converge em distribuição para um processo gaussiano G com média zero e covariância dada por

cov [ G ( s ) , G ( t ) ] = E [ G ( s ) G ( t ) ] = min { F ( s ) , F ( t ) } F ( s ) F ( t ) . {\displaystyle \operatorname {cov} [G(s),G(t)]=E[G(s)G(t)]=\min\{F(s),F(t)\}-F(s)F(t).\,}

O processo G ( x ) {\displaystyle G(x)} pode ser escrito como B ( F ( x ) ) {\displaystyle B(F(x))} , onde B {\displaystyle B} é uma ponte browniana padrão no intervalo unitário.

História

Em 1933, Kolmogorov mostrou que, quando F {\displaystyle F} é contínuo, o supremo  sup t G n ( t ) {\textstyle \sup _{t}G_{n}(t)} e o supremo de valor absoluto, sup t | G n ( t ) | {\textstyle \sup _{t}|G_{n}(t)|} converge em distribuição para as leis dos mesmos funcionais da ponte browniana  B ( t ) {\displaystyle B(t)} . Doob, em 1949, perguntou se a convergência em distribuição se mantinha para funcionais mais gerais, assim formulando um problema de convergência fraca de funções aleatórias em um espaço de função adequado.[3]

Em 1952, Donsker afirmou e provou, apesar de com falhas,[4] uma extensão geral para a abordagem heurística de Doob-Kolmogorov. No artigo original, Donsker provou que a convergência na lei de G n {\displaystyle G_{n}}  para a ponte browniana se mantém para distribuições uniformes [ 0 , 1 ] {\displaystyle [0,1]}  com relação à convergência uniforme em t {\displaystyle t} sobre o intervalo [ 0 , 1 ] {\displaystyle [0,1]} .[2]

No entanto, a formulação de Donsker não estava totalmente correta, por conta do problema da mensurabilidade dos funcionais de processos descontínuos. Em 1956, Skorokhod e Kolmogorov definiram uma métrica separável  d {\displaystyle d} , chamada métrica de Skorokhod, no espaço de funções càdlàg em [ 0 , 1 ] {\displaystyle [0,1]} , tal que a convergência para d {\displaystyle d} para uma função contínua é equivalente a convergência para o supremo da norma, e mostrou que G n {\displaystyle G_{n}} converge na lei em  D [ 0 , 1 ] {\displaystyle {\mathcal {D}}[0,1]} para a ponte browniana.

Mais tarde, Dudley reformulou o resultado de Donsker para evitar o problema de mensurabilidade e a necessidade da métrica de Skorokhod. Pode-se provar[4] que existe  X i {\displaystyle X_{i}} , i.i.d. uniforme em [ 0 , 1 ] {\displaystyle [0,1]} e uma seqüência de pontes brownianas  B n {\displaystyle B_{n}}  de amostragem contínua, tais que

G n B n {\displaystyle \|G_{n}-B_{n}\|_{\infty }}

é mensurável e converge em probabilidade para 0. Uma versão melhorada deste resultado, que fornece mais detalhes sobre a taxa de convergência, é a aproximação de Komlós–Major–Tusnády.

Veja também

Referências

  1. a b Donsker, M.D. (1951). «An invariance principle for certain probability limit theorems». Memoirs of the American Mathematical Society, 1951, no. 6 
  2. a b Donsker, M. D. (1952). «Justification and extension of Doob's heuristic approach to the Kolmogorov–Smirnov theorems». Annals of Mathematical Statistics. 23: 277–281. MR 47288. Zbl 0046.35103. doi:10.1214/aoms/1177729445 
  3. Doob, Joseph L. (1949). «Heuristic approach to the Kolmogorov–Smirnov theorems». Annals of Mathematical Statistics. 20: 393–403. MR 30732. Zbl 0035.08901. doi:10.1214/aoms/1177729991 
  4. a b Dudley, R.M. (1999). Uniform Central Limit Theorems. [S.l.]: Cambridge University Press. ISBN 0-521-46102-2 
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