Transformada integral

Em matemática, uma transformada integral é qualquer transformação linear T da seguinte forma:

( T f ) ( u ) = t 1 t 2 f ( t ) K ( t , u ) d t . {\displaystyle (Tf)(u)=\int _{t_{1}}^{t_{2}}f(t)\,K(t,u)\,dt.}

A entrada desta transformada é uma função f, e o resultado é outra função Tf. Uma transformada integral é uma espécie particular de operadores matemáticos.

Em geral, cada transformada integral corresponde a uma diferente escolha da função K, que é chamada de kernel (ou núcleo) da transformada, e dos limites de integração t 1 {\displaystyle t_{1}} e t 2 {\displaystyle t_{2}} . A conveniência de cada transformada depende do tipo de problema abordado. Por exemplo, a Transformada de Laplace costuma ser mais conveniente para problemas com dependência temporal e a Transformada de Fourier mais conveniente para problemas com dependência espacial.

Aplicabilidade

A metodologia da transformada integral é uma entre as metodologias de grande valia empregadas na busca de soluções para equações diferenciais não triviais. Esta metodologia consiste em aplicar uma transformada integral específica a um determinado problema, reduzindo-o a um problema, em geral, mais simples de ser resolvido. Resolve-se o problema transformado e recupera-se a solução do problema original através da respectiva transformada inversa.

Constitui ferramenta de suma relevância em áreas envolvendo ciências naturais e tecnologia. Em um caso típico, durante a análise de circuitos, a transformada de Fourier permite que um dado sinal inicialmente expresso no domínio do tempo seja adequadamente transcrito para o domínio da frequência, fornecendo o espectro correspondente e permitindo, por exemplo, a compreensão dos filtros passa-faixa eletrônicos utilizados na separação de estações distintas nos rádios de difusão e nos transceptores.

A técnica de ressonância magnetonuclear emprega também transformadas integrais tridimensionais, a fim de, a partir do sinal coletado durante o exame, gerar a imagem direta do órgão, tecido ou objeto em foco. Sem tal recurso, geralmente levado a cabo em um computador, não se poderia obter as imagens características do exame, cujo princípio de funcionamento difere bastante de uma simples radiografia.

Como mais um exemplo, no estudo, projeto e manutenção de controladores proporcionais integrais derivativos (PID), empregados para controlar motores de servomecanismos específicos ou em plantas industriais as mais variadas - a exemplo na indústria automobilística - a transformada de Laplace mostra-se indispensável; e da mesma forma, cada uma das demais transformadas integrais é de grande valia em áreas que abarquem problemas modelados por equações diferenciais, cujas soluções atrelam-se às soluções físicas ou práticas almejadas ou observadas. Constituem valiosas ferramentas sobretudo para a física e engenharia.

Tabela

Tabela de Transformadas integrais
Transformada Símbolo Núcleo da transformada t1 t2
Transformada de Fourier

F {\displaystyle {\mathcal {F}}}

e i u t 2 π {\displaystyle {\frac {e^{iut}}{\sqrt {2\pi }}}}

{\displaystyle -\infty } {\displaystyle \infty }
Transformada de Mellin

M {\displaystyle {\mathcal {M}}}

t u 1 {\displaystyle t^{u-1}}

0 {\displaystyle 0} {\displaystyle \infty }
Transformada de Laplace bilateral

B {\displaystyle {\mathcal {B}}}

e u t {\displaystyle e^{-ut}}

{\displaystyle -\infty } {\displaystyle \infty }
Transformada de Laplace

L {\displaystyle {\mathcal {L}}}

e u t {\displaystyle e^{-ut}}

0 {\displaystyle 0} {\displaystyle \infty }
Transformada de Hankel

K {\displaystyle {\mathcal {K}}}

t J ν ( u t ) {\displaystyle t\,J_{\nu }(ut)}

0 {\displaystyle 0} {\displaystyle \infty }
Transformada de Abel

A {\displaystyle {\mathcal {A}}}

t t 2 u 2 {\displaystyle {\frac {t}{\sqrt {t^{2}-u^{2}}}}}

u {\displaystyle u} {\displaystyle \infty }
Transformada de Hilbert

H {\displaystyle {\mathcal {H}}}

1 π 1 u t {\displaystyle {\frac {1}{\pi }}{\frac {1}{u-t}}}

{\displaystyle -\infty } {\displaystyle \infty }
Transformada Identidade

I {\displaystyle {\mathcal {I}}}

δ ( u t ) {\displaystyle \delta (u-t)}

t 1 < u {\displaystyle t_{1}<u} t 2 > u {\displaystyle t_{2}>u}
Transformada de cosseno

C {\displaystyle {\mathcal {C}}}

2 c o s ( u t ) {\displaystyle 2cos(ut)}

0 {\displaystyle 0} {\displaystyle \infty }
Transformada de wavelet

W {\displaystyle {\mathcal {W}}}

[ 1 s w ( t u s ) ] {\displaystyle \left[{\frac {1}{\sqrt {s}}}\;w\left({\frac {t-u}{s}}\right)\right]^{*}} [nota 1]

{\displaystyle -\infty } {\displaystyle \infty }

Apesar de as propriedades das transformadas integrais variarem muito, elas têm algumas propriedades em comum. Por exemplo, qualquer transformada integral é um operador linear, uma vez que o integral é um operador linear e na verdade caso o kernel seja permitido ser uma função generalizada, então todos os operadores lineares são transformadas integrais (o teorema kernel de Schwartz é uma versão formalizada desta afirmação).

Núcleo da transformada

Em análise matemática, considere-se uma transformada integral T que transforma uma função f numa função Tf dada pela fórmula

( T f ) ( x ) = a b k ( x , y ) f ( y ) d y {\displaystyle (Tf)(x)=\int _{a}^{b}k(x,y)f(y)\,dy}

A função k(x,y) que aparece nesta fórmula é o núcleo (em inglês: kernel) do operador linear T.

Alguns núcleos possuem núcleos inversos K 1 ( u , t ) {\displaystyle K^{-1}(u,t)} onde (rigorosamente falando) rendem transformações inversas:

f ( t ) = u 1 u 2 K 1 ( u , t ) ( T f ( u ) ) d u . {\displaystyle f(t)=\int _{u_{1}}^{u_{2}}K^{-1}(u,t)\,(Tf(u))\,du.}

Um núcleo simétrico é um núcleo em que as duas variáveis são permutáveis. Hankel demonstrou que núcleos simétricos tais que

g ( u ) = ( T f ) ( t ) = 0 f ( t ) K ( u , t ) d t {\displaystyle g(u)\;=\;(Tf)(t)\;=\;\int _{0}^{\infty }f(t)\cdot K(u,t)\;dt}

e

f ( t ) = ( T 1 g ) ( u ) = 0 g ( u ) K ( u , t ) d u {\displaystyle f(t)\;=\;(T^{-1}g)(u)\;=\;\int _{0}^{\infty }g(u)\cdot K(u,t)\;du}

podem ser gerados a partir das expressões

K ( u , t ) = ( u t ) 1 2 J ν ( x s ) {\displaystyle K(u,t)\;=\;(ut)^{\frac {1}{2}}\cdot J_{\nu }(xs)}

ou

K ( u , t ) = t J ν ( x s ) {\displaystyle K(u,t)\;=\;t\cdot J_{\nu }(xs)}

O caso especial ν = 0 leva diretamente à Transformada de Hankel de ordem 0. O caso especial ν = ±½ leva aos núcleos 2cos(2πut) e 2sen(2πut), que estão relacionados à transformada de Hartley.[1]

Em geral, os núcleos são famílias de funções ortogonais, ou ainda, ortonormais.

A Transformada de Karhunen-Loève

As transformadas listadas na tabela acima possuem um núcleo bem definido. Uma transformada integral que não possui essa característica é transformada de Karhunen-Loève (KLT, do inglês Karhunen-Loève transform); neste caso, a base ortogonal usada no núcleo varia com a função a ser transformada. A KLT é importante do ponto de vista teórico porque demonstra-se que ela é ótima sob vários aspectos importantes para o processamento digital de sinais.[2]

História

Historicamente, a origem das transformadas integrais remonta ao trabalho de Laplace sobre a teoria da probabilidade, La Théorie Analytique des Probabilities, na década de 1780. Nesse livro aparece a transformada de Laplace, que é, assim, a transformada mais antiga de todas.

O próximo evento importante foi o tratado de Fourier, La Théorie Analytique de la Chaleur, de 1822. Nesse livro aparece o teorema integral de Fourier, bem como as séries e integrais de Fourier, e suas aplicações. Alguns dos resultados de Fourier já eram conhecidos por Laplace, Cauchy e Poisson.

Décadas depois, Heaviside utilizou a transformada de Laplace com sucesso na solução de equações diferenciais ordinárias e parciais relacionadas à análise de circuitos elétricos. Heaviside lançou mão também da idéia do uso de símbolos operadores, lançada por Leibniz e desenvolvida por depois por Lagrange e Laplace, e unindo essas técnicas, criou o que se conhece hoje como cálculo operacional, em seu artigo On Operational Methods in Physical Mathematics, em duas partes, publicadas em 1892 e 1893, e em seu livro Electromagnetic Theory, de 1899.

Apesar do sucesso na aplicação prática, o trabalho de Heaviside foi muito criticado pelos matemáticos por falta de provas rigorosas que justificassem alguns dos seus métodos heurísticos. Assim, seguiu-se um esforço para fornecer tais provas. Bromwich conseguiu provar alguns teoremas por meio da teoria das funções complexas. Seguiram-se as contribuições de Carson, van der Pol e Doetsch, entre outros.

Outras transformações integrais foram introduzidas por Mellin (a transformada de Mellin, já parcialmente conhecida por Riemann), Hankel (a transformada homônima), Hilbert (a transformada de Hilbert, desenvolvida por Hardy e Titchmarsh), Stieltjes (a transformada homônima), Radon (a transformada homônima) e outros. O estudo das transformadas integrais é intenso atualmente e novas transformações importantes foram descobertas recentemente, como é o caso da transformada de wavelet, enunciada por Morlet em 1982.[3]

Notas e referências

  1. O asterisco (*) denota o conjugado complexo. A função w é chamada wavelet mãe, e é escolhida de acordo com a aplicação em vista.

Ver também

Referências

  1. Bracewell, R. - The Fourier Transform And Its Applications, 3rd. Edition, New York: McGraw-Hill, 2000, Cap. 13, pp. 339-340,ISBN 978-0-1381-4757-0
  2. P. Yip - Sine and Cosine Transforms in A. Poularikas (org) - The Transforms and Applications Handbook, 2nd. edition, Boca Raton: CRC, 2000, Cap. 3, pag. 310
  3. L. Debnath, D. Bhatta - Integral Transforms and Their Applications, 2nd. Edition, 2007, Boca Raton, Chapman & Hall/CRC, ISBN 978-1-58488-575-7, Cap. 1, pp. 1 a 6